Apesar de terem nascido regidas pelo mesmo signo, as geminianas Simone e Simaria são muito diferentes. Uma não para de falar e é ligada no 220 volts e a outra só faz piada e é “mais descansada”. Mas, juntas, encontraram o ponto de equilíbrio para conquistar fãs Brasil afora
por Aline Vessoni fotos Pedro Dimitrow styling Rodrigo Polack beleza Max Weber
Simone e Simaria nasceram em uma família de cantores. Não desses profissionais, que ganham a vida com isso – e nem os de chuveiro, que definitivamente não poderiam ganhar a vida com isso. Mas, sobretudo, desses que cantam e dedilham descompromissadamente aquela moda de viola capaz de fazer chorar nos churrascos de família. “Por parte de pai, a família toda era muito afinada, todo mundo nasceu com esse dom. Era assim, tinha almoço na casa da tia e a galera sentava escutando um modão. Minha avó materna e minha mãe também têm a voz muito boa. É uma coisa de família”, conta Simone. Mas é claro que não bastava ter uma voz potente para alcançar o sucesso de hoje – são mais de 50 milhões de seguidores nas redes sociais juntando os perfis individuais e o da dupla, indicação ao Grammy Latino, apresentação do The Voice Kids, e por aí vai. Só precisou que alguém acreditasse no potencial das duas: seu Antônio e dona Mara. “Nossos pais levavam a gente pra show de calouros em diversas cidades do interior da Bahia e do Mato Grosso. Eu me lembro que meu pai só tinha uma camisa e um sapato que usava para essas ocasiões especiais. Ah, como queria comprar uma roupa nova e dar uma vida melhor para eles”, emociona-se Simaria.
Infelizmente, seu Antônio acabou falecendo antes de saber que bordões famosos inventados pelas filhas – vide, “Chora não, coleguinha” – seriam repetidos de norte a sul do país. Com a morte do marido, que era garimpeiro, dona Mara deixou os filhos com a mãe na Bahia e partiu para São Paulo para ganhar a vida. Enfrentou frio e fome na megalópole, mas, ao conseguir o primeiro trabalho, como empregada doméstica, mandou logo trazer as meninas para morar com ela. “Pouco tempo depois minha mãe foi mandada embora e Simaria começou a cantar com uma banda em São Bernardo do Campo. Ela ficou bancando a família sozinha por um bom tempo. Foi aí que o Frank [Aguiar] a conheceu e a chamou para fazer um teste na sua banda”, relembra Simone, que, dois anos após a irmã, também passou a integrar o grupo de forró dele. Simone e Simaria ficaram cinco e sete anos, respectivamente, como backing vocals da trupe. Veio então outra fase supercomplicada, em que a família vivia com R$ 200 por mês. Em seguida, integraram outra banda de forró em Fortaleza: “Dentro do show de forró, começamos a fazer o ‘bar das coleguinhas’. E virou uma loucura, porque mal começávamos a cantar e o povo já pedia ‘abre o bar, abre o bar’. Todo mundo querendo que a gente cantasse a sofrência”, relembra Simone.
Os fã-clubes pipocavam pelo Nordeste e foi quando a dupla percebeu que poderia sonhar mais alto. Ou melhor, Simaria sonhou: “Eu sou a louca que arrisca tudo”, conta. Simone ainda estava com um pé atrás: “Eu pensava, poxa, estou aqui na bandinha, ganhando meu dinheirinho, pra que sofrer de novo? Mas topei, porque no fim das contas, sempre acreditei nas apostas dela”. Da banda de forró, a dupla se arriscou a princípio com composições de xote. Até que Simaria teve uma “experiência místico-espiritual” em que Deus lhe falava para mudarem de estilo: “Eu falei pra ela: ‘Simone, Deus falou comigo. Nós vamos gravar um DVD sertanejo em 15 dias e isso vai nos levar para o país inteiro. Vou preparar o repertório, e eu só lhe peço que aprenda as músicas’”. Simone emenda: “No disco anterior, Simaria teve que cantar a maioria das músicas, porque eu não aprendi foi nada”, ri e confessa: “É que eu sou muito descansada”.
Aliás, esta é uma diferença crucial entre elas: enquanto Simaria está por trás de quase tudo – da produção aos arranjos musicais, dos palcos aos clipes – Simone acompanha tudo mais de longe. Por ser a mais velha, Simaria conta que sempre se sentiu responsável pela carreira das duas e pelo sustento da família. Chegou até a adoecer – ficou anêmica e teve tuberculose ganglionar, em 2018 – e isso a fez repensar o ritmo de trabalho. Acabaram diminuindo o número de shows, Simaria foi fazer terapia, tornou-se praticante de ioga e passou a dividir algumas demandas com a irmã. Mas, voltando para o primeiro DVD sertanejo da carreira – Bar das Coleguinhas, que depois de cinco anos, vai ganhar uma continuação –, a dupla soltou várias expressões de forma espontânea durante as filmagens. Agora, quem é fã vai logo se lembrar de “miséra”, “é hoje que eu bebo até cair e se cair continuo bebendo deitada” ou “chora não, coleguinha”. “E viralizou total, onde a gente chegava era miséra pra cá, miséra pra lá, cartazes com todas as nossas expressões nos shows […] Os empresários achando que ia dar ruim, mas deu foi bom”, diz Simaria, que lança um desafio: “Às vezes, é preciso acreditar mais na sua intuição. Tem gente que desiste dos sonhos porque alguém vem e diz que não vai dar certo. Eu sempre fui muito doida. Eu estava com medo, mas eu ia com medo mesmo”.
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