Na pele de mais um protagonista, aos 70 anos Antonio Fagundes vai dar vida a Alberto, dono de uma editora que descobre ter apenas seis meses de vida, na próxima novela das 19h da Globo, ”Bom Sucesso”, que estreia no dia 29. “Ele tem os exames trocados com Paloma, personagem da Grazi (Massafera), mas depois acaba descobrindo que vai morrer. Difícil conseguirmos pensar em algo positivo falando de morte, mas essa é a única coisa certa na existência. O que esses personagens vão fazer com isso é a grande questão”, esclarece. “Ao invés de nos preocuparmos com a morte, deveríamos nos preocupar com a vida, até o momento da morte. Isso está num livro da Ana Claudia Quintana Arantes que lemos e gosto de citar, a começar pelo título: ‘A morte é um dia que vale viver’. Acho que a novela vai mexer muito com as pessoas neste sentido”.
Ao lado da mulher, Alexandra Martins, com quem está há 12 anos, e que também está na trama, Fagundes afirma que sempre se relacionou bem com a possibilidade da finitude. “Costumo brincar que sempre tive a nostalgia da velhice. Queria ser velho quando era moço, comecei fazendo velho no teatro. Sempre tive fascínio pela velhice. Você só não vai ficar velho se morrer jovem. Então a velhice e a morte estão ligadas, você tem que encarar. Venho me preparando. Claro que a coisa muda, você não sobe mais a escada de três em três degraus, mas estou subindo de dois e dois ainda”, brinca. E se tal qual Alberto faltassem apenas seis meses de vida, o que o ator faria? “Não mudaria nada. Viveria intensamente meus dias, como já faço”, garante.
Apesar do tema, o ator tem cuidado para não falar do folhetim com uma seriedade exagerada. ”Novela não é para fazer ninguém refletir, é entretenimento, para divertir. E essa também é uma novela muito divertida. Lá embaixo vem uma reflexão e se alguém quiser se basear nisso para pensar na sua vida, ótimo, é lucro”.
Pensando na amizade de Alberto e Paloma na trama, e da transformação em suas vidas a partir deste encontro, Fagundes faz uma comparação com as relações atuais. “Todas as relações podem deixar algo. Meu personagem se abre para a vida. Na contramão do que estamos vivendo agora, em que as pessoas se fecham, não querem ouvir opiniões contrárias, não querem trocar, não respeitam o outro. Isso é a morte em vida. Enquanto as pessoas não perceberem isso, não serão felizes”.
Ainda sobre o momento polarizado, mas agora falando da arte e da cultura, o ator, que também produz e está em cartaz em São Paulo com o espetáculo “Baixa Terapia”, fala com a seriedade apropriada: “Nós estamos fazendo, o público precisa pensar se é ou não importante. Eu sei que é. A cultura é o que define a cidadania, fala dos problemas de uma sociedade, cria a consciência de uma nação, reforça sua história. O dia que o púbico souber dessa importância, governo nenhum acaba com a cultura”, declara, sem revelar posições partidárias.
Voltado para a trama, ele aproveita para exaltar a parceria com Grazi Massafera. “Ela está no seu momento perfeito como atriz. Com um conhecimento ótimo da profissão, é uma graça de pessoa. É muito bom trocar com ela, porque tem um olhar generoso sobre o personagem dela e sobre os outros também”, diz Fagundes, que também comenta sobre a diversidade representada na novela. “É importante para o povo brasileiro se ver representado ali. A população negra, as mulheres, os outros gêneros. E bom saber que estamos dando para essas pessoas o espelho que gostariam de ter”.
No ar na reprise de “Por amor” (1997), na Globo, e também no canal Viva, em “Porto dos Milagres” (2001) e “Terra Nostra” (1999), o veterano fala das novelas: “Assisto de vez em quando. ‘Por amor’ tem outro ritmo e o público gosta, sente saudade daquele tempo em que você parava e ficava vendo novela. As tramas hoje estão muito rápidas. Não sei se os autores, a Rosane (Svartman, autora) e o Paulo (Halm) vão mexer nisso, talvez sim, fazer cenas com mais tempo, não entrar nesta neura da velocidade dessas novas mídias”, reflete ele, que não tem e nem pretende ter redes sociais.
Com fôlego de sobra, o ator não tem planos de se aposentar: “Enquanto tiver fôlego, vou estar em cena. Mesmo no teatro, que exige mais de você. Ainda estou dando no couro. Tem muitos papéis que quero fazer, não sei se vai ter vida para isso tudo”, diverte-se. E o que é bom no sucesso para o ator? “Continuar trabalhando, fazendo coisas e saber que as pessoas vão assistir”. (por Brunna Condini)
- Neste artigo:
- Alexandra Martinsg,
- antonio fagundes,
- baixa terapia,
- bom sucesso,
- TV Globo,