Dizer que Karl Lagerfeld mudou a moda é um clichê absurdo. Bem mais do que isso, o estilista alemão morto nessa terça-feira, aos 85 anos, “sobreviveu” às grandes mudanças que tornam a cena fashion de hoje completamente diferente daquela na qual ele primeiro se aventurou lá em meados dos anos 1950, como estagiário do igualmente lendário Pierre Balmain. De certa forma, é mais justo falar que Lagerfeld “foi mudado” pela moda e sempre aceitou isso numa boa, o que justifica sua enorme influência e presença constante no mundinho ao longo das últimas seis décadas.
Apelidado de “kaiser” (“imperador”, em alemão), Lagerfeld sai de cena deixando um legado comparável aos de outros grandes nomes como Christian Dior e até da própria Coco Chanel, cuja maison icônica comandava desde 1983. Resta saber quem é que vai ficar com a coroa imperial dele, se é que existe alguém a altura para substitui-lo.
Em homenagem a Lagerfeld, Glamurama lista a seguir 5 motivos que provam porque o gênio da costura foi e sempre será lembrado como um personagem único que mudou a forma como muitos de nós nos vestimos. Continua lendo… (Por Anderson Antunes)
Ele nunca se deixou abalar com as críticas
Engana-se quem pensa que Lagerfeld sempre foi uma unanimidade. Basta lembrar que a primeira coleção que levava o nome dele, lançada em 1962, foi fortemente crítica por jornalistas de moda. Na época, o estilista ainda assinava Roland Karl e dava expediente no atelier de Jean Patou, portanto se arriscar dessa forma foi algo muito ousado. Entre os descontentes com os looks, o consenso era que as peças ou tinham aberturas demais ou “pano demais” nos lugares errados. Lagerfeld jamais de deixou abalar, e sempre afirmou que seu objetivo foi agradar aqueles que compravam suas roupas, e não a imprensa, como hoje em dia muitos por aí fazem.
O primeiro emprego em uma grande maison
Anos antes de assumir a Chanel, em 1964, Lagerfeld começou a colaborar com a Chloé. Os designs que ele apresentava para a marca francesa, que aquela altura buscava uma nova identidade, fizeram enorme sucesso. Em poucos anos, o estilista já estava desenhando toda a coleção da maison fundada por Gaby Aghion, já em busca de uma certa popularização de clientela porém sem perder o glamour que também está entre as marcas registradas da carreira dele. A pièce de résistance da experiência foi a linha de “mini sutiãs” inspirados nas fantasias de Carmen Miranda que ele apresentou no começo dos anos 1970, e que serviram para tornar a Chloé uma “must have” entre as consumidoras mais jovens.
Ele mergulhou de cabeça nos anos 1970
Os anos 1970, aliás, foram importantíssimos para Lagerfeld. Foi durante essa década que o estilista passou a fazer parcerias com gente de fora da moda, sobretudo dos universos do teatro e da música e, por muitas vezes, na companhia do bff Valentino Garavani. Foram dele os figurinos de várias das montagens teatrais de Luca Ronconi e Jürgen Flimm que tiveram o teatro La Scala, de Milão, como palco. Ele também assinou os looks usados pelos atores do filme icônico francês “Les Troyens”, de Hector Berlioz. Sem dúvida, Lagerfeld compreendeu que era necessário interagir com outras tribos não fashionistas para continuar em alta.
O estilista salvou a Chanel do ostracismo
No começo dos anos 1980, a Chanel vivia uma de suas piores fases. Sem ter a mesma relevância dos tempos da fundadora Coco Chanel e sofrendo para enfrentar a concorrência, os donos da maison francesa – os irmãos Alain e Gérard Wertheimer – tomaram uma decisão do tipo “ou vai ou racha”: eles contrataram Lagerfeld. Foi então que o estilista assumiu o posto de diretor-criativo da maison para torná-la mais jovem. O resultado pode ser exemplificado em números: sob o primeiro ano de comando dele, a Chanel abriu mais de 40 lojas ao redor do mundo e voltou a ser lucrativa, graças a um plano de negócios orquestrado por Lagerfeld que focava na produção de perfumes e acessórios.
Ele sempre defendeu que a moda precisa ser acessível
Apesar de ter seu nome atrelado a algumas das maiores marcas de luxo da história, Lagerfeld sempre entendeu que ninguém sobrevive vendendo para apenas um nicho. Ou, traduzindo em miúdos, sendo desejado apenas por algumas pessoas. A prova disso é que ele foi um dos primeiros grandes estilistas que aceitaram criar uma coleção com preços mais acessíveis para a H&M, o que fez em 2004. Foi um sucesso, e todas as peças que ele desenhou para a fast fashion sueca foram vendidas em questão de horas. “Jamais use a palavra ‘barato’. Hoje qualquer um pode ficar chic usando roupas que não custam muito, até os ricos as compram. Você pode ser a pessoa mais chic do mundo usando apenas jeans e camiseta”, o kaiser disse durante o lançamento da empreitada. Como dizia a mademoiselle, “a moda é passageira, e o estilo é para sempre”.
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