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Elba Ramalho em ensaio clicado por Mana Bernardes para a capa de seu novo disco || Créditos: Divulgação

“É lindo ouvir o 38° álbum da carreira vitoriosa e a todo vapor de Elba Ramalho, e ter vontade de levantar, pular, fazer alguma coisa importante imediatamente”, falou Zelia Duncan sobre o novo projeto musical da cantora paraibana. “‘O Ouro do Pó da Estrada’ é resultado de 40 anos de carreira, um disco delicioso de ouvir com uma mescla de ritmos nordestinos com toque contemporâneo. Uma leitura eletrônica, um baião revestido de cetim”, define Elba. Tudo isso com um repertório especial – comece ouvindo “Calcanhar”, de Yuri Queiroga e Manuca Bandini, “Se Não Fizer Amor” e “O Mundo”, as favoritas da cantora. (“O Ouro do Pó da Estrada” já está disponível em todas as plataformas digitais pela gravadora Deck. Para ouvir, clique aqui).

Para marcar essa fase, Glamurama bateu um papo com ela, que estava em Trancoso na ocasião, acertando os últimos detalhes para o Elba Convida – calendário de shows que faz há anos durante a semana de Ano Novo no hotspot baiano ao lado de artistas convidados. Sua base é no Rio, mas Elba passa de dois a três meses por ano em Trancoso, onde tem uma casa e é uma das habituées mais antigas e queridas do local. Para nós, ela revela detalhes da vida simples que leva, aos 67 anos, faz um balanço sobre os anos de estrada e outras “cositas más”.

Glamurama: O novo álbum tem um peso que vem do rock n’ roll… De onde vem essa Elba roqueira?
Elba Ramalho:
“Minha primeira incursão na música foi como baterista em uma banda de rock, aos 14 anos. Minha base musical foi o rock, essa é a minha onda.”

Glamurama: Comente sua escolha de gravar “Girassol”, sucesso de Cidade Negra.
Elba Ramalho: “Sou muito amiga de Tony [Garrido], fiz muitas coisas com Cidade Negra, sou apaixonada por essa musica e louca por girassol [a flor]. É uma música que fala do tempo, assim como todo o disco – ‘A verdade prova que o tempo é o senhor’, como diz a música. Quase todas as canções falam do caminhar, da experiencia de estar no mundo e do que ele precisa melhorar, do ouro que a gente colhe com a pureza da estrada. Fala do andar, de caminhar até doer o calcanhar – o que eu experimento nesses 40 anos de carreira: vou a todos os lugares, seja palco bonito ou mais ou menos, cidade perto ou longe. É uma vida de andarilho, circense, é muito bonito viver essa experiencia do caminhar, e ‘Girassol’ traz muito isso, a natureza da inocência é muito divina.”

Glamurama: Com 40 anos de estrada, se arrepende de algo que fez ou que não fez?
Elba Ramalho: “Sim, de algumas coisas pequenas, outras maiores, mas do ponto de vista pessoal. Equívocos no próprio trabalho, errinhos e displicências, pequenas crises que nem a gente percebe que está vivendo. Fui relaxada em alguns momentos, fiz discos que foram ótimos e outros nem tanto. Fui no crescente, o voo foi subindo e a essa altura da vida te digo: têm muitos artistas que não querem nem gravar, que não tem motivação, e eu não, quero produzir mais, trazer novas sonoridades. Nem sempre a gente acerta, mas o importante é ser ousada e não se acomodar.”

Glamurama: O que a ajudou a construir uma carreira tão longa e coerente com sua identidade, e ao tempo lidar com questões pessoais e vida pública?
Elba Ramalho: “É a minha personalidade. Tenho essa coisa de ser destemida desde criança. Toquei bateria aos 14 anos sem ninguém nunca ter me ensinado. É difícil cantar sem nunca ter feito aulas. Fui me jogando, subi no palco, comecei a ler poesias e quando vi estava cantando. Aceito os desafios com muita resignação, nada é um fardo pesado para mim. Às vezes me sinto muito cansada mas sempre achando que é assim que a vida tem que ser. A vida é para os fortes. Tudo mudou quando entendi que a felicidade não esta no outro, está dentro de mim, no aqui e no agora. Nesse momento presente, em que estou falando com você, estou construindo alguma coisa muito grande. Tenho serenidade, não sou ansiosa, não reclamo. Outra coisa que me fortalece é a minha fé, que é muito grande. Quando estou muito angustiada me sento e fico com Deus, ele é meu ponto de partida e de chegada, está presente em todo o meu percurso.”

Glamurama: Compare a Elba de “Ave de Prata”, seu primeiro disco, a de “O Ouro do Pó da Estrada”.
Elba Ramalho: “Alcei voos altos de lá para cá. Desde que apareci queria uma identidade própria, as pessoas sabem quem eu sou. Segui a minha vontade e isso me fez conquistar meu espaço. O que eu ganho vem desse suor e diversidade que eu trago no trabalho. Para voar é preciso estar pousada em algum lugar, e esse lugar para mim é o Nordeste… Fiz dele o mundo. Continuo voando e buscando novos horizontes, e me renovando para que eu não fique desanimada e não comece a plagiar a mim mesma, dando voltas no mesmo lugar.”

Glamurama: Por já ter lançado 38 álbuns, imagino que tenha lidado com críticas ruins, pelo simples fato de que é impossível agradar a todos sempre. Lida bem com opiniões negativas?
Elba Ramalho: “Aprendi a lidar. Na arte de escrever existem pessoas boas, cultas e éticas, e pessoas pequenas, ruins, que gostam de machucar e fazem isso gratuitamente. Uma coisa é fazer uma critica construtiva, outra coisa é você ser ruim. Lidei com muita gente ruim ao longo da minha carreira, mas nem por isso julgo. Com elas aprendi a ser mais tolerante e a perdoar.”

Glamurama: Como cuida da sua voz?
Elba Ramalho: “Eu tenho uma voz naturalmente forte, tenho até orgulho em dizer que tenho uma ótima saúde vocal. Agora, por exemplo, está chovendo aqui em Trancoso, estou louca para tomar um banho de mar mas vou evitar fazer essa superexposição do meu corpo. Tenho esse tipo de cuidado, não pego friagem, não pego chuva… se vou cantar não tomo nada gelado. Faço exercícios de voz quando vou fazer show, como um atleta. A corda vocal é um músculo, precisa ser aquecido e alongado. Não fumo e quase não bebo, sou muito disciplinada.”

Glamurama: Qual é a relação de seus filhos Luã, Maria Clara, Maria Paula e Maria Esperança com a música? Algum segue ou pretende seguir carreira artística?
Elba Ramalho: “Luã está terminando o primeiro disco dele. Não sei muitos detalhes do projeto, mas até onde sei será bem diferente de mim, no sentido que eu sou ‘estradeira’ e ele tem um jeito sereno de conduzir as coisas. O disco é mais para ele e quem quiser que curta, mas soube que é genial. Ele fez do jeito dele, não quis que eu me envolvesse. Quando peço para ouvir ele ri e diz: ‘você vai ouvir quando estiver pronto.’ Tenho certeza que vou ser surpreendida. Ele é muito bom, toca violão muito bem – se formou na Berklee College of Music, em Boston. Tem um movimento cósmico especial, é muito doce, da paz total. Um menino cuja boca não pronuncia nada que não seja para construir. É um poço de sabedoria. Já as meninas, têm personalidades bem diferentes. Maria Clara, de 16 anos, é muito culta, já leu mais do que eu li a vida toda. É uma garota inteligente, sofisticada, muito boa para conversar. Quem lê tem base. Agora está indo para a Irlanda estudar Inglês por cinco semanas. Maria Paula, de 15, só quer saber de dançar. Faz balé clássico, e vive sorrindo e dançando. A de 12 anos, Maria Esperança, ainda não sei direito, mas tem um gosto estético apurado, desenha bem, cria vídeos, pode seguir por esse caminho ainda não definido. Minhas filhas são muito doces, não são essas meninas que estão nas boates, são meninas vivendo no seu tempo. Rezam comigo, discutem comigo…”

Glamurama: Você está namorando?
Elba Ramalho: “Ainda não mas eu vou namorar daqui a pouco! (risos) Claro que tenho meus amigos ‘mais profundos’, mas estou vivendo um momento em que estou me curtindo muito, vou para onde quero, passeio, sempre viajo com a família para diversos lugares, e isso não tem preço. É meu tempo comigo, e quando as pessoas descobrem a importância de dar o coração para si antes de dar para alguém, a pessoa certa aparece.”

Glamurama: Como é sua rotina? Conte-nos um pouco da Elba em seus momentos mais íntimos. Você leva uma vida simples?
Elba Ramalho: “Acordo as oito da manhã e rezo até as nove. Faço isso todos os dias. Depois, vou para a praia correr. Hoje, que estou em Trancoso, corri durante uma hora até o Rio da Barra, depois tomei um banho de mar fiz um treino funcional com a professora, esperei umas amigas para tomar café da manhã comigo e falar de negócios. Dei entrevistas, visitei dois lugares onde vou fazer o Elba Convida neste verão. Vou à missa todos os dias às 18h na igrejinha, e fico fazendo minhas coisas…. Às vezes paro e vejo um seriado (meu favorito este ano foi o ‘Outlander’), sou muito tranquila. Tenho muita energia, gosto de brincar, não tem tempo ruim para mim. A vida é algo muito precioso e simples, vivo intensamente as 24 horas do dia. Mesmo agora, enquanto falo com você, algumas boas sementes estão sendo plantadas.”

Glamurama: E no Rio, como é sua vida? Se preocupa com a violência na cidade?
Elba Ramalho: “O Rio está violento, sim, mas temos esperanças que o Brasil tenha um novo processo, sem corrupção. Eu gostei da  mudança, aposto no novo. Lá eu saio bastante para jantar com as minhas filhas e vou me renovando.”

Glamurama: No calendário de shows deste ano do Elba Convida você se uniu ao Ser Trancoso – nova empresa de Fábio Seixas e seu ex-marido, Gaetano Lops. Como é sua relação com ele? 
Elba Ramalho: “Temos uma relação ótima, ele é pai das minhas filhas e sabe o quanto eu ralo, então resolveu dar uma forcinha. Ele está sempre tentando me ajudar, acha que é importante fazer com que Trancoso mantenha essa essência nativa. O Elba Convida é uma brincadeira que está se tornando algo cada vez mais legal. Fazemos shows em lugares atraentes, na praia… As pessoas vão para se divertir.”

(Por Julia Moura)

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