Depois de “Deus Salve o Rei”, Rosamaria Murtinho mergulhou mais uma vez no teatro, interpretando Isaura Garcia. Em cartaz no Rio, o musical é a terceira montagem na qual a atriz de 82 anos dá vida à musa da época de ouro do rádio. “Você vai ficando mais velha, o rosto envelhece, o corpo e a voz também, mas acho que estou cantando melhor do que quando fiz pela primeira vez, há quase 20 anos. Agora tenho mais conhecimento do que estou fazendo. Atriz é uma profissão que a idade só acrescenta, sim. Mas temos limitações físicas. Durante a peça, quando preciso descer dois degraus, peço ajuda para alguém da plateia”. Glamurama conversou com ela sobre a discrepância entre o sucesso de nomes como Bruna Marquezine e Marina Ruy Barbosa no mercado publicitário e o espaço que os idosos têm em propagandas, o furor que ela causa quando aparece de biquíni, plásticas, a doença do marido, Mauro Mendonça, o medo da morte e religião. Vem ler! (por Michelle Licory)
“Já sabia que ia morrer mesmo…”
Apesar de queixas de artistas de sua geração, para Rosamaria não falta trabalho. “Neste ano foram três convites para cinema, esse da Isaura para teatro e já estou esperando ser escalada para outra novela. Tantos convites… Acho que é porque me entrego de verdade. Mas tem gente boa da minha idade e mais velha que eu que não está trabalhando, o que é uma pena”.
Por falar em entrega, a atriz trabalhou doente em “Deus Salve o Rei”. “Tive pneumonia, então falava uma frase e tinha uma cadeira para eu sentar. Deu pra trabalhar assim. Já sabia que a personagem ia morrer mesmo… E me tratei bem, com bons médicos”.
“Se está na hora de aproveitar para ganhar dinheiro, ‘why not’?”
Comentamos com ela sobre os fenômenos de publicidade que são Bruna Marquezine e Marina Ruy Barbosa, suas colegas de elenco na última trama das sete. “A carreira é efêmera. Se está na hora de aproveitar para ganhar dinheiro, ‘why not’? Façam, sim! Aproveitem! A pessoa não é jovem e bonita pra sempre. É que hoje tem mais mídia, visibilidade, então dá a impressão que elas só estão interessadas nisso. Eu fazia comercial quando era mais moça. Mas agora paga mais. E não me chamam. Quem decide quem contratar escolhe sempre os mais novos. Nos Estados Unidos está uma onda de aproveitar atrizes e modelos mais velhas para essas coisas. O Brasil tem 20 milhões de idosos, uma parcela muito grande de consumidores, mas a nossa publicidade ainda não deu conta dessa realidade”.
“É uma delícia: a perna nem precisa estar depilada”
Ela exemplifica: “Todo mundo sempre diz que minha pele está ótima, mas para comercial de creme só escolhem moças. Claro que uma mocinha vai estar com a pele boa, né? Os idosos gastam, viajam, se divertem, passeiam e também querem comprar creme. Outro exemplo: amo vestido longo. É uma delícia: a perna nem precisa estar depilada. Mas todo modelo que vejo é sempre de alcinha. Fica difícil… Não posso usar alcinha! Idosa também quer vestido longo! Façam com manguinha, pra não precisar de casaquinho. Sou uma senhora, meu braço não está lá essas coisas… Para dar adeusinho, é trágico. Chega uma hora que cai mesmo. E é um mercado muito grande pra ser ignorado. Aceitei fazer o ‘Dança dos Famosos’ no Faustão por causa disso. Não dá pra me comparar… Pra mim, ganhar dos mais jovens é impossível. Mas fiz pra mostrar que o pessoal da terceira idade também tem direito! E várias pessoas vieram me dizer que voltaram a dançar por minha causa”.
“Não estou tão maravilhosa assim, mas continuo magra”
Quer mais? “Se eu posso ir à praia, andar de bicicleta… Por que vou ficar em casa? Exigem de mim, querem que eu fique só em casa. Até que adoro ‘tricoterapia’, mas minha vida não é só isso”. Esse papo fez a gente lembrar das fotos de Rosamaria de biquíni que “causaram” na internet… “Ah, uma bobagem. Meu umbigo está certinho e uso como parte de baixo um calção de homem, uma peça maior. Não é asa delta. Tenho noção! E roupa curta só uso com meia bem opaca. É preciso ter limite e consciência. Fotografia é discutível, engana muito… Gosto dos elogios… Acho gozado. Não estou tão maravilhosa assim, mas continuo magra. Nunca tive tendência para engordar. Não faço dieta. Vovó era magra, mamãe era magra, papai também. É genética! Tomo todo dia uma café da manhã de hotel, mas não janto. Só uma sopa ou suco… É que tenho refluxo. Não posso comer e deitar”.
“Não boto botox na testa”
Já fez plástica? “Tenho um bom dermatologista. Não boto botox na testa porque atrapalha a expressão da atriz. Já fiz preenchimento, um pouquinho no pé de galinha, mas com muito cuidado. Plástica fiz há mais de 30 anos, um lifting no rosto todo. Agora só faço cuidados, sem ser neurótica porque não posso perder muito tempo com isso. Boto cremes, não pego sol no rosto… No corpo, sim, porque preciso da vitamina D. Tenho osteoporose”.
“Agora o Mauro está todo maravilhoso e bacaninha”
Mauro Mendonça, marido dela, esteve mal de saúde, chegou a ficar em coma induzido. “Foi pneumonia, mas muito mais grave que a minha. Ele ficou bom, graças a Deus. Agora está todo maravilhoso e bacaninha. Mas a gente está pensando em se mudar. Moro em São Conrado [zona sul carioca], onde o clima é muito úmido. Não tem poluição nenhuma, faço pranayama, respiração indiana, para pegar bem esse ar do meu condomínio fechado, que tem capivara, mico e muito passarinho, numa rua sem saída… Mas é mais frio lá. E a casa está ficando grande pra gente, os filhos saíram… Vou querer vender, ou deixar só pra fazer churrasco em fim de semana. Os verões a gente passa em Angra mesmo…”
“Não morri jovem, o que já é uma vantagem”
A atriz pode ser muito bem resolvida, mas… “Tenho um medo danado de morrer. Velhice não faz mal… Quer dizer que não morri jovem, o que já é uma vantagem. Tinha uma filha – não biológica, mas do coração – que morreu com 23 anos. Morava com a gente, era modelo, filha de uma amiga do Mauro… Aquilo me marcou muito. Tive uma vida razoavelmente boa. O envelhecimento veio de forma gradativa e natural. Não é assim: a pessoa dorme e acorda velha. É feito o crescimento de um filho: de repente aquele menino que você deu à luz está maior do que você. E você vai aceitando… Cheguei nessa idade, e trabalhando, fazendo coisas, viajando… Morrer acho uma chatice. Tenho medo, sim, mas antes era pavor mesmo. Acho que melhorei. Com a doença do Mauro, fui ler coisas, buscar respostas…”
“Não quero que tirem o meu lugar”
Sobre religião… “Rezo bem. Só não fui evangélica, esse negócio do Crivella [prefeito do Rio]. Mas já fui do budismo, da umbanda. E sou católica. Atualmente, me conecto com Deus e o universo de uma maneira que tem me dado muito retorno espiritual. Deus está dentro da gente e o universo é um espelho: o que você joga, volta. Por isso, tenho pensamentos bons. Sou uma atriz e nunca fui invejosa, então já me considero privilegiada. Nem saberia passar por cima de alguém para conseguir algo melhor do que eu tenho. Mas também não quero que tirem o meu lugar, que conquistei através de muito trabalho. Tenho muita ética”.
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