A premiada coreógrafa Deborah Colker tem muito a comemorar. Suas conquistas como mulher, brasileira, bailarina e coreógrafa incluem, entre tantos trabalhos, 25 anos de sua companhia, que carrega na história dez obras autorais, o espetáculo Ovo (2009) para o Cirque du Soleil, além da direção da abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016. A semana que passou também foi de fortes emoções para ela, que comemorou a estreia do musical “O Frenético Dancin’ Days” no Teatro Bradesco Rio, inspirado nos áureos tempos da boate que dá nome à peça.
Deborah, que tem fama de durona, conversou com o Glamurama em meio a momento eufórico e inspirador. “São 35 anos de carreira. Hoje estou catatônica e cansada, preciso voltar a dormir [risos]. Desde as Olimpíadas disse que iria pegar mais leve, mas o desejo é maior. Falei ‘ninguém me pega mais, quero trabalhar com a minha companhia’. E olha eu aqui de novo. Sempre penso em dizer não, mas quando digo sim faço o trabalho ser uma bomba, explosão de luz na minha vida.”
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Glamurama – Como é seu processo de criação?
Deborah Colker – “Experimental. Não chego com maquetes, pois trabalho com pessoas e vou construindo com elas. É como fazer pão, vai amassando, coloca mais açúcar, sal… Meu processo se transforma a partir da energia, vou construindo espaços. Não pode ter medo. Começo uma obra sabendo apenas o que não quero.”
Glamurama – Qual a sensação de estrear na direção de um espetáculo teatral?
Deborah Colker – “É minha estreia como diretora teatral. Estou resistindo há muito tempo. Tenho uma agenda internacional com obras grandes e longas. A Joana Motta, produtora da peça e filha do Nelson, praticamente me pegou pelo braço e me convenceu. Eu perguntei quanto tempo seria de ensaio e ela disse ‘dois meses’. Bicho, dois meses é um peido pra mim. Era das duas, uma: ou odiava ou me apaixonava perdidamente. O que acha que aconteceu?”
Glamurama – Nelson Motta rasgou elogios a você em entrevista: “Ela é completamente inovadora, audaciosa e vai além. Não faz cópia da Broadway.” O que tem a falar sobre isso e sua relação com ele?
Deborah Colker – “Agora é minha vez de elogiar. Ele é culto, elegante e sincero. Um cara genial e fiquei impressionada com o frescor da cabeça dele, é como se estivesse com alguém de 20 anos. Essa foi a primeira vez que a gente trabalhou junto e conversamos quase todos os dias. É autor, personagem e foi impressionante. Em um dos ensaios ele me disse: ‘Debinha eu posso ir embora, isso é genial’.”
Glamurama – Quais as dificuldades do musical?
Deborah Colker – “Sou muito exigente e obsessiva então precisou da entrega de todos os envolvidos. Rolou uma troca muito forte de energia e fiquei impressionada. A única dificuldade era o tempo, muito curto. Mas foi maravilhoso porque ensaiamos na companhia, então parecia que estávamos em Nova York, Londres, com tudo acontecendo ao mesmo tempo. O que aprendi na vida está neste musical. Já fui coreógrafa, fiz muito de tudo, trabalhei com diretores gigantes e tive experiência de cinema. Está tudo exposto ali, cuidei pessoalmente do figurino, cenário, luz e o espetáculo é esteticamente lindo.”
Glamurama – Como é manter uma companhia de dança no Brasil?
Deborah Colker – “A gente parte das ideias. Um exemplo é que nas salas de ensaio temos espelhos, mas colocamos cortinas. É importante se olhar sem espelho, é mais significativo saber sentir o corpo sem ele. São 25 anos e é um trabalho diário. Um dia após o outro e vamos que vamos.”
Glamurama – Você ganhou o prêmio internacional Benois de La Danse pela coreografia do espetáculo “Cão sem Plumas”, de 2017. Como foi isso?
Deborah Colker – “Me disseram que é o Nobel da dança. É o maior prêmio do mundo e recebê-lo na Rússia, no Bolshoi, o palco mundial da dança foi UAU! Competi com Mikhail Baryshnikov e ganhei dele. É como se fosse um filme.”
Glamurama – Nesse prêmio você era a única mulher concorrendo. No Cirque du Soleil foi a primeira mulher. É muito emponderamento, né? É ligada nisso?
Deborah Colker – “Quando alguém fala sobre feminismo respondo que já faço muito por ele. Sou mãe, avó e profissional. Durante a época do Cirque me perguntavam como é ser a primeira mulher e eu dizia ‘é igual a ser um homem’. Que atraso desse povo.”
Glamurama – Tem algum lugar do mundo que não conhece e gostaria de ir?
Deborah Colker – Ainda não fui para a África. Sou louca para ir lá.”
Glamurama – Qual seu próximo sonho como artista?
Deborah Colker – “O próximo espetáculo da companhia, que já comecei a trabalhar e deve sair daqui uns dois anos e também tenho muita vontade de fazer uma ópera. Por agora revisitei o ‘NÓ’, que inaugura um novo momento meu, mais denso e a que tenho me dedicado há um ano. ‘Cão sem Plumas‘ também está partindo para a primeira temporada internacional.”
Glamurama – Tem alguém com quem sonha em trabalhar?
Deborah Colker – “Sou muito fã do Almodóvar. Fui para a Espanha com o espetáculo ‘Vero’ e o apresentamos em um lugar incrível. Ele quase foi ver meu espetáculo, mas não rolou. Pô, queria muito conhecer ele.” (por Paula Barros)
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