Silva está de volta aos palcos com o show de seu novo álbum, “Brasileiro”. O sexto trabalho chegou completo às plataformas de música em maio e de lá pra cá o cantor capixaba tem conquistado um público mais e mais fiel, que inclui até a turma devota da cantora Anitta. Na turnê, Silva, 30 anos, se dedica a construir caminhos entre tempos e estéticas musicais diferentes, mostrando toda força de um dos nomes mais produtivos e criativos dessa geração. Glamurama conversou com o novo queridinho do pedaço que, além de tudo, é formado em violino clássico. “Estou muito feliz. Estamos no meio da turnê e está lindo. É a melhor fase da minha vida, sem mentiras… E isso é um mérito muito grande.”
Desde quando vem trabalhando o álbum novo “Silva – Brasileiro” ?
Já tem dois meses desde o lançamento, mas o processo de composição começou em abril de 2017. Estava fazendo a
turnê “Silva Canta Marisa” e no meio disso, aconteceu. Meu contato com ela reforçou meu laço com a música brasileira que sempre conheci por gostar de pesquisar e saber que fazemos uma música tão interessante. Sempre tive um fascínio, mas meu contato com Marisa não foi só pela obra que ela faz lindamente, mas também pela pessoa que é, que sempre carregou uma personalidade muito do Brasil.
Todos os seus shows esgotam muito rápido. Como é isso pra você?
Pois é, o negócio tá bom. Venho ralando ao lado das pessoas que trabalham comigo há muito tempo. Sabemos como é difícil uma carreira vingar no Brasil com tantos empecilhos e hoje fico lisonjeado… é sensação de missão cumprida ver o público empolgado e chegando no show cantando mais de uma música na ponta na língua.
Além de ser uma delícia de ouvir, suas letras são politizadas. Você quer que as pessoas te conheçam por isso?
Isso importa! Temos que nos importar. Desde 2013 é só bomba atrás de bomba, então é impossível não se posicionar. Mas quando você impõe uma opinião política acaba atingindo um público que tem uma mesma ideia que você e que vai te idolatrar, mas acaba fechando a porta para pessoas que não concordam. E isso não é justo pois estamos numa democracia e pra mim a arte é mais ampla que tudo. Tenho minha opinião, coisas em que acredito, mas vou falar delas com beleza, passar a mensagem com simpatia. Não vou levantar bandeira porque não estou a fim disso. A música fica e a política se vai. Tem que pesar o mais importante.
Seu álbum fala muito sobre nacionalidade, você gosta de ser brasileiro?
Eu amo ser brasileiro. Já dizia Tom Jobim: “Morar nos Estados Unidos é bom, mas é uma merda. Morar no Brasil é uma merda, mas é bom”. Sei que a gente tem um país cheio de problemas. Já morei na Europa, fiquei dois anos em Dublin, na Irlanda, mas gosto do Brasil. Quando viajo fico com saudade. Tenho um mega orgulho de ser brasileiro e ser recebido com um sorriso no rosto quando falo de onde vim em outros países. O problema é que o brasileiro tem uma baixa auto estima e muitas vezes isso acontece por não conhecer a cultura. Com a minha música quero contribuir para melhorar isso.
Você ainda consegue defender o país?
Consigo porque as pessoas que julgam têm argumentos muito fracos ou nunca leram um poeta brasileiro, ou nunca ouviram um disco do João Gilberto, ou não conhecem “Índia” da Gal Costa. Só conhecem o que toca na rádio. E não precisa aprofundar não, conhecer um pouquinho que seja já é incrível. É como uma pessoa, se ela não busca se conhecer, não vai se amar.
Acredita que a situação política e econômica do Brasil vai melhorar?
Me esforço pra ser positivo porque de notícia ruim o jornal tá cheio. Como músico quero contribuir para que seja mais leve e é muito difícil. Fazer música dizendo que tá ruim é bastante cômodo, quero ser mais esperançoso e busco criar essa esperança em mim. Logo que comecei minha carreira sabia que seria difícil e busquei fazer terapia porque investir na cabeça é a melhor coisa que a gente faz. Trabalhar a mente me fez desenvolver e crescer como artista. Ser leve é um negócio que tenho tentado fazer com a minha vida e com o país. Quando vou fazer música quero tocar algo que me faça bem e faça bem para as pessoas também.
Já é seu sexto álbum. O que mudou do primeiro para cá?
É o sexto álbum, mas o quarto autoral. A música foi evoluindo junto comigo então está tudo mais maduro. Nas letras não planejo falar de mim, mas acontece já que a maioria quem faz sou eu e meu irmão. Ele é meu parceirão desde o começo e, por me conhecer muito bem, o que escreve é um reflexo de mim e acompanha essas mudanças. Sempre fui músico, formado em violino clássico, e cantar era um prazer. Mas fazia isso no chuveiro, tinha vergonha. Me cobrava tanto que travava. Não dormia, tinha medo de enfrentar o público. Como tudo aconteceu muito rápido, não tive tempo de me preparar, foi tudo na raça e fui melhorando na marra. Digo sem vergonha que eu me gosto, que meu trabalho dá prazer e que sou bom no que eu faço. Hoje não quero só um lançamento, quero fazer uma música que me emocione. Minha maior ambição é fazer com que meu trabalho faça sucesso daqui 20 anos, que outras gerações ouçam e faça sentido.
Seu público é diferente da Anitta… Como foi a receptividade da parceria?
Quando pensei no álbum queria contar com a colaboração de brasileiros emblemáticos, como Caetano, Ivete e Anitta, que era a primeira da lista. Como não conhecia ninguém em comum ela era inalcançável e nosso encontro foi muito especial. Fizemos a letra e mandei para a produção dela com a demo já pensando em um ritmo que tivesse a ver com o som de Anitta. Logo depois disso ela me mandou uma mensagem pelo Instagram: “vai ficar tudo ótimo. Quero fazer, vamos marcar a data do clipe e da gravação agora”. O resultado ficou lindo e as pessoas adoraram. Somos preconceituosos, antiquados e a música ajuda a quebrar essas barreiras. Essa parceria fez um movimento nos dois lados da moeda, tanto com os fãs dela como com os meus.
Pretende fazer uma turnê internacional ou compor em outra língua?
Mês que vem vou para Portugal participar de uns festivais de verão. Gosto demais de tocar lá, É um lugar que sempre me recebeu muito bem. Também tenho muita vontade de compor em outra língua, especialmente em espanhol. A América Latina tem uma uma riqueza cultural tão grande.
Com quem você ainda gostaria de fazer parceria?
Várias pessoas. Sonho grande. Mas do Brasil adoraria Caetano, João Gilberto – sou muito fã, ele é tão chique. Adoraria fazer algo com João Donato… Ele mistura jazz com música brasileira e soa fresco até hoje. Da galera nova,
estou apaixonado pela Illy que tem uma voz muito parecida com a da Gal. É muito lindo.