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Fagner || Créditos: Reprodução Facebook

Formidável é um adjetivo que cai bem para Raimundo Fagner. Um dos maiores artistas do Brasil, o artista de 68 anos faz apresentação única em São Paulo no dia 4 de agosto, no Espaço das Américas. Na ocasião vai reunir grandes sucessos de sua carreira com a turnê “Vento Forte”. Glamurama aquece os motores para o show com entrevista exclusiva com o cearense, uma figura simples que gosta de politica e futebol. E é relacionando esses dois assuntos que Fagner lamenta a falta que sente de Chico Buarque, seu parceiro de ‘pelada’. “Chico [Buarque] foi meu grande parceiro. Faz tempo que a política nos separou, mas não tira o carinho que tenho por ele. Perdi um amigo que amo muito pelo artista que é.”

Ainda na entrevista, sua opinião sobre o resultado do Brasil na Copa do Mundo, alertando para a perda de identidade cultural dos jogadores da atual geração. Isso sem falar em boa música, claro, já que ele prepara seu próximo álbum de inéditas com a promessa de que será o melhor de sua carreira.

Glamurama: O que São Paulo pode esperar de seu próximo show na cidade?
Fagner: “Um show de um artista que ama o que faz, com repertorio identificado com o público e uma equipe espetacular que joga junto e me deixa, na linguagem do futebol, sempre na cara do gol.”

Glamurama: O que você reconhece como mais interessante no cenário atual da música brasileira? 
Fagner: “O mais interessante sempre foi a diversidade. O Brasil é um país enorme, com músicas e sons de todos os lugares e de todas as tendências.”

Glamurama: Você é entusiasta de algum novo movimento musical?
Fagner: “Continuo sendo entusiasta de movimentos e artistas da minha geração, como a Tropicália, Clube da Esquina, que tem repertório e qualidade que sobrevivem até hoje, e nordestinos desta penúltima geração, que inclui Zeca Baleiro, Lenine, Chico Cesar…Todos esses deixam uma marca muito forte.”

Sabemos que você gosta muito de futebol, inclusive se apresentou na copa de 82. O que achou da atuação da seleção brasileira nesta Copa do Mundo?
Fagner: “Nós sonhamos demais. Foi um desperdício no sentido de que tínhamos um time com muita qualidade dentro do cenário internacional. Tinha fé que, por ter jogadores importantes – os melhores do mundo em suas posições – nosso time poderia chegar no mínimo na final. Acho que jogamos um pouquinho de salto alto e com alguns jogadores que não estavam no melhor da fase – o que aconteceu também em 2014. Por mais que achem que o Brasil foi bem, acho que poderíamos ter ido muito melhor. Sempre somos surpreendidos porque não temos mais identidade cultural – e isso não acontece só no futebol. A maioria dos jogadores da atual seleção saíram muito cedo do país e a cultura deles é a dos países em que jogam. A emoção de vestir a camisa do Brasil não é mais a mesma. Perder uma Copa do Mundo não marca a vida deles. Perdem no máximo uma noite de sono, enquanto os craques de outras gerações ficavam na pior. A força de uma pessoa ser convocada pra seleção hoje é muito menor. No dia em que voltar a ser uma seleção formada por craques que joguem aqui, no Corinthians, Flamengo e etc, a gente vai ter de volta essa emoção.”

Glamurama: Torceu para quem na final?
Fagner:
“Eu já sabia que a França era o time mais completo. Achei bom não termos ido para final com ela, seria mais uma decepção. Eu gosto de futebol bonito, então não tinha muita preferência, mas sabia que era muito difícil a seleção francesa perder.”

Glamurama: Gosta de jogar futebol/pelada com os amigos?
Fagner: “Gosto mas estou parado por conta de complicações que tive no joelho. Joguei muito futebol, tenho o orgulho em dizer que joguei com os maiores do mundo – Rivelino, Sócrates, Pelé, Éder… Fiquei tão ligado ao futebol que em todo Estado que eu ia sempre tinha um clube que ia me buscar no aeroporto e me convidava pra treinar. Fui um dos artistas que marcou a ligação entre música e futebol, quando o artista flertava com o universo do jogador e vice-versa. A imprensa adorava esse intercâmbio. Chico [Buarque] foi meu grande parceiro. Faz tempo que a política nos separou, mas não influenciou no carinho que tenho por ele. Perdi um amigo que amo muito. Infelizmente, porque a política deveria ser uma coisa a parte.”

João do Vale, Fagner e Chico Buarque no início dos anos 1980 || Créditos: Reprodução

Glamurama: Você sempre cantou o amor, acha que o romantismo acabou ou está diferente?
Fagner: “Ele está cada vez mais forte. O Brasil é um país romântico. Não tem um grande sucesso que não tenha um grande romântico por trás.”

Glamurama: A forma de se produzir músicas mudou muito desde o início de sua carreira. Como você observa as novas gerações de músicos, o advento da internet, youtube e afins?
Fagner: “A Sony está lançando 13 títulos meus nestes novos formatos. O mundo caminha para frente e eu continuo no meu mundinho, procurando fazer musica com meus parceiros. Nunca mudei meu esquema. O mundo vai pra frente e eu fico no meu (Rai)mundinho (Risos). Estou vivendo o que eu sempre vivi.”

Glamurama: Você tem algum projeto musical em parceria com outros músicos à vista?
Fagner: “Estou com um disco praticamente pronto feito com vários parceiros como Zeca Baleiro e Moacyr luz.”

Glamurama: São 45 anos de carreira, uma discografia riquíssima e muitos prêmios. Que projetos ainda falta realizar?
Fagner:
“Estou sonhando que meu melhor disco seja o próximo, que está entrando em fase de produção. Ele tem músicas boas de curtir e se emocionar, feitas com a mesma paixão de sempre e com grandes parceiros.”

Glamurama: Poderia fazer um balanço desses anos?
Fagner: “A maturidade reflete tudo aquilo que sinto no palco: reconhecimento e purificação da arte. A música é muito sublime, vejo isso pela forma que as pessoas se emocionam repetidamente. Como tudo na vida, a maturidade vem da repetição. O melhor lugar do mundo é o palco e o retorno do publico – o meu é fascinante. Um público que segura meus fracassos, me atura e me prestigia tanto. Duvido que qualquer artista consiga ter um igual. Às vezes penso: ‘será que as pessoas estão me prestigiando tanto porque eu estou mais para lá do que para cá?'(Risos).”

Glamurama: O que te fez conquistar esse público?
Fagner: “Comecei muito cedo, cantando em rádios e tenho uma frase que sempre falo: o público adota o artista, ‘segurando’ ele tanto nas fases boas como nas ruins. Uma vez, quando lancei meu primeiro disco, ouvi Nara Leão dizer: ‘Fagner, você vai fazer sucesso sempre porque o público te ama. Esse carisma que você tem eu só vi em Chico [Buarque].'”

Glamurama: Em suas mídias sociais você costuma relembrar momentos do passado, ao lado de outros grandes músicos. Você se considera um saudosista? 
Fagner: “Tenho dois meninos que fazem meu Instagram, o Yuri em Fortaleza e o Alan em Natal. Eles são fascinados por isso e me passam por Whats App o que acontece por lá, mas eu não acompanho. As pessoas me dizem que tem muita coisa legal, mas eu não vejo. Levo dois meses para responder alguma coisa.”

Glamurama: Você ainda vive em Fortaleza? Como é a sua rotina atualmente?
Fagner: “Moro entre Fortaleza e Rio, e levo uma vida de pessoa normal. Gosto de fazer caminhadas, falar no telefone e ver meus netos sempre que dá. Viajo muito, estou sempre disponível para os meus amigos. Me envolvo em tudo o que é problema que eles têm, sou um cara que quebra muito galho. Conheço gente de muitas áreas e meus amigos sabem que podem contar comigo, por isso eu sempre estou um pouco na mão dos outros.”

Glamurama: Como faz para manter o físico e a voz em forma?
Fagner: “Para o físico eu procuro fazer boas caminhas, mas da voz não cuido bem. Fumo até hoje, sou um irresponsável, deveria me tocar. Meu médico e meus amigos reclamam, e as pessoas sempre se admiram de saber que ainda fumo. No aeroporto tenho que fumar escondido… Há um ano fiquei seis meses sem fumar por contra de um problema de saúde, mas voltei e hoje fumo pouco mais de um maço por dia. Não aconselho ninguém a fazer isso.”

Glamurama: Qual a música da sua vida – a que mais gosta?
Fagner: “Tem que ter respeito por todas as músicas, mas apesar de muitas acumuladas nos últimos anos sou muito ligado a ‘Mucuripe’ (em parceria com Belchior), que não foi um hit mas abriu as portas para a minha carreira. Ela foi gravada pela Elis Regina e pelo Roberto Carlos… é a mais importante pra mim.”

Glamurama: Você sempre foi muito envolvido com a política. Se arrepende de algo? 
Fagner: “Além de meus amigos de geração serem Tasso [Jereissati] e Ciro [Gomes], entre tantos outros políticos, presenciei toda a mudança que tivemos no Ceará com o fim da gestão dos coronéis para o início de uma democracia, então me dediquei e me envolvi muito com a política, a ponto de tê-la colocado como prioridade em alguns momentos da minha carreira. Me arrependo de ter perdido tanto tempo com isso, participando tão ativamente de tudo, me apresentando em palanques… Tomei muita bola nas costas, fui até o fundo do poço, mas aprendi. Era apenas uma ficção. Recebia muitos conselhos para me envolver menos e não ouvi. Deveria ter sido mais ‘light’.”

Glamurama: Além de Chico Buarque, já perdeu outros amigos para a política?
Fagner: “Com certeza. Fui bobo e só percebi depois, mas muitos me usaram. Se tem uma coisa que posso ficar tranquilo é que nunca peguei dinheiro de política. Valorizei minha suposta ideologia de acreditar em pessoas e adorei quando veio a proibição de artistas em palanque, porque muitos subiam cada dia em um partido diferente, buscando dinheiro, e acabavam desnorteando as pessoas. Eu só subi em palanque de políticos que considerava os melhores, e claro que errei, mas nunca recebi nada por isso.”

Glamurama: Como se posiciona politicamente hoje? Em quem vai votar na próxima eleição?
Fagner:
“Estamos a três meses das eleições, esperando para ver o quadro, que não é bom. Candidatos com maior visibilidade talvez venham com as mesmas manias e o país está menos dividido, as pessoas estão se ‘tocando’ de maneira geral. Quero ver o que eles têm a dizer. Tenho um grande amigo na disputa, o Ciro Gomes – já contribuí muito na campanha dele no Ceará -, e também Alvaro Dias e Geraldo Alckmin, que não são amigos mas já acompanhei de perto.”

Glamurama: Que recado daria para os políticos que estão no poder?
Fagner:
“Olhem para o povo”. (Por Julia Moura)

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