Maria Flor, Eriberto Leão e Luana Piovani estão filmando “Maior Que o Mundo”, uma homenagem ao cinema marginal, especialmente ao da Boca do Lixo, produzido em São Paulo na década de 70. O Baixo Augusta tem servido de set para o longa que conta a história de Kbeto, um escritor cinquentão em crise criativa (e moral), um autor de um sucesso só que cai numa vida de sexo, drogas e rock and roll, papel de Eriberto. Maria Flor vive a filha dele e Luana, uma amiga ali da região boêmia paulistana. Glamurama conversou com os três sobre suas experiências com o universo underground, a questão do alcool e das drogas nesse contexto e até sobre o novo visual de Luana para o longa… “Tenho uma autoestima inabalável”. Vem ler! (por Michelle Licory)
Eriberto Leão: “usar todas as suas frustações e buscas hedonistas a seu favor”
“Grande parcela dos meus mestres da literatura ou música são ou foram boêmios. Portanto, posso usufruir da boemia, sempre com moderação e equilíbrio. Que conselho eu daria para o Kbeto? O aconselharia a usar toda sua experiência dessa fase, todas as suas frustações e buscas hedonistas a seu favor. Criar é também usar todas as dúvidas, loucuras e precariedades a serviço da sua arte. O fracasso pode ser a grande ponte para o sucesso. Falaria para ele assistir todas as entrevistas do mestre Antonio Abujamra”. Perguntamos se esse universo underground tem seu valor. “O que seria da poesia sem o álcool? O que seria da arte sem a boemia? Nossos heróis morreram de overdose para que não precisássemos passar por esse mesmo caminho. Seus escritos, músicas e ideias, criados através desse alto preço, chegaram até nós e possuem uma importância vital e estratégica para nossa lucidez. Raul Seixas é um exemplo. Que falta faz o poeta: ‘Controlando a minha maluquez, misturada com a minha lucidez’. Entendeu, glamurette?
Luana Piovani: “Sou boêmia nata, mas conheço meus limites e os respeito”
“O que me fez dizer sim para esse projeto foi o roteiro. Eu li o roteiro e fiquei completamente apaixonada pela história. Olha, a minha composição, com certeza, ficou mais evidente por conta da franja curta e da sobrancelha descolorida. E eu adorei o visual, apesar de ser superestranho, eu tenho uma autoestima inabalável e estou me achando supergata”. O que ela diria para o Kbeto? “Pra ele procurar uma clínica e se tratar – porque isso é uma doença, um assunto sério. É um grande problema que o Brasil enfrenta e que tem que ser tratado como uma doença. Então, é isso: não às drogas. Droga não é uma coisa legal, tanto é que a vida dele é vazia. Ele não é uma pessoa feliz. Eu gosto do universo underground, tem seu valor, sim, mas você pode passear por ele sem ser um addicted. Eu passo pelo universo underground, observo, vou até onde vai o meu limite, mas não me acabo. Sou boêmia nata, mas conheço meus limites e os respeito. Tenho um marido companheiro, que curte dançar, beber, ir a shows e nos divertimos bastante”.
Maria Flor: “Um artista precisa de, mais do que criatividade, de uma enorme perseverança para continuar tentando”
“É um filme ousado e lúdico, uma fábula contemporânea. Não sei se já tive um bloqueio criativo, mas acho muito difícil realizar uma obra. Acho que um artista precisa de, mais do que criatividade, de uma enorme perseverança para continuar tentando e pensando sobre o trabalho. Eu acho que como atriz nunca vivi isso, mas como diretora senti essa dificuldade, sim. Diria para o Kbeto se concentrar, parar de beber e produzir, mas acho que com a personalidade dele é impossível. Eu adoro sair para beber com meus amigos, mas não diria que sou boêmia. Gosto de dormir cedo, acordar bem e fazer exercício físico. Não sou uma pessoa que frequenta esse universo underground, mas adoro participar dele quando tenho oportunidade”.
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