No dia em que Cazuza completaria 60 anos, Glamurama conversou com Bebel Gilberto, uma de suas amigas mais íntimas, para saber como ela imaginaria o músico assim – mais coroa. Será que o “Exagerado” teria encaretado? “Engraçado… Estava falando sobre isso ontem: com certeza ele teria encaretado. Até porque ninguém aguenta.”
Acha que ele não seria mais o mesmo? “Todos nós encaretamos. A gente fica mais cansado, quer estar de bom humor no dia seguinte, mais esperto para poder trabalhar. O fator ressaca não existia naquela época. E faz parte da sabedoria da vida mesmo, a gente cansa. Tudo era parte daquela fase, um entusiasmo de estar começando a vida, de ser doidão. Hoje em dia a prioridade é outra. É a saúde, para aproveitar a vida. Eu, pelo menos, não aguento mais perder tempo. Isso é o mais importante.”
Mas será que ele ainda estaria ali pelo Baixo Leblon [região boêmia que frequentava bastante, no Rio]? “Acho que não. Já teria se despedido de lá. O Baixo Leblon não é mais o mesmo, a gente não encontra mais os amigos. Ele hoje estaria mais concentrado no trabalho dele, escrevendo, e querendo acordar bem no dia seguinte. Acho que o Baixo Leblon não caberia mais. Cazuza sempre foi autêntico, gostava dessas coisas, e todos nós ainda passamos por lá de vez em quando… Mas toda noite, do jeito que a gente ia, não. Ele estaria aproveitando o tempo dele melhor. Mas nada contra… Só que o que a gente fez já passou. Trinta anos depois muita coisa muda”.
E a acidez das letras em um Brasil passando por esse momento… Será que Cazuza continuaria um crítico da nossa sociedade? “Ele estaria mais atual do que nunca, informado e muito culto, como sempre foi. Com certeza, ele seria um crítico de tudo isso, estaria questionando essa loucura, que não poderia deixar de ser mencionada nas letras dele. Falo disso tudo que está acontecendo no Brasil, que sempre aconteceu e ele sempre soube dizer”. (por Michelle Licory)