Lembra da época em que casos de assédio e abuso sexual eram tratados como coisas corriqueiras nos bastidores do showbiz? Parafraseando Jimmy Kimmel, o apresentador do último Oscar, em seu monólogo de abertura na premiação, “dá pra lembrar muito bem, já que era assim há menos de um ano”. Mas essa fase de Hollywood é passado, já que o tempo de mulheres serem subjugadas por lá acabou.
“Time’s Up”, como dizem os gringos, e apesar do caminho pelo empoderamento feminino estar apenas começando a ser traçado, vale a pena falar sobre quem são as pioneiras por trás dos movimentos feministas que – a partir do escândalo Harvey Weinstein – conquistaram tanto em tão pouco tempo e definitivamente chegaram para ficar.
Glamurama aproveita a ocasião deste Dia Internacional da Mulher para falar um pouco sobre elas, que, aliás, de “sexo frágil” não têm nada!
Tarana Burke
Muito antes das notícias sobre os crimes sexuais atribuídos a Harvey Weinstein e outros figurões do showbiz virem à tona, em 2006, a ativista de direitos civis das americanas já usava a frase que se tornou um dos mantras mais citados atualmente: “Me Too”. Tarana escreveu isso há doze anos em um texto que publicou no Myspace para conclamar mulheres a aderirem sua luta pela igualdade entre os sexos e pelo fim da violência sexual contra a mulher. Adaptado para as redes sociais como #MeToo no ano passado, a palavra de ordem foi popularizada no Twitter por Alyssa Milano, atriz que atua fortemente na causa, e resultou nas confissões de abusos sofridos por famosas como Gwyneth Paltrow, Ashley Judd, Jennifer Lawrence e Uma Thurman. Já Tarana, que está desenvolvendo um documentário sobre o tema, acabou sendo eleita uma das “quebradoras de silêncio” de 2017 pela revista americana “Time”, que a incluiu em sua tradicional lista com as pessoas mais relevantes do ano.
Rose McGowan
Alçada ao estrelato no início dos anos 2000 com a série “Charmed”, a atriz teve pouquíssimos papéis no cinema, possivelmente por culpa de Weinstein. Rose afirma ter sido estuprada por ele em 1997, em pleno Festival de Cinema de Sundance, e foi uma das primeiras a denunciarem o produtor por crimes sexuais. Na época os dois chegaram a um acordo financeiro que rendeu US$ 100 mil (R$ 324,1 mil) para Rose, em troca de seu silêncio. O “The New York Times”, no entanto, acabou descobrindo a história e a publicou. Rose garante que o ex-bambambã de Hollywood fez o possível e o impossível para prejudicá-la ao longo dos anos, ao ponto de ter convencido a Amazon Studios de que era melhor cancelar um projeto seu como protagonista – a empresa nega. No fim, o tiro saiu pela culatra: sem ter muito a perder, ela usou as redes sociais, lançou uma série documental com cinco episódios e até escreveu um livro para contar detalhes sobre os abusos sofridos e até para detonar aqueles que, acredita, estão usando movimentos como o “Time’s Up” e o #MeToo de maneira hipócrita, pura e simplesmente para autopromoção.
Maha Dakhil, Michelle Kydd Lee, Hylda Queally e Christy Haubegger
Muita gente certamente nunca ouviu falar de Maha Dakhil, Michelle Kydd Lee, Hylda Queally e Christy Haubegger, quatro poderosas executivas da agência hollywoodiana CAA que decidiram batizar de Time’s Up uma iniciativa que criaram há cerca de seis meses para acabar com as discriminações de sexo na indústria do cinema e da televisão dos Estados Unidos. Graças aos contatos poderosos que tinha na manga, o quarteto em pouco tempo atraiu o interesse de um time enorme de famosas que decidiram comprar a briga pela igualdade entre homens e mulheres em seu meio, de Reese Witherspoon a Natalie Portman, passando por Lady Gaga a Cindy Lauper… e pelo menos outras 300 famosas. Acostumadas a atuar nos bastidores, Maha e companhia agora têm suas vozes ouvidas e geram resultados positivos: o fundo que elas criaram no começo do ano para levantar dinheiro em prol de vítimas de assédio sexual que pretendem acionar seus algozes na justiça já levantou mais de US$ 20 milhões (R$ 64,8 milhões) e tem o apoio de 200 advogados voluntários só nos EUA.
Asia Argento
Lideradas pela atriz italiana, um grupo de 100 mulheres do universo do entretenimento tomou coragem e veio a público denunciar Harvey Weinstein no ano passado pelos vários crimes sexuais dos quais afirmam terem sido vítimas. O padrão era sempre o mesmo: o produtor escolhia as atrizes novatas e as convidava para conversas íntimas nos quartos de hotéis onde se hospedava, sempre com o pretexto de discutir o futuro das carreiras delas e a participação dele no processo, como o todo-poderoso que era até pouco tempo atrás. A própria Asia caiu no golpe nos anos 1990, conforme revelou na época, e inclusive precisou se mudar temporariamente para a Alemanha a fim de escapar das críticas que recebeu por ter colocado a boca no trombone. Não fosse por Asia e aquelas que ela recrutou para o seu lado, dificilmente Weinstein teria caído do jeito que se viu.
Salma Hayek
Várias atrizes assinaram artigos para contar ao mundo os detalhes dos abusos que sofreram em Hollywood, mas talvez o relato que a estrela mexicana assinou no “The New York Times” tenha sido o mais significativo. Não somente pela brutalidade do que se passou entre ela e Weinstein, que chegou a ameaçá-la de morte, mas pelo fato de que Hayek representa duas minorias: ela é uma mulher latina na terra do cinema. A princípio, a protagonista de “Frida” optou por ficar calada quando foi procurada pelo “Times” para contar sua história, mas mudou de posicionamento, conforme explicou depois, porque era a coisa certa a fazer. “Passei a vida inteira sendo vítima de homens e lutando contra isso. Finalmente havia chegado a hora de agir”, Salma disse numa entrevista a Oprah Winfrey. Hoje uma das hollywoodianas mais engajadas na causa, ela também acredita que as mudanças devem acontecer de cima para baixo. “Enquanto apenas homens tiverem o poder no mundo cinematográfico, ainda haverá um terreno fértil para predadores”, a atriz afirmou há poucas semanas.
Frances McDormand
A estrela de “Três Anúncios Para Um Crime” não está aqui só porque acabou de ganhar um Oscar. Ativista há anos, ela é uma das atrizes mais engajadas de Hollywood no que diz respeito aos interesses femininos. Tanto que recusou vários papéis ao longo da carreira por não ter algumas de suas exigências atendidas como, por exemplo, incluir uma cláusula nos contratos dos trabalhos para garantir o poder de escolher parte dos colegas da equipe técnica e até do elenco de maneira diversificada, dando espaço para minorias. O entusiasmo de Frances com a ideia é tamanho que ela chegou a mencioná-la em seu discurso de agradecimento pela estatueta de Melhor Atriz que recebeu no último domingo, sugerindo aos pares que fizessem o mesmo na tentativa de acabar com as disparidades entre homens e mulheres em Hollywood. “Eu tenho duas palavras para vocês, senhoras e senhores: ‘inclusion rider’ [como é chamada a cláusula solicitada por Frances em seus trabalhos]”, disse na ocasião. (Por Anderson Antunes)
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