Com o nome de Ricardo Teixeira de volta aos noticiários nesta terça-feira, com a prisão de Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona, na Operação Jules Rimet na Espanha, Glamurama relembra o perfil do cartola publicado em maio de 2010 na Revista PODER. Abaixo, a reportagem na íntegra.
Com Ricardo Teixeira não há quem possa. O homem que controla o futebol brasileiro há mais de duas décadas nunca teve tanto poder e prestígio. Hoje, o controvertido presidente da CBF circula com desenvoltura entre as maiores figuras da política, colhe os louros por ter trazido a Copa para o Brasil e pavimenta seu caminho para a Fifa
Por Felipe Zylbersztajn para a Revista PODER de maio de 2010
No bar do lobby do hotel Windsor Barra, no Rio de Janeiro, Ricardo Teixeira bebe um copo de suco de laranja pelo canudinho, com ar tranquilo. O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) acabara de anunciar a abertura oficial do Campeonato Brasileiro de 2010. Agora, reunido à mesa reservada com dois empresários e com o assessor de comunicação da CBF Rodrigo Paiva, ele fala pouco. Quando o faz, gesticula os braços vagarosamente e quase não mexe o tronco encostado no espaldar da cadeira em que também repousa o seu paletó. Todos à mesa se calam e prestam atenção. Afinal, sabem que estão sentados ao lado de um dos homens mais poderosos do Brasil.
Há 21 anos, Ricardo Teixeira é o homem forte do futebol brasileiro. Justo ele que nunca jogou futebol, nem dirigiu clube nenhum – e, dizem os seus críticos, não é das pessoas mais interessadas no quique da bola e raramente é visto nos estádios. Quis o destino que este mineiro nascido em Carlos Chagas, cidade do norte de Minas Gerais, se tornasse genro de João Havelange, à época presidente da CBD, Confederação Brasileira de Desportos. Com a bênção do sogro (que já se havia tornado o todo-poderoso da entidade máxima do futebol, a Fifa), deixou sua corretora de investimentos para assumir, em 1989, o controle de uma CBF bagunçada e quase falida. Hoje, está à frente de uma entidade que lucrou R$ 72,3 milhões em 2009. Junto com o impressionante desempenho econômico, Teixeira traz consigo glórias (sob a sua gestão o Brasil foi duas vezes campeão do mundo e tornou-se sede da Copa de 2014), acusações que vão do nepotismo à corrupção, uma vasta coleção de inimigos e, ultimamente, muitos amigos importantes na política nacional.
No Windsor, ele avisa ao seu assessor de imprensa que o repórter à porta do bar deseja lhe falar. Rodrigo Paiva, muito cordialmente, aproxima-se e explica: “Entrevista com o presidente é praticamente impossível esses dias. Daqui ele vai à sede da CBF receber o governador da Paraíba, uma deputada gaúcha e o prefeito de Canoas, Rio Grande do Sul. De lá, vamos ao Paraguai”. Era apenas mais uma negativa que se seguia a mais de dois meses de tentativas infrutíferas. Aquele senhor grisalho avesso a entrevistas, com um copo de suco de laranja e o futebol brasileiro nas mãos é dono de uma influência que extrapola o campo em que costumam atuar os dirigentes esportivos. Por tamanha autoridade, desperta temor entre quem o conhece. Tanto que não só é praticamente impossível falar com o próprio, como também é bastante raro encontrar pessoas dispostas a falar sobre ele – a não ser na condição de que tenham suas identidades resguardadas. “A CBF hoje é mais que um balcão futebolístico que coordena o futebol brasileiro. É um braço político importante. Ricardo Teixeira tem bom trânsito tanto com o Lula quanto com grandes figuras da oposição. Conseguiu um poder político que nenhum outro presidente de CBF jamais teve”, acredita o jornalista Xico Sá, um dos poucos que falou abertamente à reportagem de PODER.
TRISTEZA, POR FAVOR,
VÁ EMBORA…
Ricardo Teixeira conheceu Lúcia Havelange aos 18 anos num baile de carnaval, em 1966. A música que ecoava pelos salões era “Tristeza”, de Haroldo Lobo e Niltinho. Quando se casaram, Teixeira, que havia abandonado a faculdade de direito na PUC do Rio de Janeiro no quarto ano, trabalhava como operador da Bolsa de Valores. Em 1973, largou a bolsa para entrar como sócio em um pequeno grupo financeiro, a Minas Investimentos, em sociedade com o pai, um irmão e o sogro – que no ano seguinte viraria presidente da Fifa. Nunca escondeu a admiração por Havelange, a quem dizia considerar um “segundo pai”, e a quem, na intimidade, costumava tratar por “Giovanni”. Admiração tamanha que batizou seus três filhos com Lúcia como Teixeira Havelange, e não Havelange Teixeira.
O registro invertido perpetuaria o sobrenome do sogro, uma homenagem e tanto. Teixeira ganhou a gratidão de Havelange e começou a trilhar os seus passos certeiros na política esportiva.
Entre 1983 e 1989, a família Havelange viu sua influência na CBF esmorecer. Embora Teixeira já atuasse nos bastidores, nesse período os candidatos apoiados pelo presidente da Fifa foram derrotados por duas vezes seguidas. Em 1989, os intermediários ficaram de lado e o próprio Ricardo Teixeira se lançou como candidato. Por meio de sua empresa, teria ajudado financeiramente federações estaduais dos estados mais pobres, ganhando a simpatia dos presidentes das entidades que decidiam a eleição. Candidato único, ele assumiu a presidência no dia 16 de janeiro de 1989, cadeira em que se mantém até hoje, com mandato até 2014, quando completará “bodas de prata” como comandante do futebol brasileiro.
Torcedor do Flamengo, mas sem experiência anterior como dirigente esportivo, foi taxado como “paraquedista” no mundo do futebol. O ex-presidente do Vasco e hoje desafeto de Teixeira, Eurico Miranda, lembra que ajudou a elegê-lo a pedido de Havelange. “Ele se iniciou conhecendo muito pouco. Lógico que o tempo vai dando conhecimento, tanto que hoje o projeto dele é claramente a Fifa.” Foi Miranda quem indicou Sebastião Lazaroni como técnico para a Copa de 90. Apesar do fracasso na Itália, ele foi reeleito na presidência da CBF em 91. Ouvindo o conselho do sogro, entregou a seleção à dobradinha Carlos Alberto Parreira-Mário Jorge Lobo Zagallo, vitoriosa em 1970 com o próprio Havelange.
Antes de chegar à vitória na Copa de 94, nos Estados Unidos, porém, o modelo de gestão de Teixeira começava a sofrer os primeiros ataques. Uma reportagem da revista italiana Guerin Sportivo afirmava que Teixeira teria recebido mais de US$ 400 mil de empreiteiros da cidade de Gubbio para concentrar ali a seleção brasileira durante a Copa de 1990. Os ex-jogadores Alemão e Zico o acusaram de corrupção e foram processados. Pelé, em entrevista ao jornalista Juca Kfouri para a revista Playboy em 1993, declarou que a CBF teria recusado uma proposta da Pelé Sports & Marketing para a compra de direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, em favor de outra, supostamente pior. O presidente da CBF entrou com uma ação contra Pelé, e o rei do futebol nem foi convidado para o sorteio de grupos da Copa de 1994. Em outubro daquele ano, a revista Placar afirmava que o futebol brasileiro conhecia o caos a partir da administração de Teixeira. O editorial da revista era assinado por Juca Kfouri, que, se já não era benquisto pelo presidente da CBF, passava a se tornar seu grande rival na imprensa a partir dali.
É TETRA!
Havia 24 anos que o Brasil não ganhava uma Copa e qualquer desavisado sabia da importância de um título em 1994 para a manutenção do poder de Teixeira sobre o futebol brasileiro. “Acho que bastava o Brasil ter perdido nos pênaltis em 94 para ele ter dançado. Mas o sucesso da seleção principal acaba encobrindo essa confusão de campeonatos mal- geridos e mal organizados no Brasil”, acredita Xico Sá. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, na noite do título, o presidente da CBF cambaleava embriagado pelo hotel Marriott, em Fullerton, onde a seleção estava hospedada, e repetia em voz alta: “Ganhamos, apesar da imprensa paulista, seus filhos da p…!”. Seu tio, Marco Antônio Teixeira, secretário-geral da CBF, teria entrado numa briga com um repórter, que terminou apartada pela polícia e acabou com a comemoração brasileira.
Em 1994, a seleção trouxe para casa, além da taça, mais 17 toneladas de bagagem no caso que ficou conhecido como o “voo da muamba”. Na alfândega brasileira, ficaram indignados com a possibilidade de passarem pelos trâmites normais de inspeção. Depois de alguns telefonemas de Teixeira e da ameaça de devolver as condecorações recebidas do presidente Itamar Franco, a bagagem foi liberada sem pagamentos de impostos. Uma ação de improbidade foi ajuizada em 1999 e a sentença de primeira instância saiu dez anos depois. Teixeira foi condenado à perda dos direitos políticos e proibido de contratar com o poder público, como pessoa física, por três anos.
Um importante personagem da política esportiva brasileira diz que Teixeira sempre soube administrar habilmente a seleção, que se tornou uma marca de sucesso sob sua gestão. “Ele tem uma inteligência acima da média dos dirigentes do país e conseguiu bons resultados com a seleção. Por outro lado, o futebol local teve uma involução nesse período. Os jogadores brasileiros eram vendidos a altos valores, o que capitalizava os clubes, mas Teixeira nada fez no sentido de dar uma ordem a esses clubes para usar o dinheiro corretamente. Apesar de haver entrado muito dinheiro no nosso futebol, os clubes se endividaram e já quebraram duas ou três vezes.”
A ERA NIKE
Em 1996, o presidente da CBF anunciou, orgulhoso, que havia assinado “o maior contrato de esportes já firmado no mundo” com a multinacional de material esportivo Nike, nova patrocinadora da seleção. Teixeira mostrava-se um habilidoso administrador, alçando voos próprios e descolando sua imagem da do seu mentor, Havelange. Além da CBF, Teixeira administrava uma revenda de carros, um restaurante e duas choperias (onde a seleção costumava realizar eventos, como o anúncio de convocação de jogadores). No começo de 1997, veio a separação de Lúcia – segundo seus desafetos, motivada pela paixão de Teixeira por destilados escoceses. Seu refúgio nos fins de semana era a fazenda Santa Rosa, em Piraí, a 70 quilômetros do Rio, onde montou um pequeno laticínio que fornecia produtos para a entidade que presidia. Após a separação, Teixeira teve um namoro sob holofotes com a socialite Narcisa Tamborindeguy e, logo em seguida, passou a viver com Ana Rodrigues, sua atual mulher, com quem tem uma filha. A seleção brasileira, sob o comando de Zagallo, vivia grande fase. Foi uma época boa na CBF.
Mas a Copa de 98 não foi o que Teixeira esperava. Quando a Fifa vetou o credenciamento ao jornalista da Folha de S.Paulo, Juca Kfouri, órgãos do mundo inteiro em defesa dos jornalistas se manifestaram e a entidade teve de voltar atrás, colocando o desafeto do presidente da CBF em evidência. Segundo um jornalista esportivo que pediu para não ser identificado, o episódio demonstrou uma das principais características de Teixeira: “Ele é muito rancoroso. Não perdoa seus desafetos. Seu jeito de atuar tem algo de clã – os que estão comigo e os que estão contra mim”. Walter de Mattos Júnior, publisher do jornal Lance!, concorda. “Os veículos que não fazem uma cobertura submissa da CBF são muito penalizados pela entidade. O Ricardo Teixeira não responde a nenhuma pergunta dos nossos jornalistas, por exemplo, e até hoje não conseguimos uma entrevista exclusiva com o Dunga. Um dia um diretor da CBF estava com um dos nossos repórteres num treinamento, o Ricardo Teixeira chegou perto e falou aos gritos: “Já disse que não é para falar com o Lance!”.
A frustrante derrota da seleção no final da Copa de 1998 para a França, com o nebuloso episódio da escalação de Ronaldo apesar da crise “convulsiva” do jogador patrocinado pela Nike, levantou suspeitas. Apesar do anúncio do milionário contrato com a Nike, nenhum jornalista tinha acesso ao documento. Se os bons resultados da seleção encobriam as críticas ao trabalho de Teixeira, o contrário também era verdadeiro. Além disso, o processo de separação corria de forma litigiosa, e o relacionamento com “Giovanni” andava estremecido, o que o enfraquecia politicamente. No começo de 1999, Teixeira organizou uma festa em homenagem ao ex-sogro no Golden Room do Copacabana Palace, com mais de 300 convidados, entre presidentes de federações estaduais, ministros e governadores. O homenageado, no entanto, não apareceu. Preferiu jantar na casa de uma sobrinha cercado pela família em que o assunto da homenagem não foi mencionado. Dias depois, Juca Kfouri teve acesso ao contrato da CBF com a Nike e publicou na Folha de S.Paulo seus pontos mais polêmicos. A matéria que acompanhava o artigo apontava cláusulas surpreendentes, como a que a Nike escolheria o adversário do Brasil em 50 amistosos ao longo de dez anos, em que deveriam estar presentes pelo menos oito titulares. Kfouri escreveu: “Cabe à cidadania dar um basta a tal estado de coisas”. Ainda no início de 1999, o deputado Aldo Rebelo começou a colher assinaturas para uma CPI que investigasse o caso. Começava ali o inferno astral de Teixeira.
Em outubro de 2000, a Câmara dos Deputados instaurou a “CPI CBF/Nike”, presidida por Rebelo. Por meio da quebra de sigilo bancário e fiscal da CBF, a CPI apontou empréstimos junto ao banco americano Delta Bank, do brasileiro Aloysio Faria, tomados a juros altíssimos, auxílio financeiro a federações estaduais e a campanhas eleitorais de políticos (conhecidos pela alcunha de “bancada da bola”) e indícios de uso dos bens da CBF em proveito de interesses privados, como o pagamento de advogados pela confederação para solucionar pendências judiciais de Teixeira. Depois de nove meses, a CPI terminou sem aprovar um relatório final, mas representou um dos maiores ataques ao presidente da CBF.
Praticamente ao mesmo tempo, a “CPI do Futebol” no Senado foi presidida pelo senador Alvaro Dias e aprovou, por unanimidade, em dezembro de 2001, um relatório que condenou a gestão de Teixeira, acusado de evasão de divisas em empréstimos feitos pelo americano Delta Bank à CBF. O governo pediu a renúncia do presidente da CBF. Entre outros pontos, Teixeira foi denunciado pelo Ministério Público Federal, mas a ação foi trancada pelo Tribunal Regional Federal no Rio. Àquela época, muito se falou numa possível renúncia de Teixeira. Sua popularidade havia chegado ao fundo do poço. Mas havia outra Copa à vista…
PENTACAMPEÃO!
O presidente da CBF precisava de bons resultados na Copa da Coreia do Sul e Japão, em 2002, e teve de se render a Luiz Felipe Scolari, que não era o seu técnico preferido. “Sempre que estava frágil, Teixeira entregou o comando para um técnico forte, de maneira que, em caso de derrota, nada respingaria nele”, disse a PODER uma figura conhecida da política esportiva brasileira. Deu certo. A vitória na Copa de 2002 funcionou como uma resposta de Teixeira às CPIs. “Quem não acreditou na seleção brasileira, perdeu. A resposta do presidente é a vitória”, afirmou à época Marco Antônio Teixeira. Nada poderia ser melhor para Ricardo Teixeira.
Ou talvez pudesse. As eleições presidenciais daquele ano puseram Lula no Planalto. Apesar de a CBF ser historicamente ligada aos partidos descendentes da ditadura militar, e o PT ter tido uma postura hostil em relação à entidade até então, Lula teria se encantado com a possibilidade de trazer a Copa para o Brasil. Era uma oportunidade política que Ricardo Teixeira não poderia desperdiçar. Logo no começo do mandato, ao sancionar o Estatuto do Torcedor, em maio de 2003, que ia contra os interesses da CBF, Lula discursava: “Nunca mais quero ouvir o Juca Kfouri dizer que no Brasil o torcedor é tratado como gado”. Mas não demorou muito para a aproximação com a CBF acontecer.
“Ele começou a fazer justamente o contrário do discurso do dia em que sancionou o estatuto! À medida que o prestigio com a seleção foi aumentando, o Lula viu no futebol um caminho de relações públicas mundiais, e sempre levava uma camisa amarelinha nos encontros oficiais”, conta um dos participantes do grupo que elaborou o estatuto. Se o clima já era bom no Planato, tudo ficou melhor no Parlamento, quando Teixeira, com a ajuda de Lula, lançou o projeto da Timemania, a loteria para salvar os clubes endividados em 2006. A medida agradou, já que muitos parlamentares possuem algum vínculo com associações desportivas. A verdade é que, a partir da Copa de 2002, o presidente da CBF havia conseguido inegáveis avanços. Entre eles, a implantação do sistema de pontos corridos, o respeito às regras de acesso e rebaixamento e a progressiva redução do número de clubes. As medidas aumentaram a competitividade, o que resultou em aumento de público e de audiência nas tevês. O Brasil era pentacampeão mundial e as maiores estrelas da bola eram brasileiras.
Na Copa de 2006, na Alemanha, o que se viu foi um clima de festa, com jogadores que pareciam mais focados no assédio do que nos jogos em si. Nathalie Peacock, casada àquela época com um amigo pessoal de Teixeira, recorda o clima de fartura em reportagem à revista da ESPN. “Entre os jogos (…) nossas famílias pegavam um jatinho (na Alemanha) para almoçar na Espanha e voltar em seguida. Comecei a achar aquilo tudo muito exagerado. Era um absurdo, uma loucura.” A derrota para a França na semifinal foi um baque. Para dar uma resposta à opinião pública e botar ordem na casa, Teixeira decidiu chamar o capitão da seleção de 94 e 98: Dunga, um treinador sem experiência, mas muito mais focado na disciplina do que na farra. “Ao lançar um novato, ele fez questão de escolher um cara que não pudesse ter questionamento. Se não desse certo, ele o demitiria rapidamente antes das eliminatórias para a Copa, sem botar a seleção em risco”, acredita Xico Sá. Enquanto isso, Teixeira conseguia a sua maior vitória extracampo.
REBOLATION
O antigo sonho político de Teixeira ganhou vida em 2007, quando o Brasil foi anunciado como sede da Copa de 2014. Em torno dele, durante o anúncio na Suíça, podiam ser vistos o presidente Lula, 12 governadores (entre eles, Aécio Neves e José Serra, possíveis presidenciáveis àquela altura) e três ministros (Orlando Silva Jr., do Esporte, Marta Suplicy, do Turismo, e Celso Amorim, das Relações Exteriores). Todos queriam sair na foto ao lado do presidente da CBF. Segundo um assessor de Serra: “Aparecer na foto pode não trazer muitos dividendos, mas ficar fora dela é prejuízo eleitoral certo”. A cerimônia coroava a reabilitação de Teixeira, que trocava as ligações com o baixo clero do Congresso pela convivência com governadores e com o presidente da República. “Ricardo Teixeira adquiriu um poder muito grande com a realização da Copa no Brasil e passou do poder sobre o futebol para um poder político. Acho que o histórico de administração não poderia dar tanto poder assim ao presidente da CBF”, diz o deputado Silvio Torres (PSDB), que foi relator da CPI CBF/Nike e que comanda uma rede de fiscalização para os gastos na Copa de 2014.
Em 2010, ano em que o “Rebolation” ecoou durante o carnaval, Ricardo Teixeira acumula a função de presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa de 2014. A filha, Joana Havelange, é a secretária-geral do mesmo comitê (os outros dois filhos de Teixeira, Ricardo e Roberto, cuidam de negócios da família e não são vistos no mundo do futebol). A primeira baixa do grupo se deu com a saída da Mário Rosa, diretor de relações institucionais, em março deste ano.
Especialista em gerenciamento de crises, era o fiel escudeiro de Teixeira desde as CPIs. O atraso no início das obras preocupa o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke. “É incrível como o Brasil está atrasado. Muitos dos prazos já expiraram e nada aconteceu. O Brasil não está no caminho certo.” Já se comenta que a Fifa estuda uma sede alternativa para 2014, hipótese que o assessor da CBF e membro do comitê organizador, Rodrigo Paiva, descarta. “Não existe plano B nenhum. A Copa será no Brasil”, garante.
Caso o Brasil vá bem na África em 2010 e a Copa de 2014 se confirme em solo nacional, o poder de Teixeira deve chegar a níveis estratosféricos. A previsão é de que ele se lance como candidato à presidência da Fifa, seguindo os passos do mentor e ex-sogro João Havelange. Não há de se duvidar da capacidade política do mineiro que nunca jogou bola, mas que domina o futebol brasileiro há mais de duas décadas. “Se o Brasil for campeão agora, e com a Copa de 2014 aqui, tudo se torna favorável a essa ascensão internacional. O cenário é mesmo muito bom para ele”, prevê Xico Sá. É esperar para ver.
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