Já faz mais de três anos que Barack Obama entregou o cargo de presidente dos Estados Unidos ao sucessor e também seu maior rival, Donald Trump. Mas ainda tem gente que sente saudades do político de estilo amistoso, o primeiro afrodescendente a ocupar o cargo mais importante do planeta e, cá entre nós, um dos poucos presidentes americanos na história que são ou foram tão celebridades quanto políticos, algo que o torna um ex-presidente em evidência como poucos foram até hoje.
Tá certo que o atual presidente dos EUA chegou à Casa Branca praticamente saído de um reality show, mas antes dele a última vez que algo parecido havia acontecido com um inquilino da residência oficial foi no governo de Ronald Reagan, um ex-ator de cinema que sabia lidar com as câmeras muito bem. Não tivesse sido engolido por certos escândalos, Bill Clinton teria sido outro “case” de sucesso nesse quesito.
Questões políticas à parte, Obama é uma unanimidade em certos aspectos que tornam uma pessoa pública imbatível na arte de atrair ouvidos e olhares, seu combustível natural para se manter em evidência. E pelo visto o marido de Michelle Obama agora quer capitalizar esse potencial em Hollywood, haja visto o polpudo contrato que ele e a mulher assinaram com a Netflix para a produção de documentários.
Se Obama (o dele ou o dela) será um sobrenome que adornará os castões de visita presidenciais no futuro, só mesmo o tempo dirá. Mas, enquanto isso, vale a pena relembrar algumas das qualidades que fazem do dono do bordão “Yes, we can!” e aniversariante dessa terça-feira, dia em que completa 59 anos, o presidente mais pop do pedaço. Continua lendo… (Por Anderson Antunes)
A oratória
O primeiro grande diferencial da chegada de Obama ao poder após o governo de George W. Bush, que nunca teve muito talento com as palavras, foi sua capacidade de se expressar bem. Parte disso se deve ao escritor dos discursos dele, Cody Keenan, mas o próprio Obama deu show em várias ocasiões em que escolheu o improviso em vez do texto pronto. Em um de seus melhores momentos, ele chegou a entoar a canção “Amazing Grace”, uma espécie de hino não oficial dos Estados Unidos, no funeral do reverendo e senador Clementa Pinckney, assassinado em 2015 durante uma chacina em uma igreja de Charleston, no sudeste americano. Foi de arrepiar.
A defesa das mulheres
Obama foi o presidente americano que mais se posicionou favoravelmente aos direitos das mulheres até hoje. Mesmo em questões polêmicas, como o aborto, ele nunca se esquivou de expressar suas opiniões e, por conta disso, em várias ocasiões acabou ganhando mais inimigos do que apoiadores. Em agosto de 2016, quando completou 55 anos, ele até publicou uma carta na qual se autoproclamou, com orgulho, como o primeiro ocupante da Casa Branca declaradamente feminista. “É isso que é o feminismo no século 21: a ideia de que quando todos somos iguais, somos também mais livres”, o político escreveu na carta.
O amor declarado por Michelle Obama
O governo de Obama também foi totalmente marcado pela presença da mulher dele, a primeira-dama Michelle Obama. A relação dos dois em público ia totalmente contra qualquer cartilha política: eles trocavam carinhos, faziam piadas sobre si mesmos e proclamavam sem o menor pudor o amor que sentem um pelo outro. O “estilo Hollywood” deles foi um dos pontos altos de seus oito anos em Washington. Os críticos do casal até dizem que tanta paixão nada mais é do que uma estratégia para que Michelle seja lançada como candidata à presidência no futuro (ela nega de pés juntos que isso seja verdade). Uma coisa é certa: os dois vão continuar sendo um dos casais que mais rendem notícias por um bom tempo.
A diplomacia nota 10
Poucos presidentes americanos se deram tão bem no universo político internacional. O exemplo maior disso é o estreitamento das relações entre os Estados Unidos e Cuba, fato que Obama considera como um dos maiores marcos de sua administração. Ele também jogou seu charme para políticos da América Latina que, em outras épocas, se declararam contra o “império ianque”. Aliás, quem não lembra da vez em que Obama se referiu ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como “o cara”, algo que até hoje é festejado pelos aliados do petista? Isso sem falar que Obama ganhou o prêmio Nobel da Paz em 2009 justamente por suas contribuições à diplomacia internacional.
O apoio à comunidade LGBT
Nesse ponto, Obama realmente fez história. Além de liderar os esforços pela legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo nos EUA, o que ocorreu em 2015, ele nomeou, em 2010, a física e engenheira Amanda Simpson como conselheira do Departamento de Comércio dos Estados Unidos. Foi a primeira vez que uma mulher assumidamente transgênera recebeu um cargo de confiança de um presidente americano. Anos depois, Obama também homenageou a agora encrencada Ellen DeGeneres, uma das maiores vozes da comunidade LGBT dos Estados Unidos, com a Medalha da Liberdade, a mais alta condecoração civil do país.
O gabinete mais diverso da história
Pra ser justo, a comunidade LGBT não foi a única minoria que teve destaque no governo de Obama. O gabinete dele foi, de maneira geral, o mais diverso de todos os tempos. Mais da metade (53,5%) dos cargos de confiança da administração Obama foram para mulheres e membros de minorias. Para efeito de comparação, no governo de George W. Bush esses grupos conquistaram apenas 25,6% dos cargos de confiança. Ele também nomeou Loretta Lynch como procuradora-geral dos Estados Unidos, a primeira mulher negra na função, e indicou Sonia Sotomayor para a Suprema Corte, tornando ela a primeira hispânica a fazer parte da instituição.
As aparições na TV
Ao longo de oito anos de governo, Obama trabalhou muito, e os cabelos brancos dele estão aí para comprovar isso. Mas, entre um compromisso e outro, ele sempre arranjou tempo para visitar os principais talk-shows da TV americana, algo que outros presidentes americanos costumavam fazer bem menos. E como é pop, Obama nunca decepcionava o público em suas aparições: ele dançou no programa de DeGeneres, leu tuítes que falavam mal dele próprio no programa de Jimmy Kimmel, fez uma paródia musical com notícias do momento ao lado de Jimmy Fallon e até substituiu Stephen Colbert em um de seus monólogos depois que o comediante declarou que nenhum político seria capaz de fazer o trabalho dele. Não é pra qualquer um.
O talento com as crianças
Chefes de estado são homens sisudos cheios de problemas para resolver e que não têm tempo para brincadeiras. Certo? Não no caso de Obama, que recebeu várias crianças na Casa Branca ao longo de seu governo, como o youtuber Robert Novak, intérprete do personagem Kid President, e a filha de Ben Rhodes, seu assessor para assuntos de segurança, com quem brincou no Salão Oval. Um dos momentos de bastidores mais marcantes dele, no entanto, é de 2009, quando um garoto negro de 5 anos visitou a residência oficial e pediu para que Obama deixasse ele tocar seu cabelo, para ver se era parecido com o dele. Pedido feito e prontamente atendido, por sinal. O clique do momento é um dos poucos porta-retratos presentes na mesa de trabalho dele.
Ele também erra no figurino
Nem Obama consegue ser cool em todos os momentos. A prova disso é o pedido feito a ele em 2009, pelo jornal “The New York Times”, que sugeriu ao então ocupante do cargo mais importante do planeta a contratação urgente de um personal shopper. Tudo por conta das calças jeans pra lá de largas que ele costuma usar, e que se tornaram motivo de piada desde então. Ainda no clima gente como a gente, Obama também era fã confesso de “Game of Thrones”, cujos capítulos recebia em casa antecipadamente quando estava no poder.
Ele acredita no potencial do Brasil
Em julho de 2015, na Casa Branca, durante uma visita de estado da ex-presidente Dilma Rousseff, Obama disse com todas as letras que via o Brasil como “uma potência global”, algo que não se ouve todo dia de um presidente americano. Obama esteve no Brasil em 2011, quando passou por Brasília e pelo Rio de Janeiro. Na ocasião, ele defendeu um maior protagonismo do país no cenário mundial e lembrou da mãe, com quem assistiu “Orfeu Negro” em 1983. “Ela jamais imaginaria que minha primeira viagem ao Brasil seria como presidente do meu país”, ele disse, emocionado, enquanto passeava pela Cidade de Deus.
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