Pouca gente fez tanto barulho no século 20 quanto Fidel Castro. Na América Latina, ninguém. Um jovem advogado de família tradicional que decidiu defender as causas populares de moradia e acesso à terra e a partir daí abraçou o radicalismo da guerrilha para derrubar uma ditadura que tinha franco apoio dos Estados Unidos. Resultado (após muitas idas e vindas): uma república socialista pró-União Soviética a poucos quilômetros dos EUA. Em tempos de Guerra Fria, o caos. Pós-Guerra Fria, um acinte à nova ordem.
Tudo mudou, Barack Obama foi à terra de José Martí acenar a um novo tempo – que Raul Castro já tinha demonstrado desde que assumiu a presidência em lugar de Fidel em 2008. Novo tempo de abertura, mas não necessariamente de flexibilização dos direitos adquiridos pela revolução, garantem os cubanos. Mas fato é que, sem Fidel, enfrentar é difícil. E sua morte apenas deixa isso claro.
Para o Brasil, a morte de Fidel hoje não significa tanto. Para a esquerda sim, claro. E historicamente também, já que os partidos de quadros foram predominantes na luta armada da ditadura e vários grupos levaram dólares soviéticos via Cuba. Dessa época, ficou notória a briga de Brizola com Castro por conta do financiamento da guerrilha do Caparaó: Brizola reclamava falta de recursos e Fidel o chamava de “el ratón” por supostamente ter usado os recursos para comprar fazendas no Uruguai.
Ainda nas relações verde-amarelas, Fidel tinha grande afinidade com Frei Betto. O sacerdote e escritor premiado publicou “Fidel e a Religião”, livro-ícone em Cuba por abordar o maior tabu do comunismo na ultracatólica América Latina por meio de entrevistas com o próprio Fidel Castro – que nunca renegou sua criação católica, mesmo tendo renegado e nacionalizado as terras da própria família. Por esse livro, Frei Betto é o brasileiro mais popular em Cuba (Roberto Carlos é o segundo e Pelé, o terceiro) e vendeu mais de um milhão de exemplares num paí de 11 milhões de habitantes.
Para além de qualquer divergência política, Fidel Castro foi um dos maiores personagens do século 20, à altura de Winston Churchill, Franklin Roosevelt, Mahatma Gandhi e Mao Tsé-Tung. Sua imagem na Convenção da ONU, em Nova York, nos primeiros tempos da Revolução, muito antes de todas as polêmicas do regime cubano virem à tona (e não foram poucas, e incluíram até a perseguição penal de homossexuais), resume. Será que a história de fato o absolverá? (Por Fábio Dutra)
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