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A modelo Vanessa Alcântara, que denunciou o envolvimento de seu ex-namorado em um esquema de corrupção na prefeitura de SP || Créditos: André Giorgi / J.P
A modelo Vanessa Alcântara, que denunciou o envolvimento de seu ex-namorado em um esquema de corrupção na prefeitura de SP || Créditos: André Giorgi / J.P
A modelo Vanessa Alcântara, que denunciou o envolvimento de seu ex-namorado em um esquema de corrupção na prefeitura de SP || Créditos: André Giorgi / J.P

Três anos depois de denunciar o envolvimento de seu ex-namorado, o auditor fiscal Luís Alexandre Cardoso de Magalhães, em um esquema de corrupção na prefeitura, a modelo Vanessa Alcântara diz que está sendo perseguida. Presa por outros crimes, ela conversou com J.P ao sair da cadeia

Por Paulo Sampaio para a Revista J.P

Uma semana depois de deixar o presídio de Mogi Guaçu, a 160 km de São Paulo, a modelo Vanessa Alcântara contratou um assessor de imprensa para ajudá-la a “trabalhar” sua imagem. A ideia era “criar um personagem na mídia” para se defender. Ex-namorada do auditor fiscal da Prefeitura Luís Alexandre Cardoso de Magalhães, integrante da chamada máfia do ISS (Imposto sobre Serviços), ela denunciou, em agosto de 2013, um esquema de achaque a construtoras que provocou um rombo de cerca de R$ 500 milhões nos cofres públicos. Junto com outros três auditores, incluindo o ex-subsecretário da Receita Municipal Ronilson Rodrigues, Magalhães cobrava propina para anistiar dívidas com o fisco. Os quatro chegaram a ser presos preventivamente, em outubro daquele ano, mas ele fechou um acordo de delação premiada e passou a responder em liberdade pelos crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e concussão (corrupção em órgão público).

Vanessa não esconde que sua intenção era se vingar. A modelo não perdoou o ex por ter tomado a guarda do filho recém-nascido alegando que ela sofre de problemas mentais. Em uma das brigas do casal, ao telefone, a modelo teria agredido fisicamente a criança para provocar o pai. Na versão do auditor, ela perguntou: “Você quer teu filho? Não vou dar! E olha o que eu faço com ele… (e aplicou quatro tapas na boca do bebê)”. O auditor diz que conseguiu a gravação do telefonema com um agente do Ministério Público que já o vinha monitorando por causa da fraude na prefeitura. Magalhães, ele mesmo, não é exatamente um exemplo de pai.  Na ocasião em que foi denunciado, confessou o crime em uma entrevista exclusiva ao Fantástico, da TV Globo, quando disse que gastou a maior parte do dinheiro com garotas de programa e também na aquisição de carros de luxo e de uma lancha de R$ 500 mil. “Cada um (dos envolvidos) teve a sua compulsão. Eu comecei a ficar compulsivo por sexo. Ia a lugares frequentados por garotas de programa, e chegava a ficar lá das 16h às 6h.” O auditor não quis posar para foto: “Prefiro não expor meu filho”, disse ele a J.P, alegando que tem receio de que o filho sofra bullying na escola. Vanessa reage indignada: “Ele rouba meio milhão, conta isso na TV e ainda acha que pode ser um bom pai. Enquanto isso, eu vou presa.”

Alexandre Cardoso Magalhaes, fiscal da prefeitura de São Paulo envolvido no suposto esquema de corrupção Adriano Vizoni/Folhapress,
Alexandre Cardoso Magalhães, fiscal da prefeitura de São Paulo envolvido no suposto esquema de corrupção || Créditos: Adriano Vizoni/Folhapress

Mordida no Avô

A prisão de Vanessa não tem nenhuma relação com os crimes perpetrados por Magalhães. Ela até lembra dos tempos em que o casal contava o dinheiro roubado no tapete da sala do apartamento, em Moema, zona sul de São Paulo, e também dos jantares de até R$ 10 mil que o fiscal pagava em restaurantes da moda. Garante, contudo, que sempre o alertou para o fato de que aquilo ainda traria muito aborrecimento. Não que ela seja um modelo de ponderação. Em abril, numa briga com a escrivã da Delegacia de Defesa da Mulher, em Valinhos,  a cerca de 90 km de São Paulo, Vanessa cometeu sete delitos em meia hora: “Bateram no meu carro, eu não quis brigar com o motorista, fui ao distrito para registrar um boletim de ocorrência. Lá, tive alguns problemas”, lembra ela. Pelo relato da juíza Daniella Soriano Uccelli, da Comarca de Valinhos, a história foi longe. A confusão começou quando a escrivã Valdires do Nascimento Vidoto informou a Vanessa que já havia um inquérito instaurado contra ela.  A modelo era acusada de ter agredido fisicamente o avô, Deoclides, de 85 anos. Em uma entrevista à TV Record,  ele mostra a ponta do dedo indicador esquerdo mutilado, dizendo  que fora vítima de uma mordida da neta: “Cheguei a um ponto com ela em que não dava mais para deixar passar, tive de procurar a polícia”, contou.  Vanessa afirma que a agredida foi ela: “Imagine! Ele é que me bateu com uma raquete. Eu apenas me defendi”.

A modelo pediu uma cópia do inquérito,  informou-se que não era possível fornecer. Ela então resolveu fotografar o documento com o celular, e acabou tendo o aparelho confiscado. Fora de si, rasgou o inquérito, tentou morder Valdires e arranhou seu braço. Ao ouvir os gritos, a delegada Ruth Daniel foi ver o que estava acontecendo na sala da escrivã. Lá, pediu que Vanessa se acalmasse, mas a modelo reagiu aos berros: “Quem você pensa que é? Você não manda aqui”, e em seguida chamou a delegada de “corrupta” e “vagabunda”.  Ao revistarem sua bolsa, as policiais encontraram maconha. Ela acabou detida por lesão corporal, supressão de documento, desacato, resistência, calúnia, injúria e porte de droga. “Fui buscar ajuda na delegacia, acabei presa. Pode?” Com a argumentação de que Vanessa é agressiva e que poderia colocar em risco a ordem pública,  a juíza Daniella converteu o flagrante em prisão preventiva.

Alergia a inseto

Encaminhada à penitenciária de Paulínia, a 120 km de SP, a modelo passou sete dias detida, acreditando que logo seria liberada. Seu advogado, Evandro Campoi, impetrou três pedidos de habeas corpus, mas só em agosto conseguiu que Vanessa recorresse da pena em liberdade. Campoi agora pede a pena mínima para o caso dela (três anos), e em regime aberto: “Ela é ré primária, e a única acusação grave seria a da supressão de documento. Só que minha cliente não inutilizou o inquérito, apenas rasgou em uma das extremidades”. Nos quatro meses em que ficou detida, ela foi transferida três vezes. Por causa do mau comportamento, chegou a ser expulsa da penitenciária de Tremembé, conhecida por acolher detentos “famosos” (como Suzane von Richthofen e Ana Carolina Jatobá). “Tremembé tem mais recursos, mas você precisa de um advogado influente para conseguir privilégios. A (Ana Carolina) Jatobá, por exemplo, reclamou de dor nas costas, deram um colchão alto para ela. Depois, disse que tinha alergia a inseto, colocaram um mosquiteiro na cela. Eu tenho alergia a barata e ninguém me deu nem uma vassoura para varrer os cantos. Tentei me matar por causa delas (baratas). E tinha aranha também, uns bichos que eu nem sei o nome…”

Para impor respeito, a modelo perguntava: “Você sabe com quem está falando?”, e lembrava que no último Carnaval fora musa da escola de samba Acadêmicos do Tucuruvi.  A arrogância só fez aumentar o índice de rejeição a ela. No episódio que culminou com sua transferência para a penitenciária de Mogi Guaçu, Vanessa implicou com funcionários de Tremembé que soldavam as grades de sua cela. “Tudo bem soldar, mas não comigo dentro. Aquilo encheu de fumaça.” Em Mogi Guaçu, onde ela já chegou com a pecha de problemática, as detentas reagiram mal quando foram chamadas de “porcas” e “sujas”. A musa tenta explicar: “Os carcereiros dão pra gente uma bermuda, uma calça, uma blusa de frio e uma camiseta. Só. A água é gelada. Adivinha se alguém ali tomava banho todo dia. Eu tentava fazê-las se lavar pelo menos da cintura pra baixo”.

Vanessa Alcântara || Créditos: André Giorgi / J.P
Vanessa Alcântara || Créditos: André Giorgi / J.P

Cyberbullying

Fora da cadeia desde 8 de agosto, Vanessa agora reclama de perseguição. Diz que o ex-namorado posta imagens dela pelada na internet, faz montagens de fotos suas e “usa a calúnia” para difamá-la. “Sou vítima de cyberbullying. Pedi proteção ao Ministério Público, não adiantou. Então, resolvi entrar na brincadeira.” Sua intenção é ficar famosa, atrair uma multidão de seguidores e fazer com que eles tomem sua defesa. Ironicamente, o caminho mais curto que encontrou foi justamente a exposição em trajes sumários. Vestindo um microsshort de lycra, Vanessa aderiu em março a uma manifestação contra a corrupção na avenida Paulista.  Traseiro erguido na direção dos fotógrafos, ela levantava os braços enrolados na bandeira do Brasil e fazia pose de revolucionária. “Já fiz minha parte em 2013, quando denunciei o esquema para o Ministério Público. Mas minha luta contra a corrupção continua. Foi o maior ato de amor que já tive pelo meu país”, declarou aos jornalistas, apresentando-se como ex-namorada do fiscal corrupto.

Magalhães relata que a conheceu em uma casa de garotas de programa, num momento em que sua vida “não estava bacana”: “Pegava uma moça, me divertia durante duas semanas, e ia para outra. Essa (Vanessa) sentou na cadeirinha e não quis mais sair”. O auditor define a modelo como “simples, mas não humilde”. “Nunca cheguei a gastar fortunas com ela, até porque malbec, pra essa moça, é uma marca de perfume”, diz ele, referindo-se a um tipo de uva francesa que produz um vinho muito apreciado pelos enófilos. Vanessa afirma que essas declarações fazem parte do projeto dele para difamá-la. Diz que Magalhães tentou fechar sua boca com R$ 600 mil e um (Range Rover) Evoque. Mas agora que ela abraçou a luta contra a corrupção, nem ficaria bem. De qualquer maneira, ela conta que é de “família estruturada”, filha de um engenheiro químico “que agora está trabalhando de novo”, e uma “cosmetóloga com MBA”.  “Sempre primei pela educação”, afirma a modelo, que não responde apenas pela mutilação do dedo do avô, mas também por outros 20 boletins de ocorrência registrados por diferentes motivos.  “Ela é completamente descompensada”, afirma Magalhães, que, por sua vez,  sofreu um acesso de fúria no mês passado que o levou a pular sobre o capô dos carros estacionados em uma churrascaria. De acordo com testemunhas, o fiscal se irritou ao verificar que seu carro não estava onde havia deixado. Uma das câmeras mostra o momento em que ele tenta acertar o manobrista com um chute. Mais um inquérito. Responde por dano ao patrimônio e lesão corporal.

O mau comportamento de Magalhães na churrascaria não tem a ver com a suspensão do acordo de delação premiada.  Ele agora foi acusado de se valer do acordo para extorquir um colega investigado. Teria pedido R$ 70 mil para não citar o fiscal Carlos Moretti Filho em sua delação. Em uma operação conjunta do MP e da Controladoria-Geral do Município, com o apoio da Polícia Civil, Magalhães foi flagrado recebendo uma sacola de dinheiro de Moretti. Sem ser notada, a reportagem do Jornal Hoje, da TV Globo, gravou a cena em que Magalhães é rendido pela polícia e imobilizado no chão. Os auditores marcaram o encontro no Bar do Berinjela, na zona leste, conhecido por vencer um concurso de “comida de buteco” – apresentou um bolinho de berinjela com linguiça refogada e parmesão em cubos. “Não houve extorsão”, garante a J.P o advogado Thiago Vinícius Sayeg Egydio de Oliveira, o terceiro contratado pelo auditor desde 2013. “Aquilo não ficou provado.” A assessoria do MP diz que a denúncia foi rejeitada no TJ, mas eles recorreram. “O processo está correndo”, informa o advogado Paulo Amador da Cunha Bueno, que defende Moretti. Magalhães afirma que não tem receio de ser preso. “Eu não fiz uma coisa errada? Se tiver de pagar, pago. Meu único medo é perder meu filho”, diz ele. As oitivas devem começar este mês. Por sua vez, Vanessa investe no Carnaval. De acordo com Eduardo Graboski, seu assessor de imprensa, ela não vai precisar de muito tecido para confeccionar a fantasia, composta de um tapa sexo de 3 centímetros. “O resto do corpo vai ser grafitado”, explica.

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