O Centro do Rio está mais vivo que nunca. Áreas como as praças Mauá, Barão de Teffé e 15, além do Parque Madureira, estão recebendo uma série de atividades culturais nestes Jogos Olímpicos, como parte do projeto Boulevard Olímpico. A ideia é trazer arte de todos os tipos e gostos, com muita música, teatro de rua e circo, promovendo encontros históricos no coração da cidade. As atividades começaram neste fim de semana e vão até o dia 21 de agosto, com nomes como Elza Soares, Mombojó, Ana Cañas, Thiago Pethit e Dream Team do Passinho.
“O centro de qualquer cidade do mundo deve ser ocupado, valorizado, vivido. E o do Rio estava jogado às traças há anos. Esse jogo virou. (…) Acho que o maior legado das Olimpíadas para o Rio é mesmo esse renascimento do Centro”, disse Andrea Franco, responsável pela curadoria e conteúdo artístico do Boulevard. Abaixo, a entrevista completa. Para ver a programação do Boulevard, clique aqui.
Por Denise Meira do Amaral
Glamurama – O que o público vai encontrar no Boulevard Olímpico?
Andrea Franco – Muita coisa, muita coisa mesmo. Foi um trabalho árduo reunir toda essa diversidade cultural num país tão rico como o Brasil. Teremos muita música, shows históricos, muita gente da nova geração. Mas também temos uma cultura e vivência de rua muito forte. É isso que o Boulevard se propõe a ser, com toda a revitalização dessa região, que as pessoas circulem, ocupem esses lugares. Temos música, mas também temos circo, mímica, acrobacia e arte de rua, que eu, particularmente, sou muito fã. Além das obras nos armazéns do Píer Mauá, nós teremos performance do VJ Suave, com um triciclo que projeta imagens nos prédios, tem o William Vorhees, que é nosso instrutor do way of life carioca, com seu mini-trio que vai botar a turma pra dançar, e tem o francês JR com seu InsideOut, que vai convidar todo mundo para fotografar no seu caminhão.
Glamurama – Como se deu a escolha dos nomes que se apresentam por lá? Houve uma preocupação em mostrar outros estilos musicais nossos ainda pouco difundidos fora do Brasil?
Andrea Franco – O Brasil é um celeiro musical incrível, com uma potência enorme, que vai além do mainstream já tão difundido. Acho que meu maior desafio, como curadora dessa programação, foi mapear o que há de mais interessante e efervescente sendo produzido hoje mesmo entre aqueles que já estão há muito tempo na estrada. O encontro de Johnny Hooker com a Elza Soares é um exemplo fortíssimo disso. O trabalho de estreia dele e o último disco dela são marcos na música brasileira. Mas temos muita coisa além disso. São quatro palcos – nas praças XV e Mauá, além da Barão de Tefé e do Parque Madureira – e muita música pop, samba, funk. Posso te garantir que tem uma boa amostra da música brasileira nesse Boulevard.
Glamurama – Por que o Centro do Rio? A região está voltando a estar na moda?
Andrea Franco – Eu tenho me emocionado diariamente com o que virou essa região. Eu trabalhei anos no Píer Mauá no Fashion Rio e isso era uma região deserta, cortada por um elevado horroroso. A derrubada da Perimetral descortinou uma região que vivia apagada, assombrada. Saiu a Perimetral, vieram os museus, essas intervenções artísticas nos armazéns do Píer, que podem fazer dele, por que não, uma espécie de Wynwood brasileiro. Me emociona de verdade ver a velocidade com que as pessoas redescobriram o Centro do Rio e abraçaram ele. É um caminho sem volta. O centro de qualquer cidade do mundo deve ser ocupado, valorizado, vivido. E o do Rio estava jogado às traças há anos. Esse jogo virou. O que mostra que não é que as pessoas não tinham interesse por ele, o Centro é que não era interessante para se conviver. E aqui ainda temos essa vista deslumbrante para a Baía de Guanabara, que torna o passeio ainda mais inesquecível.
Glamurama – O que fica de legada para a cidade após os Jogos Olímpicos na sua opinião?
Andrea Franco – Além do metrô – que finalmente chegou à Barra, mas tem de avançar muito mais -, acho que o maior legado das Olimpíadas para o Rio é mesmo esse renascimento do Centro. Pareço repetitiva, mas é só dando uma volta aqui do Píer Mauá até a Praça XV para entender isso que estou falando. Eu me emociono realmente em vê-la ocupada, desfrutada. O Rio sempre teve uma cultura de vivência de rua. Mas por questões de segurança acabamos nos refugiando em casa. Não é assim que deve ser. Nós não podemos ser reféns do medo. Temos de ocupar as ruas, circular entre elas. Poder fazer um piquenique à beira da Baía de Guanabara parecia um sonho impossível. Agora é uma realidade.
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