O diretor Frédéric Tcheng acertou na dose de ousadia quando pediu à Dior, logo após a saída de John Galliano da marca, para acompanhar o novo estilista que viria a assumir o cargo, seja quem ele fosse. Por ousadia, entenda: registrar todos os passos do novo representante da maison Dior desde seu primeiro dia de trabalho até o “dia D” – quando faria seu desfile de estreia – em um documentário.
Íntimo do mundo da moda, – Frédéric dirigiu os documentários “Valentino: The Last Emperor”(2008) e “Diana Vreeland: The Eye Has to Travel”(2011) -, o francês teve seu pedido aprovado. Mas, logo que o nome de Raf Simons como diretor criativo veio à tona, Frédéric recebeu uma ligação da maison dizendo que o estilista não queria aparecer nas filmagens. “Foi um baque”, disse o diretor ao Glamurama, em entrevista que você confere abaixo, para entender como toda essa negociação culminou no documentário “Dior e Eu”, em cartaz nos cinemas a partir desta quinta-feira.
Glamurama: O que você fez para convencer Raf Simons a aparecer nas filmagens de “Dior e Eu” ?
Frédéric Tcheg: “Escrevi uma carta para ele, me apresentando e contando minhas ideias para o filme. Graças a ela, Raf permitiu que eu o acompanhasse durante sua primeira semana na maison como um teste, sem a certeza se iríamos a diante. Falei muito com ele naquela semana, e foi o fato de nos conhecermos melhor que fez toda a diferença. Para ele, trata-se de conhecer a pessoa por trás das câmeras. Ficar à vontade e confiar. Quando ele percebeu que eu não o tratava como uma estrela e nem o colocava em um pedestal, ele cedeu.”
Glamurama: Você considerou desistir do documentário em algum momento durante esta primeira semana?
Frédéric Tcheg: “Nunca. Isso apenas serviu para me deixar ainda mais animado. Minha primeira impressão sobre Raf Simons já era fascinante. Um estilista moderno, um grande artista. Depois, conheci seu lado muito curioso e de bom coração. Foi um duro trabalho até conquistar a empatia necessária para realizar o filme.”
Glamurama: John Galliano era um assunto constante no ateliê?
Frédéric Tcheg: “Não muito. Eles apenas comentavam que Raf era muito mais articulado e persistente do que Galliano. Eles ficaram muito surpresos quando receberam o primeiro croqui dele, extremamente preciso nos mínimos detalhes. Todas as costuras estavam lá.”
Glamurama: Em algum momento você achou que houve dúvidas pela equipe da Dior se Raf Simons havia realmente sido uma boa escolha como novo diretor criativo da marca?
Frédéric Tcheg: “Sempre há resistência para mudanças. Ter um novo chef no comando já não é algo fácil. No ateliê, as pessoas estavam nervosas com o novo modo de trabalhar. Monique Bailly (première, espécie de chefe das costureiras) estava muito nervosa e desconfortável com a mudança, mas aos poucos foi aceitando.”
Glamurama: Qual é sua opinião sobre ele depois de acompanhá-lo tão de perto?
Frédéric Tcheg: “Minha primeira impressão de Raf foi de que ele estava mudando muitos estereótipos da moda. Ele é diferente. Sua aparência é diferente da dos outros estilistas, o modo como ele se veste… Ele não é extravagante. Ele fala sobre moda como um pintor fala sobre arte. Foi a pessoa perfeita para eu conquistar meu objetivo: mostrar um outro lado da moda, eliminando a imagem ruim que alguns têm sobre ela.”
Glamurama: E sobre a Dior? Você se apaixonou por ela?
Frédéric Tcheg: “Não.Pelas pessoas sim. Sempre me apaixono pelas pessoas, elas importam muito mais para mim.”
Glamurama: No filme, fica claro que Raf Simons é muito tímido e avesso a câmeras. Ela não se incomodou?
Frédéric Tcheg: “Algumas vezes sim. Haviam certos meetings onde Raf não queria ser filmado. Na cena que ele é apresentado à equipe, por exemplo, ele não queria que eu estivesse presente. Mas disse a ele que este era o coração do filme, o batimento…E então ele cedeu.”
Glamurama: Qual é a sua cena preferida?
Frédéric Tcheg: “A cena em que parte da equipe se reúne para fazer um vestido cheio de bordados, do zero, às vésperas do desfile.”
Glamurama: Você acredita nesse novo perfil de estilista? Menos excêntrico e mais profissional?
Frédéric Tcheg: “Sim. Raf trabalha de uma forma muito profissional. Ele tem sua própria forma de trabalhar, que se assemelha muito a de arquitetos e artistas que comandam grandes equipes, como Andy Warhol ou Jeff koons.”
Em tempo, o diretor que vive em Nova York está trabalhando em um novo projeto, uma ficção baseada na história de um artista da década de 70. “É uma história de amor, fora do mundo da moda…”, disse Frédéric animado. Abaixo, o trailer do documentário “Dior e Eu”. Play!
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