Corre-corre, festas mil, restaurantes que não acabam mais. E, claro, o inevitável: a hora do jantar não é mais a mesma. No sofá, de pé na cozinha, sentados à mesa, conectados… A revista J.P invadiu quatro casas em São Paulo para descobrir como diferentes famílias lidam com esse momento tão especial. Está servido?
Os jantares de Isabel Duprat e Manoel Leão refletem o espírito do casal: tranquilo, cheio de charme e história. Durante a semana, enquanto a paisagista monta a mesa com louças delicadas, herança de família, é Manoel quem serve a salada e uma sopa, bem leve. Um bom vinho argentino acompanha a ceia vez ou outra, sempre em momentos de comemoração ou após um longo dia de trabalho. “Às vezes, chegamos exaustos. Porque o trabalho é braçal mesmo”, diz ela, sobre o vaivém do escritório que mantém em São Paulo em parceria com o marido, engenheiro agrícola. Bel (como ele gosta de chamá-la) e Manoel lembram que a realidade de hoje é bem diferente de seus tempos de solteiros. Apesar de não terem filhos, ambos vêm de famílias cheias de irmãos – ela tem cinco e ele, quatro. “Eram jantares do tipo ‘salve-se quem puder’, de subir na mesa para ser ouvido. Hoje a gente só relembra e morre de rir”, conta a paisagista.
Desde que a primogênita Carolina se mudou para a Califórnia para fazer faculdade, uma coisa já virou tradição na casa da consultora Patricia Cavalcanti: todos agora jantam com um iPad na mesa. Tudo porque a moça, mesmo a distância, quer participar do momento mais sagrado da família – e, de quebra, matar a saudade de seus dois cachorrinhos, que ficaram no Brasil. “Como não almoçamos em casa, estar à mesa à noite é obrigatório. Batemos o maior papo sobre nosso dia. É uma tradição mesmo: sempre tem salada, sopa, prato principal e sobremesa”, conta Patricia, que é mãe de outros três: Isabella e os gêmeos Guilherme e Gabriel. Para Isabela, de 17 anos, Patricia teve de adaptar um pouco o menu. “A gente é bem carnívoro, ama um churrasco. Mas agora ela é vegetariana. Então já viu, né?”, brinca ela, que continua: “Parece uma família italiana, sabe? Todo mundo conversando, os cachorros em volta da mesa, tudo é um evento. Um grude só”.
O empresário e DJ Renato Ratier não para em casa. Perde as contas de quantas viagens internacionais faz por ano e visita até três estados por semana em tempos de agenda concorrida. Quando está em São Paulo, se divide entre seus três principais business: o restaurante Bossa, a marca de roupas Ratier e o club D.Edge. Motivos de sobra para não ter tempo de se sentar à mesa e apreciar uma refeição tranquilamente. “Gosto muito do que eu faço, mas às vezes pesa e fico muito sobrecarregado”, diz à J.P. O clique reflete um pouco do espírito: enquanto come um omelete com salada, ele responde e-mails, escolhe músicas para seu setlist e resolve problemas do trabalho. Tudo isso sem demonstrar um pingo de cansaço. “Ainda tenho de pegar um avião hoje”, revela.
A noite de sexta-feira da família de Yaffie e Mendel Begun é sempre sagrada: marca o início do Shabbat, dia de descanso semanal no judaísmo e momento de reunir todos em volta da mesa para cantar, rezar e, claro, comer delícias como o gefilte fish, um bolinho de peixe com molho agridoce, clássico da culinária judaica. O casal tem seis filhos – três deles morando fora – e o clima do ensaio é pura descontração. Enquanto o caçula dos meninos, Shmuel, explica a tradição de cada prato servido, a pequena Feiga, a Fefê, é a tagarela mais fofa do mundo: quer mostrar o look, conferir as fotos na câmera… Nina, de 17 anos, é mais tímida, mas também entra no clima dos cliques – que foram feitos em uma segunda-feira especialmente para a J.P. “Sempre recebemos convidados para o jantar para mostrar aos nossos filhos outras histórias e culturas. Para nós, esse também é o espírito do Shabbat”.
(por Thayana Nunes para a revista J.P de maio)
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