Maria Ribeiro estava no último ano de jornalismo na PUC do Rio quando assistiu ao show dos Los Hermanos pela primeira vez. Eles eram calouros e o sucesso do grupo ainda se restringia aos limites da universidade. “Na época fiquei bem impressionada. Era uma combinação inusitada, um som sujão de garagem mesclado a uma música romântica”, conta ela. Quase 18 anos depois, Maria estreia seu segundo documentário, o “Los Hermanos – Esse é só o começo do fim da nossa vida”, que estreia para o público nesta quinta-feira e para convidados nesta segunda-feira, no shopping Iguatemi, em São Paulo.
Ela, que dirigiu seu primeiro longa “Domingos”, sobre Domingos Oliveira, em 2001, contou que perdeu os paparicos a que estava acostumada como atriz para calçar as “sandálias da humildade” como documentarista. Apesar da relação entre a diretora e a banda ser ótima, nem tudo foram flores: “Não é fácil ficar num Big Brother”. Além da direção, Maria fez segunda câmera e percorreu sete cidades com a banda para as gravações.
Por Denise Meira do Amaral
Glamurama – Você mudou a forma de enxergar a banda após conviver tão perto dela? O fascínio de fã mudou?
Maria Ribeiro – Eu tinha muito medo do convívio. Como são adoráveis aquelas pessoas que a gente não conhece bem, como diria o Millôr [Fernandes]. Mas você sabe que eu não consegui me decepcionar com eles? Eles têm uma postura muito especial, romântica. Eu também pensei que pudesse presenciar algum climão entre eles, mas não vi nada. Se tem algum conflito, é subliminar. Todos são amigos.
Glamurama- Qual a diferença entre estar no papel de documentarista ao invés de atriz?
Maria Ribeiro – Como atriz eu sempre sou muito paparicada. Já como documentarista tive que calçar as “sandálias da humildade”. Atriz você fica lá, recebendo bolo, café. No filme, não. A equipe era eu, o fotógrafo e o técnico de som. Eu fiz a segunda câmera.
Glamurama – Você optou por não fazer entrevistas e adotou um cinema de observação. Por quê?
Maria Ribeiro – Eu não gosto de documentário de entrevista. Não é tipo de cinema que eu gosto. Acho que o grande lance do documentário é captar a realidade. Se você marca entrevista com alguém três dias antes, a pessoa vai se programar, colocar cenário, luz, vai formular todo seu pensamento. Gosto do cinema direto. Acho que ele tem mais conteúdo do que um discurso que a pessoa possa preparar.
Glamurama- E deu certo essa ideia de mosquinha na parede? Eles acabaram se acostumando com a presença da equipe e da câmara?
Maria Ribeiro – Eu acho que não seria possível fazer de outra forma. Eles não iriam topar um filme invasivo. Fiz o filme que eu queria fazer. Mas não é exatamente uma mosquinha porque eu estou ali. Você vê que não é uma situação fluida o tempo todo. Tem uma hora que eles estão fazendo uma jam session e, quando eu peço para entrar com a câmera, o Rodrigo [Amarante] se incomoda e fala: “Você acha que é fácil ficar com uma câmera apontada para mim, tirar o momento mágico da espontaneidade?”. Não é fácil ficar num Big Brother.
Glamurama – Eles participaram da montagem? Deram palpites?
Maria Ribeiro – Não. Eles não deram palpite algum.
Glamurama – Eles gostaram do resultado final?
Maria Ribeiro – Acho que eles gostaram. Pra mim eles disseram que adoraram, mas eu me sinto meio cabotina. Só deles terem me deixado fazer o filme, já é muito. Porque eles não costumam falar, dar entrevistas. Eles têm uma característica muito corajosa de dizer que as obras falam por eles.
Glamurama – Você acha que o filme vai atingir um público além dos fãs dos Los Hermanos?
Maria Ribeiro – Acho que não. É um filme para fã. Quem vai ao cinema pra ver um documentário vai no certo. Mas eles têm muitos fãs. Não surgiu ainda outra banda depois deles; com discurso pra juventude, romântico, idealizado.
Glamurama – Seu filho mais velho [João Betti] ouve Los Hermanos?
Maria Ribeiro – Não. Ele ouve Emicida (risos).
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Em 2007, depois de uma década juntos e quatro discos lançados, Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante, Bruno Medina e Rodrigo Barba anunciaram, no auge do sucesso, que fariam uma pausa por tempo indeterminado. Depois de um hiato de cinco anos, eles se reuniram para uma turnê que percorreu 12 cidades brasileiras. O documentário acompanha as apresentações em cinco dessas cidades: Recife, Brasília, Salvador, Porto Alegre e Rio de Janeiro, revelando o cotidiano de uma turnê, os bastidores dos shows e a participação dos fãs.
O filme foi selecionado para o festival de documentários “É Tudo Verdade” e ganhou suas primeiras exibições em abril de 2014. A fila começava a se formar na porta dos cinemas ainda de manhã e, próximo ao horário das sessões, dobrava esquinas. Abaixo, o trailer.