Poderosa de qualquer jeito, Angélica prova isso encarnando divas loiras e morenas. Entre umas e outras, a audiência aplaude todas, enquanto a modelo arremata o ensaio com o humor leve de sempre
Por Paulo Sampaio para revista Joyce Pascowitch de março
Fotos Mauricio Nahas
Nada como frequentar estúdios de televisão durante 30 anos, desde a mais tenra adolescência, para fazer com que a garota tímida se transforme em uma comunicóloga Ph.D. Dona de uma simpatia imperturbável, a apresentadora Angélica, hoje com 41 anos, tem um texto fluente, pontuado de tiradas bem-humoradas, e parece preparada para enfrentar qualquer tipo de assunto. “Ah, você tá falando da história do bebê?”, reage, ao ser indagada sobre o que sentiu quando bombou na internet que seu marido, Luciano Huck, estava sendo cogitado como candidato a pai do filho da modelo Carol Francischini (junto com o ator Bruno Gagliasso e os empresários Pedro Braun e Luigi Cardoso). “Eu nem soube”, garante Angélica. “Tinha recém-parido a Eva, não via mais nada a não ser ela.” Um dia, lembra, o próprio Luciano teve uma conversa com ela sobre o que estava acontecendo. “Ele me disse: ‘Já tomei providências’”, conta a apresentadora, como se o marido tivesse passado um rodo na sala alagada pela chuva. Será que ela encontrou a Francischini depois disso? “Não”, diz. “Mas eu imagino que ela deva morrer de vergonha, coitada (expressão de dor), não teve culpa. Foi envolvida por uma história que a mídia criou, né?”
Lembra da fada Bela? Aquela loirinha que flanava em uma floresta encantada, entre flores e cristais? Na pele dela, Angélica fez a alegria de milhões de crianças no fim dos anos 1990, incluindo o maquiador que a produz para as fotos do ensaio. Ele conta que chegou a ir ao estúdio onde era gravada a novela infantil, no Rio, para tentar a chance em um teste de atores mirins: “Eu ainda não sabia se queria ser ator ou maquiador”, explica. E Angélica, rindo: “Mas que papel você faria, o de fada?”. Encorajadas pela declaração do maquiador, mais duas figuras presentes “confessam” que assistiam ao programa de Angélica, sendo que uma delas conta que a levaram para assistir no auditório. “Gente, isso é uma pegadinha?”, pergunta a apresentadora, simulando espanto, como quem não acredita que num universo tão pequeno há três ex-fãs dela. O povo ri. A todo instante ela faz comentários divertidos, tomando o cuidado de temperá-los com um tom de voz amigável, para não sugerir a menor intenção de agressividade: “Esse cabelo tá meio colado, hein, gente”, constata, passando a mão na cabeça, antes de ser fotografada. “Como é que faz para voltar ao normal? Acho que vai ter de jogar, sei lá, óleo diesel? Ainda bem que a próxima foto é com peruca.”
TILÁPIA SEM GLÚTEN
O estilo naturalista, como se diz em televisão, imprime ao personagem Angélica um que de autenticidade. No programa Estrelas, em que entrevista famosos sobre assuntos variados, ela interpreta ela mesma com extrema competência – o que leva o convidado mais travado a se sentir como se estivesse na sala de casa. Em fevereiro, quando entrevistou Nanda Costa na academia, levantando uma barra com duas anilhas de 20 quilos de cada lado, ela perguntou ao personal trainer da atriz: “Você é o carrasco, quer dizer, o professor?”. Nanda, que costuma falar sério, ficou mais soltinha. “Pior que eu gosto de pegar pesado”, disse, rindo.
Quando fala em malhar e em comer, Angélica conta que procura equilibrar as duas coisas. Pratica muay thai e pilates, se possível três vezes por semana. “Na minha idade, a pele começa a despencar. A gente precisa queimar a massa gorda e substituir pela magra (músculo)”, ensina. Embora continue a gostar de doces (“minha droga são os biscoitos recheados”) e afirme que ainda os come, ela nunca perdeu a silhueta fina que adquiriu quando estava com cerca de 26 anos, e seu corpo era “mais para o roliço”. “Eu me olho em fotos aos 18, 19 anos, fico chocada. Era uma bochecha, não uma pessoa.” Ela lembra que, na época, fazia todas as dietas que surgiam: a da sopa, a das frutas, a dos pontos, “nenhuma adiantava nada”. “Todo mundo sabe que franguinho com salada emagrece, mas eu não vou comer isso a vida toda.” A dieta certa veio “com o tempo e a experiência”… e continua: “O certo na vida é você se conhecer e, a partir daí, saber o seu limite”.
MAR DE URSINHOS
Apesar da aparência altamente otimizada (ela diz que aplica botox no rosto desde os 17 anos porque suava muito na testa), Angélica usa pelo menos duas vezes a palavra “jurássica” para se definir. “Eu perdi a virgindade aos 17 anos, uma velha para os padrões de hoje! Minha mãe, dona Angelina, era durona. Falava para minha irmã que se ela deixasse o namorado colocar a mão no peito, o peito caía no chão. Então, quando eu vejo o jeito como os adolescentes lidam com sexualidade hoje, fico em pânico.” Se por um lado ela se espanta com a modernidade dos costumes, por outro reconhece que foi infantilizada durante muito tempo (“minha vida era um mar de ursinhos e bonecas”). Por isso, pretende orientar a filha a “viver todas as idades”. “Vou dizer a ela: ‘Eva, filha, aproveita a infância, brinca de boneca e carrinho, depois, na adolescência, curte o primeiro beijo, a primeira mão no peito, na bunda, porque depois que você der, vai ser todo dia’.” Tanto Eva, 2 anos, quanto os dois filhos mais velhos, Joaquim, 10, e Benício, 7, todos com Luciano Huck, são relativamente poupados dos efeitos da celebridade dos pais. Porém, Angélica diz que eles eventualmente sentem ciúmes quando Luciano lida com outras crianças no Caldeirão: “O Luciano é muito afetivo, abraça, chora. Às vezes, eles (Joaquim e/ou Benício) param de assistir o programa e saem da sala”.
Angélica está quase pronta. Como se houvesse perdido de novo a virgindade, exclama no camarim: “Nunca coloquei dois, tô chocada!”, quando o maquiador encaixa um par de cílios postiços em cada olho dela. “A gente podia nascer assim, né?”, comenta a produtora. Angélica diz que até nasceu, “mas futucaram tanto meus cílios que fui perdendo tudo”. E cantarola: “Eu nasci assim/eu cresci assim…”. Já “finalizada”, dentro de um vestido preto, ela sobe em cima de saltos vertiginosos e, com os dedinhos apertados, comenta: “Gente, isso aqui é sapato para gueixa!”. Ao posar com a peruca preta, todos no estúdio ficam surpresos com a transformação. Pergunto: “Tá se achando linda?”. Ela não perde a deixa: “Linda! Gatíssima! Vou até dormir assim”. Comenta que “o bom dessa profissão é que todo mundo diz que você é o máximo”. E quando você não acorda num dia bom, o que faz para abater a tristeza e parecer animada? “Aí é que está: a própria televisão funciona como terapia. É onde eu me sinto mais relaxada, mais à vontade, mais eu.” É o poder da fada Bela.
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