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Carlos Moreno no Bosque do Quadrado || Crédito: Divulgação
Carlos Moreno no Bosque do Quadrado || Crédito: Divulgação
Carlos Moreno no Bosque do Quadrado || Crédito: Divulgação

O Bosque do Quadrado, em Trancoso, foi cenário para a Orquestra Experimental de Repertório fazer uma apresentação aberta com clássicos e populares – de “Jesus Alegria dos Homens”, de Johann Sebastian Bach, a “Eleanor Rigby”, dos Beatles –  como parte das atividades off festival do Música em Trancoso, na tarde dessa quinta (a orquestra se apresentou no teatro do MeT nos dias 07 e 08 de março). Os jovens músicos da orquestra, que são preparados para ingressar nas grandes orquestras profissionais de São Paulo, conversavam com a plateia entre uma música e outra. Enquanto isso, lá atrás, discreto, o maestro Carlos Moreno observava seus pupilos com um sorriso orgulhoso. Moreno se tornou regente da orquestra há justamente um ano, substituindo Jamil Maluf, que a fundou em 1990. Confira abaixo a entrevista exclusiva de Glamurama com o regente no bosque.

Por Verrô Campos

Glamurama: Como foi substituir o maestro Jamil Maluf?
Carlos Moreno: Foi uma orquestra que ele criou e trabalhou durante 24 anos. Foram gerações de músicos que passaram por esse trabalho laboratorial e, quando fui convidado a dar sequência na história desta orquestra, eu percebi que era uma grande responsabilidade. A ideia era transformar o projeto em algo melhor, buscar uma dinâmica, trazendo a orquestra para o seu eixo, que é uma orquestra de fundação. E vir a Trancoso justamente quando a minha gestão completa um ano foi um grande presente. Tenho certeza de que o fundador [Maluf] tem muita alegria em saber que o projeto criado por ele continua.

Glamurama: Você passou pelo canto, piano e violino. É preciso passar por tudo isso para se tornar um maestro?
Carlos Moreno: Sim. Eu estudei percussão também e agora me deu na telha estudar sax, além de já ter composições minhas. É isso, o regente precisa quebrar as barreiras que poderiam ou podem separá-lo da compreensão de cada instrumento que compõe uma orquestra, e isso leva tempo. Meu instrumento principal é o violino, mas, como eu tenho essa natureza sinfônica, essa imersão no mundo dos instrumentos para mim é um grande prazer, e não é nada árduo.

Glamurama: Como foi participar desta quarta edição do Música em Trancoso?
Carlos Moreno: Trancoso une o que na verdade nós artistas buscamos. Essa comunicação com o universo e com estes canais: a natureza, esse céu único, o verde exuberante, fora o mar maravilhoso… Eu acho que fecha aquilo que o artista precisa para se fazer expressar. Quando nós buscamos o violino, uma orquestra ou o canto, nós buscamos instrumentos que amplificam o que temos de dentro para o público. É um prazer e o pós Trancoso já está sendo comentado, nós queremos muito não perder essa energia toda com uma nova roupagem, uma nova visão.

Glamurama: Então o festival transformou a orquestra?
Carlos Moreno: Sim, o bacana é que vários grupos já estão se formando. Os músicos têm me procurado: “Vamos formar um quarteto de cordas, um quinteto. Maestro, nós queremos local para nos apresentar”. Eles acabam indo muito além de tocar em uma orquestra, na verdade o grupo se fortalece com o festival. Isso é um sonho para eles, incentiva o convívio e vem a vontade de não parar de conviver; nós queremos isso. Estou muito feliz e emocionado, eu passou aqui pelo bosque e vejo um rapaz estudando clarineta outro violino, as cordas ensaiando… é um presente.

Glamurama: Essa mistura de repertório clássico e popular é uma tendência ou é do perfil da sua orquestra?
Carlos Moreno: Hoje todas as grandes orquestras do mundo compreenderam que o grande caminho que se estava seguindo era de ruptura com o público. O que precisamos entender é que a música de alto nível, seja o samba, o jazz, a música de concerto, o público esta pronto a apreciar. E quando a gente se define, “nós apenas tocamos música de concerto”, estamos excluindo muito público. Às vezes, quando você toca um samba, você leva para assistir pela primeira vez pessoas que nunca tiveram contato com uma orquestra. Isso não é uma coisa isolada, é um pensamento mundial das orquestras sinfônicas. Assim como também os concertos para crianças. Se isso não for feito, a faixa etária vai chegando em um limite e você vai tendo cada vez menos público para assistir. Este trabalho que estamos fazendo com cinco escolas em Trancoso durante o festival foi uma chave de ouro, são aulas didáticas e apresentações onde os músicos brincam com as crianças e explicam sobre notas musicais e a peculiaridade de cada instrumento.  Eu participei e a alegria destas crianças é imensa. Por ser uma cidade pequena em um paraíso tropical, essas crianças são diferenciadas, muito abertas, põem o pé no chão, brincam; e as crianças precisam disso. Trancoso foi uma mudança de pensamento para a orquestra, tenho certeza de que no primeiro ensaio em São Paulo já será uma outra sonoridade. Isso vai ser curioso de observar porque quando nós nos transformamos, o público percebe o som da orquestra. Estou muito feliz. Não é simplesmente uma imersão musical, é de convivências e vivências, nós estamos transformados.

E o maestro manda avisar: o próximo concerto da Orquestra Experimental de Repertório será no dia 26 de abirl, na Sala São Paulo, com composições do alemão Max Bruch e participação especial da violonista venezuelana Angelica Olivo. Vai perder, glamurette?

Aperte o play e confira o vídeo da Orquestra Experimental de Repertório tocando “Eleanor Rigby” no Bosque do Quadrado, com agradecimento especial a Marcelo Pinheiro, que gravou o vídeo e disponibilizou para o Glamurama.

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