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Octavio Paz, além de pensador e poeta, também escrevia ficção. No livro “Contos latino-americanos eternos, da editora Bom Texto, 2005, encontramos uma história preciosa: “Minha vida com a onda”. Nesse conto ele descreve uma paixão com início, meio e fim, mostrando todas as nuances da explosão à decadência de um romance que não dá certo, de forma que, qualquer um que já passou por esta tormenta, vai se identificar.
Parte da beleza da narrativa vem do fato de Paz ter escolhido uma metáfora inusitada: o narrador, que fala em primeira pessoa, apaixonou-se perdidamente por uma onda. O resto do encanto vem da sua poesia. Veja que beleza a descrição dos primeiros momentos deste caso insólito de amor:

 Foto: Reprodução

“O sol entrava com gosto nos velhos quartos e ficava na casa por horas, quando já fazia muito tempo que havia abandonado as outras casas, o bairro, a cidade, o país. E várias noites, já bem tarde, as escandalizadas estrelas o viram sair de minha casa, escondido. O amor era um jogo, uma criação perpétua. Tudo era praia, areia, leito de lençóis sempre frescos. Se eu a abraçava, ela se erguia, incrivelmente esbelta, como talo líquido de um álamo; e de repente essa esbelteza florescia num jorro de penas brancas, num penacho de risos que caíam sobre minha cabeça e minhas costas e me cobriam de brancuras. Ou então estendia-se diante de mim, infinita como o horizonte, até que eu também me fazia horizonte e silêncio. Plena e sinuosa, envolvia-me como música ou uns lábios imensos. Sua presença era um ir e vir de caricias, de rumores e beijos. Entrava em suas águas, quase me afogava e num fechar de olhos encontrava-me acima, no alto da vertigem, misteriosamente suspenso, para depois cair como uma pedra, e me sentir suavemente depositado no seco, como uma pena. Nada é comparável ao dormir embalado nas águas, a não ser acordar com os golpes de mil alegres chicotes ligeiros, por arremetidas que se retiram rindo”.

 Foto: Reprodução

E como se não bastasse, no livro você ainda encontra o conto “Em memória de Paulina”, de Adolfo Bioy Casares – uma belíssima observação do ciúme. Isso, é claro, sem falar de Carlos Fuentes, Borges, Garcia Márquez, Vargas Llosa, Machado de Assis, Rubem Fonseca, Cortázar, entre vários outros. Muito bom.

Por Luciana Pessanha

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