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“Na nossa cultura as mulheres foram condicionadas a ter a sexualidade restrita e os sentimentos abertos, e os homens a ter a sexualidade aberta e os sentimentos restritos. Existe toda uma área de resistência e vergonha.”Essa declaração foi divulgada em matéria de Noah Berger para o “The New York Times” desta semana. É de Nicole Daedone, fundadora do “One Taste Urban Retreat Center”, em São Francisco, e guia do slow-sex movement, que enfatiza o prazer feminino, onde amor, romance e flerte não são requisitos. “Eu não acredito que a mulher vá experimentar realmente a liberdade, até que seja dona da sua sexualidade”, declara. Em seu centro de experimentação sexual, vivem 38 homens e mulheres, a maioria na faixa entre os vinte e muitos, e os trinta e poucos anos. Eles preparam suas refeições juntos, meditam, e comandam workshops para grupos externos. Mas o cerne das atividades deste grupo é a “prática matinal”, aberta somente para os residentes.

Foto: Reprodução

Todos os dias, às 7:00h da manhã, uma dúzia de mulheres nuas da cintura para baixo deita de olhos fechados numa sala de cortinas de veludo, enquanto homens vestidos aconchegam-se sobre elas, agradando-as, num ritual chamado de “meditação orgástica”, apelidada no centro de “OMing”. Os participantes, não necessariamente envolvidos romanticamente, chamam uns aos outros de “parceiros de pesquisa”. Existe ainda um pacto entre homens e mulheres: durante a  meditação orgástica não há contato visual entre eles. Apesar de não serem tocados pelas mulheres e de não chegarem ao clímax, os homens dizem experimentar uma sensação de energia e saciedade. E tanto eles quanto as mulheres insistem que o propósito do “OMing” é a “hidratação” do self, a conexão entre seres humanos, e não o sexo.O “One Taste” começou a chamar a atenção quando o jornal “The San Francisco Chronicle” escreveu um artigo sobre as (não sexuais) aulas nuas de yoga ministradas pelo grupo. Obviamente, vários voyeurs não praticantes de yoga apareceram, e o projeto malogrou. Atualmente a prática é totalmente vestida.

 

O desejo de Nicole é fazer de seu centro um lugar mainstream. Para tanto, além dos workshops e das aulas de yoga, o centro tem oferecido palestras de rabinos e monges tibetanos sobre o tema: sexo cuidadoso. Até recentemente, os residentes do “One Taste” sacrificavam sua privacidade em benefício do grupo, dormindo em dupla, em quartos com uma dúzia de camas, cada cama separada por uma cortina. Hoje todos têm seu próprio quarto, num prédio adjacente ao centro de meditação, ambos localizados providencialmente na Folsom Street, o endereço da maior feira americana anual de “bondage e fetish”. Guardadas as devidas proporções, uma vez que é preciso uma alta dose de desapego ou maluquice para abrir mão do mundo real em favor do prazer sexual (perdão, da “hidratação do self”), como exige de seus residentes o “One Taste”, que mulher não gostaria de encontrar um “parceiro de pesquisa” para se conectar e se conhecer melhor?
 

 

Por Luciana Pessanha

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