ACENOS E AFAGOS
João Gilberto Noll está na lista recém-divulgada dos 50 finalistas do Prêmio Portugal Telecom (http://www.premioportugaltelecom.com.br/2009/), concorrendo com seu último romance, “Acenos e Afagos” (Record, 2008). Isso não é novidade em sua carreira literária. Desde que publicou o primeiro livro, “O Cego e a Dançarina”, em 1980, pelo qual recebeu os prêmios Revelação do Ano, da Associação Paulista de Críticos de Arte, e Ficção do Ano, do Instituto Nacional do Livro, conquistou inúmeras premiações, entre elas, cinco Jabutis (1981, 1994, 1997, 2004 e 2005).
Se a indicação ao Portugal Telecom não chega a ser novidade, pelo menos é uma boa oportunidade para falar com Noll. “Minha produção literária jamais foi afetada por qualquer prêmio ou indicação que eu tenha recebido”, diz ele. “Quando escrevo, não consigo pensar em nada. Minha escrita é pautada pelo inconsciente, pela aventura”.
A seguir, trechos da conversa com o autor, que estava em Porto Alegre quando concedeu esta entrevista ao canal. E, vale dizer, o bate-papo também não deixou de ser uma aventura, das boas…
Quando soube que seria escritor?
Noll – Desde os seis anos já sabia que seria artista, no sentido daquele que transfigura o real. Sempre achei o real insípido, uma coisa horrorosa. Mas a literatura apareceu na minha puberdade; na infância, fui educado para ser músico. Cantava em casamentos, em enterros, declamava no colégio.
Por que não se tornou músico?
Noll – Porque em determinado momento da minha vida fui acometido por uma timidez muito acentuada, passei por um período de bicho-do-mato, e isso me impedia de me apresentar para uma platéia, era insuportável. Quando meu pai, por causa dos prêmios de declamação que recebi na escola, achou que eu poderia ser advogado, fiquei bastante frustrado, então, percebi que minha salvação estava na literatura. Mas hoje gostaria mesmo de escrever músicas. Gosto da música porque ela não é uma operação intelectiva, não materializa idéias.
Esse apreço pela música está refletido em sua escrita?
Noll – Quando estava escrevendo “Acenos e Afagos”, em determinados momentos, olhava para minhas mãos e percebia que elas deslizavam sozinhas pelo teclado do computador. No meu processo de escrita, não penso em nada, não sei se isso é dispersão ou concentração. O fato é que deixo a linguagem me conduzir, sem fazer idéia de onde ela vai me levar. Não faço uma operação intelectiva, aliás, detesto a literatura psicológica, a grande literatura não é instrumentalista.
Os protagonistas de seus livros são sempre homens de meia-idade e nunca são nomeados. Eles têm características suas?
Noll – Nada que escrevo é autobiográfico. Mas descobri que todos os meus protagonistas são o mesmo homem, e não pretendo me desviar do caminho desse homem. Ele habita em mim e não posso deixá-lo se dissolver. Sabe, já tenho 63 anos, e sou muito preocupado com a morte.
E quando esse homem voltará num novo romance?
Noll – Costumo escrever um livro de dois em dois anos, mas antes de o homem voltar, virá o menino. Este ano vou estrear na literatura infanto juvenil, com dois livros que serão lançados pela editora Scipione, em agosto e setembro. Os títulos são: “Sou Eu!” e “O Nervo da Noite”.