O SOM E A FÚRIA
Esta pauta surgiu quando li no twitter da Joyce um comentário sobre a minissérie da Globo “Som e Fúria”, que acabou na última sexta-feira, 24: “Foi incrível ter duas semanas de Som e Fúria na TV aberta. Um bálsamo para cabeças pensantes. Quero mais!!!!”. Concordo. Mas como esta coluna é de literatura e não de TV, e enquanto não estreia a segunda temporada – sim, a Globo já disse que vai ter uma nova temporada –, pensei em falar do livro “O Som e a Fúria” (Cosac&Naify), de William Faulkner (897-1962), e sugerir a leitura.
* Na minissérie, a Companhia de Teatro do Estado é especializada em montar clássicos, quase sempre peças de Skakespeare. Não à toa o programa recebeu o título de “Som e Fúria”. Em “Macbeth”, Shakespeare definiu a vida como “uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, significando nada”. No livro “O Som e a Fúria”, apesar de Faulkner ter afirmado que a associação com o texto de Shakespeare foi involuntária, a história do declínio dos Compson, uma família da velha aristocracia do sul dos Estados Unidos, escravocrata e derrotado na Guerra da Secessão, começa com um relato do personagem Benjamin no dia de seu aniversário, 7 de abril de 1928. Ele, um homem de 33 anos com idade mental de três, seria o “idiota” da frase de Shakespeare.
“O Som e a Fúria” é dividido em cinco partes distintas. À primeira, narrada por Benjamim, seguem-se relatos dos outros dois irmãos Compson: Quentin, cujos estudos em Harvard são custeados pela venda das terras da família, que comete suicídio; e Jason, um solteirão calculista e cruel. A quarta parte, narrada em terceira pessoa, tem como personagem central a velha empregada negra da família, Dilsey. E, para concluir, há um apêndice, acrescentado pelo escritor em 1946, onde a genealogia dos Compson é descrita como se fosse um pequeno romance dentro do romance principal. Nenhum dos acontecimentos da trama está explicitamente descrito, há apenas alusões, frases soltas ditas pelos personagens, o que obriga o leitor a juntar as peças e montar por conta própria o quebra-cabeça proposto por Faulkner.
Em “O Som e a Fúria” predomina a narrativa fragmentada pela utilização de diferentes pontos de vista sobre uma mesma história, e utilização constante do fluxo de consciência. Percorrer as 332 páginas do livro não é uma tarefa fácil, exige, sobretudo, dedicação e perseverança. Mas a conquista final é compensadora, posso garantir.
“O Som e a Fúria” é considerado por muitos críticos a obra capital de Faulkner, e, finalizado em 1929, marcou o início da chamada “segunda fase” desse escritor. No final dos anos 1920, Faulkner havia se retirado para sua pequena fazenda, no Mississipi (a mesma região onde se passa essa trama), e dedicava-se a escrever, quase que exclusivamente.
DESTAQUES DA VILA
Bossa ao Vivo – Hoje, 27 de julho, Daniel Boaventura e Isabella Taviani estarão de 17h às 21h, na LV shopping Cidade Jardim gravando o programa “Bossa ao Vivo”, veiculado aos domingos às 13h pela Alpha FM (101,7). Durante o pocket show, aberto ao público, haverá entrevistas e sessão de autógrafos.
Chanson française – Na quarta, 29, às 19h30, Pauline Charoki Ferrantelli, diretora do IFESP (Instituto de Estudos Franceses e Europeus de São Paulo) estará na LV Lorena apresentando a palestra “Grandes Clássicos da Música Francesa”, com direito à audição e análise de canções de Charles Aznavour, Jacques Brel, Serge Lama, Claude Fraçois, Jean Ferrat e Edith Piaf. Mais informações no site.
Por Anna Lee