THE WINNER IS
Os vencedores do 2º Prêmio São Paulo de Literatura foram anunciados na segunda, 3, numa cerimônia no Museu da Língua Portuguesa, na capital paulista. A premiação é promovida pelo governo de São Paulo, e, em seu discurso, o governador José Serra disse que “como o prêmio não é regional, os paulistas vão ter que se esforçar”. Isso porque os dois vencedores nas categorias “Melhor Livro de 2008” e “Melhor Livro de Autor Estreante” foram o cearense Ronaldo Correia de Brito e o gaúcho Altair Martins, respectivamente.
* Entre eles há uma coincidência que chama atenção: os dois foram premiados com seu romance de estreia. Cada um recebeu o valor de R$ 200 mil.
“Galiléia” – (Alfaguara) Ronaldo Correia de Brito é escritor tarimbado: já publicou os contos “As Noites e os Dias” (1997), “Faca” (2003), “Livro dos Homens” (2005), e o infanto-juvenil “O Pavão Misterioso” (2004). É também autor das peças de teatro “Baile do Menino Deus”, “Bandeira de São João” e “Arlequim”, e roteirista de cinema. Fez mais: escreveu diversos textos sobre literatura oral e brinquedos de tradição popular. Mas foi com seu romance de estreia, “Galiléia”, que ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura como “Melhor Livro de 2008”. Vale lembrar que ele teve concorrentes de peso como José Saramago, com “A Viagem do Elefante” (Cia. das Letras); Milton Hatoum, com “Órfãos do Eldorado” (Cia. das Letras); e João Gilberto Noll, com “Acenos e Afagos” (Record). Para contar a história de três primos que atravessam o sertão cearense para visitar o avô Raimundo Caetano, patriarca de uma família numerosa e decadente, que está vivendo seus últimos momentos na fazenda Galiléia, Ronaldo usou justamente sua experiência como roteirista para construir sua narrativa, produzindo um texto conciso e pungente, com elementos da tradição oral, como o uso livre da linguagem. Ismael, Davi e Adonias passaram parte da infância em Galiléia, mas constituíram uma geração que largou o campo com a intenção de nunca mais voltar.
* Foram viver em Recife, em São Paulo, na Noruega. Porém, depois de muito tempo, quando retornam à fazenda, que um dia foi próspera e oculta segredos e traições e “onde as pessoas se movem como nas tragédias”, descobrem que nunca escaparam do destino que aquele lugar tinha lhes reservado.
“A Parede no Escuro” – Altair Martins ganhou o prêmio de “Melhor Livro de Autor Estreante” do governo de São Paulo, mas essa não é sua primeira premiação. Ele já foi vencedor do Prêmio Guimarães Rosa da Radio France Internationale, em 1999, do Prêmio Luiz Vilela e do Concurso Nacional de Contos Josué Guimarães, em 2001, e ainda do Prêmio Açorianos na categoria “Contos”, além de ter sido finalista do Prêmio Jabuti em 2001 com a antologia de contos “Como se Moesse Ferro”. O romance “A Parede no Escuro” é resultado de dissertação de mestrado do autor, sobre discurso narrativo. O objetivo de Altair era mostrar a possibilidade de colocar mais de um narrador no mesmo espaço narrativo, no caso do livro, no mesmo capítulo, ou na mesma cena. O ponto de partida é um acidente: chove a cântaros, quando o padeiro Adorno sai para cumprir sua rotina de entregas de pães. Ele havia passado uma noite péssima, para piorar, ao acordar, discutira com a mulher, Onilda. No meio da tempestade, não vê nem é visto por um carro que entra numa rua no exato momento em que ele tenta atravessá-la. O motorista, o professor de matemática Emanuel, dirigia-se à casa do pai, Fojo, para levá-lo a uma consulta médica. Emanuel, assim como Adorno, estava desorientado, vinha do apartamento em que dormira com uma aluna, Lisla, que, por sua vez, é colega de quarto de Maria do Céu, filha do padeiro atropelado. Esses personagens, além de outros que vão surgindo no desenrolar do enredo, relatam fragmentos da história, produzindo um texto polifônico, o qual, às vezes, é interrompido por um narrador em terceira pessoa, descolado da trama, e que também aparece nas transições entre um episódio e outro.
DICA DA VILA
Até o domingo, 9, “Dia dos Pais”, a Livraria da Vila está oferecendo descontos de 20% a 50%. A coluna sugere: “O Filho Eterno” (Record) – de R$ 39,90 por R$ 31,90 Nesse livro, Cristóvão Tezza expõe as dificuldades, inúmeras, e as saborosas pequenas vitórias de criar um filho com síndrome de Down. “Elogio da Madrasta” (Alfaguara) – de R$ 34,90 por R$ 27,90 Mario Vargas Llosa faz uma incursão bem-humorada e sutil na literatura erótica e, ao mesmo tempo, uma sátira dos mitos e temas que consagraram esse estilo literário ao longo dos séculos. “Os Chineses” (Contexto) – de R$ 49,90 por R$ 39,90 Afinal, o que são “os chineses” nessa sucessão de Império, República, guerra civil, comunismo e economia de mercado em menos de um século? Há uma maneira chinesa de existir que distingue esse universo de 1,3 bilhão do restante da humanidade? A jornalista Cláudia Trevisan procura responder a essas perguntas em seu livro.
Por Anna Lee
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