Lucidez e irreverência andam juntas na cabeça de Rita Lee. Ao completar 67 anos, a cantora que marcou definitivamente o rock brasileiro pode, enfim, desfrutar da emoção de ser uma pessoa comum. Distante dos palcos por opção própria, ela passa as horas do seu dia nadando, escrevendo, cuidando dos bichos, do jardim e até mesmo faxinando a casa. “Saudosista eu nāo sou, mas reconheço que antigamente tudo era bem mais chique.” E a língua da ex-vocalista dos Mutantes continua afiada: “Agradeço aos deuses da música por nunca ter recebido qualquer apoio cultural durante 50 anos de carreira.”
Por Denise Meira do Amaral
Glamurama – Como você se sente fazendo 67 anos?
Rita Lee – Tenho mania de adiantar o relógio e a idade. O relógio em duas horas e a idade em três anos. No dia 31 de dezembro [hoje] completo 67 e passo a declarar 70. Deve ser minha doce ilusão de poder dominar o tempo…
Glamurama – Qual a diferença entre a Rita Lee de vinte e poucos anos e a Rita Lee de hoje?
Rita Lee – Eu diria que ontem fui uma jovem burrinha e ingênua, hoje sou uma velha burrinha e safada.
Glamurama – Quais são as músicas mais marcantes da sua carreira?
Rita Lee – Qualquer lista que eu faça de “favoritos” dali a um minuto vai estar defasada. Isso vale para roupas, comidas, livros, filmes, músicas. As listas são verdadeiras enquanto duram. Neste momento que você me pergunta a música marcante é “Brazix Muamba”, uma música que pouca gente conhece. Escolhi essa no chute só para nāo ficar sem te dar uma resposta.
Glamurama – Se pudesse voltar no tempo, para onde e quando voltaria?
Rita Lee – Bem, minha máquina do tempo tem o vetor direcionado ao futuro. Mas se eu entrasse numas de voltar ao passado seria para dar uma espiada rápida na minha vidinha no começo dos anos 50.
Glamurama – Você é saudosista?
Rita Lee – Saudosista eu nāo sou, mas reconheço que antigamente tudo era bem mais chique.
Glamurama – Qual é a melhor parte de ser a Rita Lee? E a pior?
Rita Lee – A melhor parte é quando me dāo desconto por ser a Rita Lee. A pior é quando metem a faca por eu ser a Rita Lee.
Glamurama – O que o seu filho Beto Lee tem de parecido com você?
Rita Lee – Beto é parecido comigo, mas com acabamento bem melhor em todos os sentidos.
Glamurama -Qual é a sua rotina no dia a dia?
Rita Lee – Nadar, escrever, ler, cuidar dos bichos, do jardim, da casa, da horta, gravar, assistir séries de TV e filmes, compor, fazer supermercado, reciclar lixo, namorar, faxinar geral. A emoção de ser uma pessoa comum.
Glamurama – Você já disse que turnê só em outra encarnação. Por quê?
Rita Lee – Porque nesta já deu. Meus 50 anos de palco foram maravilhosos. E eu agradeço aos deuses da música por nunca ter recebido qualquer apoio cultural durante todo esse tempo.
Glamurama – Sente falta dos palcos?
Rita Lee – Falta nenhuma. Trabalhei muito para estar hoje exatamente onde eu quero.
Abaixo, uma galeria de selfies postadas em seu Instragram.
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