Após o lançamento em São Paulo, Arnaldo Antunes se prepara para apresentar o livro "n.d.a." ao público carioca, nesta quarta-feira. Na décima publicação da carreira dele, o músico, escritor e artista plástico, que trafega com naturalidade pelos três suportes, apresenta poemas, cartões-postais e fotos reunidas durante as gravações do álbum "Iê, Iê, Iê". Em entrevista ao Glamurama, Antunes revela um pouco do que se passa dentro da mente dele, como se dá o processo de criação e os próximos passos.
Depois de nove livros publicados, qual foi o objetivo com o "n.d.a."? Que formas de expressão você ainda queria explorar?
"Meu processo de criação é contínuo, então não houve um objetivo claro. Nesse livro, especificamente, aprofundei questões gráficas, que unem o verbal e o visual. Além disso, a gente vai amadurecendo a cada livro. O ‘n.d.a.’ tem uma parte de cartões-postais com fotos de placas e mensagens escritas pelas cidades em que passo. Faço fotos sempre que vejo algo que pode se abrir para outros significados quando tirado do contexto original, como um ready-made. Venho fazendo isso há mais de dez anos e pretendo transformar esse material em um livro, isso é uma prévia."
Existe alguma diferença entre as composições musicadas e os poemas para livros?
"Apesar de serem da mesma natureza, são linguagens diferentes. Enquanto a canção depende do musical, o poema depende do componente gráfico-visual. A música é mais coletivista e o livro mais solitário, isso inclusive na hora de criar. Enquanto a música eu toco várias vezes antes de finalizar, a poesia é mais solitária. Mas, ao mesmo tempo, há poemas que acabo musicando e trechos de músicas que viram poemas."
Como você vê o mercado de poesia nacional? O brasileiro tem interesse?
"O mercado de poesia é muito pequeno em comparação ao de música popular e isso acontece em todo o mundo. Sou uma pessoa privilegiada por ter pessoas que se interessam por minha música, que acabam comprando o livro também. A poesia não é uma arte massiva como a música. Por outro lado, os poetas desempenham um papel importante por contaminar outras áreas da sociedade, prezando pelo uso da linguagem."
Você vive a linguagem escrita e falada na música, nos poemas e na arte. Como é o processo de criação e a relação com as palavras?
"Penso o tempo todo nas palavras, tanto que quando viajo tiro fotos de palavras, e não de paisagens. Fico atento aos diálogos dos filmes e aos textos das publicidades para ver se os termos usados são precisos. Enfim, tenho muita intimidade com a língua. Ao mesmo tempo, toda vez que vou escrever faço muitos rascunhos. Após o impulso inicial vou reescrevendo, substituindo termos por outros mais precisos. É um jogo de soma e subtração, corpo a corpo. Assim também é o meu trabalho com a melodia."
Você está em tour com o "Iê, Iê, Iê" desde 2009, até quando quer excursionar com esse show?
"Este ano pretendo continuar a turnê do ‘Iê, Iê, Iê’ e não lançar disco. O projeto mais novo que tenho é com o Edgard Scandurra – estamos fazendo shows juntos e acho que isso vai virar um disco só com vozes e guitarras logo mais. Estamos compondo juntos, pretendemos gravar, mas sem parar com a tour do ‘Iê, Iê, Iê’".
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