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Descanso
Foto: Arquivo pessoal

Acabo de voltar de um tratamento de choque. Um choque ao contrário, que tem mais a ver com desligar da tomada: dez dias semi-off na Lapinha, um dos melhores spas de medicina integrativa do mundo, em Curitiba. Pensa em um destino onde só de chegar a mente já entra no ”modo regeneração”, com paisagem que se perde de vista e alimentação orgânica gourmet. Junto com isso, atividades, terapias e experiências sensoriais dedicadas à recarga de energia.

Precisei de uma medida geograficamente distante para internalizar algo importante: se eu não pisar no freio na gestão do meu estresse, ninguém vai fazer isso por mim. Descansar é uma atitude. Abstraindo o fato de que estive em um paraíso, descansar precisa ser simples. Precisa.

No mesmo ritmo em que o termo autocuidado se torna o novo normal, nunca foi tão complexo monitorar os mil fatores geradores de tensões do dia a dia. Meu “normal” é lidar com 40 abas abertas ao mesmo tempo – no meu computador e na minha mente. Como fechar a janela e zerar tudo antes que o sistema trave? Só mesmo quebrando paradigmas com os quais estamos acostumados: a glamourização da agenda lotada, o equívoco de ser multitarefa, a falta de silêncio e de vazio.

Não há sistema de saúde no mundo que dê conta de uma sociedade exausta. Pesquisando sobre isso, cheguei ao trabalho da psiquiatra americana Saundra Dalton-Smith, citado recentemente em uma reportagem da CNN Brasil. Após 20 anos de experiência clínica em diagnósticos psiquiátricos, ela identificou algo em comum entre seus pacientes: a exaustão. Com isso, passou a defender a tese de que a saúde começa pelo descanso.

Descanso
Foto: Arquivo pessoal

Em seu livro Sacred Rest (Descanso Sagrado, em tradução livre) e também em um TED Talk disponível no Youtube, Saundra explica que existem sete tipos de descanso, sem os quais ninguém vive bem. Além do físico e mental, que a gente já está habituado a falar, existe o descanso espiritual, emocional, social, sensorial e criativo. Cada um requer um tipo de cuidado, e todos operam ao mesmo tempo.

Daí conectei os pontos sobre o que vem acontecendo em inovação na saúde. De um lado, o conceito de cuidado integrado passa a ser o mantra dos grandes players e até de seguradoras. Nesse cenário, as healthtechs – empresas de tecnologia voltadas à saúde – são protagonistas. Podemos esperar a telemedicina para sempre, inteligência artificial, IoT e toda sorte de inovações voltadas à gestão, ao relacionamento com pacientes e ao setor farmacêutico. Mas, nada disso vai funcionar em uma sociedade patologicamente exausta.

Sem criar janelas de silêncio mental não vai ter médico especialista, plano de saúde e nem hospital que dê conta. O que pode acontecer – isso sim eu enxergo – é o casamento entre o que a ciência e a tecnologia podem fazer à mudança de atitude individual em relação aos nossos próprios limites. Saber sair da tomada. Isso não vai acontecer em um spa ou em um pedido de demissão, mas em suas pequenas escolhas do dia a dia. Será na quebra de velhos paradigmas sobre ser produtivo e eficaz o tempo todo. De todos os cargos difíceis que existem por aí, ser o CEO da própria sanidade talvez seja o mais desafiador. É bom estar descansado.

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