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Créditos: Alex Santana/Revista J.P
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Na Floresta da Tijuca, onde Mana Bernardes mora, banhos de cachoeira, compostagem e até projeto de piscina de argila medicinal fazem parte do estilo de vida alternativo da artista

Por Denise Meira do Amaral para revista Joyce Pascowitch de agosto

Mana Bernardes nos recebe de cabelo molhado e toalha enrolada no corpo em uma tarde de inverno no Alto da Boa Vista, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, onde mora. “Cheguei da montagem da minha escultura na Barra e acabei caindo na água”, explica a poeta, artista e designer, ao falar sobre seu mais recente trabalho, uma estrutura feita de bambus e garrafas PET instalada na Praça do Ó. A “água” em questão não era uma piscina tradicional, mas uma fonte de água potável, com direito a paredes de pedra, limo ao fundo e cachoeira – tudo em seu próprio quintal.

Ao pegar uma carona com a equipe da J.P em um 4×4 – um carro sem tração não consegue subir a rampa íngreme que leva até a entrada de sua casa –, Mana traz consigo uma cestinha de palha com limões-cravo recém-colhidos. “São uma delícia”, comenta.

Na entrada, um indício da admiração da anfitriã pelo Oriente: uma prateleira acomoda os sapatos sujos da rua. Já na enorme sala, apenas um banco de madeira projetado por ela, um altar budista com bananas e um piano de cauda cheio de fios conectados. Mana logo explica: “O piano está assim porque o meu par está preparando a trilha da minha instalação. Falo meu par porque não gosto da palavra marido. Tem ‘ido’… é feio, né?”. O par de Mana é o músico Marcelo Jeneci, com quem ela mora há cerca de um ano.

Através das paredes de vidro da sala avista-se a monocromática Floresta da Tijuca. “É como se eu tivesse saído do Rio, mas estamos no meio da cidade. Amo estar na floresta. Meu pai e meu avô sempre me levavam para o mato quando eu era pequena”, relembra com carinho, ao falar do cineasta Sergio Bernardes e de seu avô, o famoso arquiteto de mesmo nome, ambos já mortos. Mana é filha da poeta e socióloga Rute Casoy, irmã do músico Pedro Bernardes, tia de Mano Wladimir – filho de Pedro com Marisa Monte – e ex-mulher de Paulo Betti.

Percebe-se em cada detalhe a preocupação dela com o meio ambiente e a saúde. Entre os sucos verdes, que bebemos ao chegar, e o almoço, com quinoa, inhame, brócolis e beterraba servidos em pratos de porcelana de sua avó, ela conta que construiu uma compostagem para depositar o lixo orgânico assim que se mudou para a casa. “Tenho muita conexão com a decomposição. Quero consumir o que vai voltar para a terra e não entupir o planeta de coisas”, explica.

Na cozinha, uma estante de madeira feita por Mana para sua linha da rede Tok&Stok acolhe frutas, verduras e legumes comprados na feira orgânica perto de sua casa. Da janela se vê a horta, com guaco, batata-doce e cúrcuma crescendo. E, apesar da correria, ela conta que faz questão de cozinhar todos os dias. Prepara, inclusive, o almoço para a funcionária que vai limpar a casa duas vezes por semana. “É o meu ritual. É sensorial. Acho importante entender a estrutura dos alimentos.”

A única TV da casa, quase nunca ligada, fica no quarto de hóspedes, coberta com uma faixa de poemas de sua autoria. No quarto do casal, um espaldar para se alongar assim que acordar, além de luminárias para velas herdadas de sua avó, já que a luz elétrica é pouco usada quando a noite chega. Na sala, uma lareira, que é acesa quase diariamente, apoia cestinhos de vidros com cascas de alho cobertas por palavras, os “oráculos”, também de sua autoria. Saindo para o quintal, uma piscina vazia, que vai ser em breve coberta por argila medicinal.

Já na garagem, pode-se encontrar uma parte de seu ateliê. Com vestidos feitos de cascas de alhos e móbiles de garrafas PET pendurados no teto, é ali que Mana costuma fazer arte. Sua última obra, a escultura interativa chamada Circuito de Merkabahs, no entanto, foi feita perto dali, na comunidade do Vale Encantado, com a colaboração de artesãs locais.

“Todas as minhas criações só se tornam possíveis por meio dos vínculos afetivos criados com as pessoas”, conta Mana, que se descobriu artista aos 7 anos, quando foi acompanhar seu pai em aldeia indígena pataxó no sul da Bahia e começou a desenvolver colares com sementes.

“Acho que a mão é uma extensão do pensamento. A nova geração sofre muito por falta de manufatura. Precisamos nos relacionar mais com a mão”. Sua casa é a melhor tradução disso.

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