Fernanda Torres adora rotina e entre seus talentos está fazer bordado, cerâmica e crochê. Acha que não fica nada bem de minissaia e entrega que seu lugar no mundo está escondido lá na Patagônia. Fernanda Torres, que está de volta à TV na série Filhos da Pátria com uma personagem obcecada em fazer parte da alta sociedade, celebra o aniversário da J.P com esta deliciosa entrevista. Vem!
Por Fernanda Grilo para a revista J.P
J.P: Ser filha de Fernandos é…
FERNANDA TORRES: Ser de circo.
J.P: O que mudaria em você?
FT: As coxas grossas, não fico bem de minissaia.
J.P: Quem gostaria de ser?
FT: A Nastassja Kinski por fora e o Charles Darwin por dentro.
J.P: Falar a verdade é…
FT: Mentir quando necessário.
J.P: Quando mente?
FT: Sempre que posso.
J.P: O que é transgressão no século 21?
FT: Ser moderado.
J.P: Momento obsceno?
FT: A Casa dos Budas Ditosos.
J.P: O que uma mulher faz que um homem não faz?
FT: A cama. Eu faço a minha, mas não conheço nenhum homem que faça a dele.
J.P: Mania?
FT: Rotina. Adoro rotina.
J.P: Vício?
FT: O ócio criativo.
J.P: O que não sai da sua cabeça?
FT: A curiosidade.
J.P: Comida que faz quebrar a dieta?
FT: Torrada sueca com passas, queijo e chá Marco Polo.
J.P: Talento seu que ninguém conhece?
FT: O desenho, o crochê, a cerâmica, o bordado e a botânica.
J.P: O Brasil está chato?
FT: O mundo piorou muito desde a última vez que eu saí.
J.P: Como seria um país sem cultura?
FT: Não existe sociedade sem cultura, ela é um efeito colateral da humanidade. A Semana de Arte Moderna é tão cultura quanto os filmes de Leni Riefenstahl. Você pode amar ou odiar a cultura vigente, mas não há como eliminá-la.
J.P: Quem é o filho da pátria?
FT: Na série, é o Geraldo Bulhosa. Burocrata equilibrista, sempre alerta para servir às novas diretrizes do eterno novo Brasil.
J.P: O que não mudou no Brasil desde 1500?
FT: O que ainda resta da floresta amazônica. Mas, se tudo continuar do jeito que passou a ser, o extrativismo do terceiro milênio dará cabo do que sobrou.
J.P: Como define o politicamente correto?
FT: Não defino politicamente incorreto para não cair em incorreções.
J.P: Humor com o oprimido? E com o opressor?
FT: Libertador para o oprimido, ameaçador para o opressor.
J.P: O que te faz rir?
FT: Não há nada que se compare ao prazer ginasiano de ser acometido por um frouxo riso em cena. Em Rei Lear, com 18 anos, eu ria até morta, de Cordélia. Escrevi o A Glória e Seu Cortejo de Horrores por causa disso.
J.P: Momento de mau humor?
FT: Noite maldormida, festa com música alta, avião com tempo fechado, trabalhar no que não gosto. Mau humor me dá muito mau humor.
J.P: Para quem faria uma apresentação particular?
FT: Já fiz, para o João Ubaldo Ribeiro. Foi uma tragédia. Depois, com o público, foi uma catarse, mas nunca vou esquecer daquela tarde no Teatro Candido Mendes, com o Ubaldo e o Domingos assistindo o último ensaio geral.
J.P: Uma frase?
FT: Não fique parado esperando o que Jesus prometeu, porque ele também está esperando que você tome vergonha na cara.
J.P: Pior invenção da humanidade?
FT: As redes insociais.
J.P: Quem te inspira?
FT: O Mircea Eliade e o Lévi-Strauss. O Machado e o Silveira Sampaio.
J.P: Melhor conselho que já ouviu. De quem?
FT: Da minha mãe: “Minha filha, não tenha pena de si mesma”.
J.P: Melhor conselho que já deu.
FT: É uma frase que funciona como conselho: “I couldn’t care less”.
J.P: Momento mais brilhante…
FT: Dos 40 aos 49 foi muito bom. Mas continua sendo.
J.P: Um lugar no mundo?
FT: Torres del Paine, Patagônia.
J.P: Do que sente saudade?
FT: Do Rio de Janeiro ter futuro.
J.P: A eternidade existe?
FT: Existe. É só olhar para o céu.
J.P: Como gostaria de morrer?
FT: Com saúde.