Debora Bloch é estrela da capa da J.P de novembro e, aos 56 anos, revela: “Fiquei 10 anos solteira. Mas agora rolou. Estou feliz”

Debora Bloch vive o grande papel de sua carreira, a professora Lúcia da série ‘Segunda Chamada’, e está radiante com seu segundo casamento, aos 56 anos

por aline vessoni fotos bob wolfenson styling david pollak beleza robert estevão (capa mgt)

Nos palcos e nas telas, Debora Bloch é muitas: já fez rir, já fez chorar, mas, principalmente, já fez pensar. Exatamente do jeito que gosta, porque, como frisa na entrevista, é esse o papel da arte, “provocar o pensamento crítico”. Neste ensaio de capa, Debora também é muitas: a despojada, a divertida, a chic – aliás, chic é algo que ela nunca deixará de ser. E foi por isso que ficou tão à vontade para os cliques do fotógrafo Bob Wolfenson. “Prefiro assim, quando encaro vários personagens em um ensaio. Não sou modelo”, solta, mesmo depois de arrasar em frente à câmera.

Debora vestiu um look rendado sobreposto ao maiô, outro bem travesso, que a inspirou a jogar as pernas para o ar. Ela também rodopiou para as lentes e, arrematou a cena com um vestido de festa dourado e brincos espalhafatosos da Gucci. Perguntamos então se fizéssemos um paralelo com a vida real, qual dessas mulheres que estavam em cena ela está se sentindo? “A Debora do momento está de tênis”, ri, e aponta para os pés, logo após a sessão de fotos. Debora veste uma camiseta branca, calça larga e tênis, mas ainda consegue ser elegante. “Acho que agora sou um pouco da personagem que estava girando, a mais divertida talvez seja mais eu. A do sofá também, que está mais relaxada.”

Essa fase relax tem motivo de existir: coincide com assuntos do coração. Debora acaba de se casar com o português João Nuno Martins, produtor artístico com quem está há quase dois anos e o motivo pelo qual vive na ponte aérea Rio de Janeiro-Lisboa. “Fiquei dez anos solteira, eu amava estar solteira. Mas agora rolou. Estou muito feliz”, diz. “Casar é gostoso quando dá o match com alguém. Sou meio assim: quando vejo, já estou morando junto”, fala a mãe de Julia e Hugo, de seu primeiro casamento, com o chef e apresentador Olivier Anquier.

Com a relação, que começou no Carnaval de 2018, vieram também trabalhos permeados por discussões políticas. Durante os ensaios da peça Antes que a Definitiva Noite se Espalhe em Latino América, dirigida por Felipe Hirsch e que estreou no início do ano, o Brasil encarava, além da crise econômica, um período pré-eleições bastante acirrado e polarizado politicamente, acentuado pela guerra nas mídias sociais e o fenômeno das fake news. A peça, que, à princípio, era baseada na obra do desenhista e poeta André Dahmer, passou a contar com textos de seis dramaturgos latino-americanos superimportantes, todos escrevendo sobre o Brasil e o papel da arte.

“Essa peça fala sobre a ameaça do obscurantismo, mas sob uma perspectiva otimista”, explica ela, que, no entanto, se confessa pessimista com a perseguição às artes no Brasil, “com a crise política e econômica que se espalha por boa parte do globo, sobretudo na América Latina”. “O que está acontecendo no mundo é decorrente da desigualdade, não dá para meia dúzia de pessoas terem muito dinheiro e todo mundo viver na miséria”, fala, e continua: “Estamos num momento típico do autoritarismo. Os artistas são o reflexo da sociedade e provocam o pensamento crítico. O nazismo foi assim, a primeira coisa que fizeram foi queimar os livros, perseguir a ciência. Estamos vivendo a vitória da ignorância. Estamos retrocedendo e não aprendemos com a história”. Militante, Debora não é do tipo que abandona a luta e ri quando perguntamos se não teria vontade de se refugiar no país do marido: “Não, não, eu vou ficar aqui mesmo, porque eu gosto é do Brasil. Acho que temos que tentar manter a esperança, não desistir, temos que resistir e trabalhar para que o país melhore”.

Nem deu tempo para respirar do teatro e Debora já estava na preparação da minissérie Segunda Chamada, da Globo, em que vive uma professora do Ensino de Jovens e Adultos (EJA). Para dar vida a Lúcia, se inspirou em algumas histórias reais, que conheceu em visitas a EJAs tanto da periferia do Rio de Janeiro quanto de São Paulo, onde aconteceram as gravações. “É um trabalho muito tocante. Apesar da precariedade, condições muito difíceis, é emocionante ver como essas professoras são comprometidas, como são afetivas e sabem a história de cada aluno”, conta. A série e o papel de Debora já estão sendo vistos como o melhor da televisão brasileira neste ano.

BELEZA PÕE A MESA?
Não tem como não se impressionar com a boa forma física de Debora aos 56 anos. O que não tem nada de milagroso, já que ela é o tipo de pessoa que gosta de se exercitar diariamente. Entra para a conta os anos como bailarina na infância e juventude, a musculação, corrida e pilates. Exercitar-se para a ela, porém, vai muito além da estética: tem a ver com sentir-se bem – física e mentalmente – e estar preparada para os palcos. “O corpo é instrumento para o ator.” Confessa, no entanto, que não é nada fácil envelhecer. Não se deu muito bem com o botox, aplica laser quando acha necessário e não julga quem corre atrás de tratamentos. “Eu vejo minhas fotos e falo: ‘Nossa como estou velha’. Mas é isso: já tenho 56. Não dá para ficar igual à mulher que fui aos 20 ou 30 anos. Tem que aceitar as mudanças, é difícil, ainda mais sendo atriz. Mas não tem jeito, tem que aceitar, se não você vai ficar sempre infeliz. A vida é assim. Todo mundo envelhece. Quem não envelhece é porque morreu”.

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