Ela é livre, fala o que pensa e segue pelo caminho que der na telha. Bem diferente de sua personagem de A Dona do Pedaço, Monica Iozzi não quer saber de padrões
Por: Thayana Nunes / Fotos: Maurício Nahas / Styling: Juliano Pessoa e Zuel Ferreira / Beleza: Saulo Fonseca (capa mgt)
Ué, mas o ensaio não era nu?” Essa foi a primeira reação de Monica Iozzi quando entramos no camarim e ela passou os olhos nos looks escolhidos para as fotos. Por um segundo a gente até acha que ela está falando sério, porque convence. É engraçada sem ser forçada e irônica por natureza. E faz tudo isso com a maior serenidade. Tem sorriso largo e voz calma, parece até um pouco tímida. Um tanto diferente do que a gente vê na TV: quem não se lembra do furacão sem filtro que percorria os corredores do Palácio do Planalto, em Brasília, época em que era repórter do programa CQC, da Band? Ou de uma Monica hilária que alavancou a audiência e revolucionou o Vídeo Show, na Globo? Ah, falando em primeiras impressões, ela é superalta. Foi unânime o comentário durante o ensaio, já que ela fez questão de se levantar da cadeira e cumprimentar cada pessoa da equipe que chegava.
Monica Iozzi de Castro nasceu em Ribeirão Preto, em 1981, e é uma atriz. Sempre sonhou em ser, desde pequenininha. “Queria ser igual a Renata Sorrah como Heleninha Roitman em Vale Tudo, ou a Malu Mader em Top Model”, conta. Começou estudando teatro aos 11 anos e o dia mais feliz de sua vida foi “19 de dezembro de 1993”, quando estreou a peça Oliver Twist no Theatro Municipal de São Paulo. “Nunca vou esquecer, ficava pulando, ria, chorava, tudo junto.” Então não: Monica Iozzi não é jornalista, não é apresentadora, como muita gente pensa. É atriz de talento, daquelas do tablado, que atuou na trupe Os Satyros ou que encara uma vítima de abuso sexual na série dramática Assédio, da Globoplay. “Meu caminho profissional não é nada óbvio, ele é todo sinuoso”, diz ela, que, na adolescência, a típica fase rebelde, falava que nunca faria televisão. “Nossos sonhos vão mudando, né?” Agora ela chegou lá: está no horário nobre como a divertida mentora de influenciadoras digitais Kim, de A Dona do Pedaço, da Globo, e tudo o que ela faz e diz repercute – e muito. O motivo é que, além de tudo, ela é engajada com os problemas do Brasil e as pessoas param para ouvir o que tem a dizer. Podem discordar, tudo bem, porque o que ela busca mesmo é o diálogo. E por esse motivo chovem convites para voltar a ser apresentadora. “É uma ideia prematura ainda e teria de ser algo com a minha assinatura, que não fosse só entretenimento.” A seguir, mais do nosso bate-papo.
J.P: Em tempos tão conturbados, o que mais deixa você à flor da pele?
MI: A arte sempre me impacta e é um dos motivos pelos quais quis ser atriz. Mas olhando pelo lado negativo, acho que é sentir o nosso potencial de ser humano desperdiçado. Temos a tecnologia para um consumo sustentável, para ter a floresta de pé… Tudo na mão para uma vida sensacional para todos nós. Acho que falta força de vontade, empatia e honestidade de quem trabalha com o poder público.
J.P: Você é uma das poucas atrizes que se posicionam politicamente.
MI: É muito difícil quando se fala para muita gente. Não tenho medo das pessoas que têm uma visão diferente, mas sim de não alcançá-las com o que eu falo. Essa é nossa única saída: diálogo e informação. É importante ter um discurso minimamente conciliador: somos diferentes e existem extremos. E claro que sou antigoverno, pelo amor de Deus.
J.P: Parece cruel hoje com as atrizes: para estar no horário nobre, além do corpo perfeito, é preciso ter milhões de seguidores nas redes sociais. É isso mesmo?
MI: Nossa, não sei! Pergunta pra Paolla! Acho que é nosso papel desmistificar padrões perfeitos, sabe? Se eu não acho que existe um corpo ideal, será que não é bacana ajudar a desconstruir essa ideia? Todos nós somos vítimas dessas imposições. Sou uma pessoa vaidosa, mas não quero sucumbir a isso. Não quero ficar pensando se vou para a praia porque alguém vai tirar uma foto minha e vai aparecer a celulite. Eu vou! Primeiro, acho ridículo uma pessoa ficar tirando foto de alguém em uma atividade cotidiana. Nunca tive nenhum interesse nisso. Não entendo quem tem.
J.P: Um discurso totalmente diferente da sua personagem Kim…
MI: Sim! Ela fala uma coisa engraçada, que na internet “o povo não quer ver você como você é, o povo quer ver alegria, felicidade, beleza. Para ver tristeza, pobreza, o povo já vê na rua”. Mas estamos vivendo um movimento diferente: quem realmente consegue um púbico cativo mostra a real. E a gente ainda está começando a entender essa mídia, que, aliás, começou a interferir na escolha dos profissionais. Acho um erro tremendo. Não importa se você tem 10 milhões de seguidores, se tem a cara mais linda de todas: se não tem um trabalho a ser apresentado, dificilmente vai durar. E se durar, o que você quer falar? Por que você escolheu ser artista?