Publicidade

Por Luciana Franca

Quem cai por acaso no Instagram de Thai de Melo Bufrem deve achar que se trata de um canal de moda. Se olhar mais um pouco, perceberá que tem humor, boas sacadas e muita personalidade. E, a partir de então, nunca mais vai abandonar o perfil dela. Em tempos de filtros e tanta coisa fake na tela do celular, Thai apareceu, há pouco mais de um ano, como um refresco para aqueles que não aguentam mais rostos e corpos distantes da realidade, papos e looks vazios, e publicidade disfarçada de dica de amiga.

A boa-vistense, que se mudou para Curitiba na adolescência, usa seu perfil e seu olhar de esteta para levar uma moda pensante e discutir beleza, maternidade e empoderamento feminino sem precisar levantar bandeiras. “Tem gente que coloca a bandeira na cara, outros vão nas entrelinhas e, assim, a gente fala sobre as mesmas pautas de formas diferentes. Nunca usei a palavra feminismo, mas sou feminista. Tem muitas mulheres que, infelizmente, ainda vivem num mundo tão machista e patriarcal que nem me seguiriam se eu começasse a falar sobre isso”, conta. “Sempre fiz com humor e ironia porque assim você não impõe, mas planta uma semente.”

Look total Louis Vuitton (Crédito: Maurício Nahas)

“Fui Miss Roraima aos 18 anos. Quando me vi, estava ali querendo ser aceita… Fui eleita a mais simpática, óbvio. O título que mais amo é esse e, hoje em dia, morro de orgulho de falar isso”

E Thai permeia suas crenças de forma leve e espirituosa entre seus seguidores. Aos 35 anos recém-completados, ela é prova de que é possível subverter os padrões impostos. Teve seu primeiro emprego aos 30 e no último Dia dos Pais, por exemplo, fez um vídeo bem-humorado homenageando o marido, mais conhecido como Marcelão, em que conta que hoje ela é a mãe que trabalha fora, mora parte da semana em São Paulo, e ele é quem fica com os filhos, Marcelo e Lorenzo – famosos na internet como MarceLorenzo –, compra uniforme, lembra de dar remédio e leva para as atividades extracurriculares. “Compartilhar a nossa história pode ajudar outras pessoas a viverem outras perspectivas.”

DONA DO CHEQUE

“Dei o golpe no Marcelo (risos). Engravidei do primeiro filho com 23 anos, aí casei e me dediquei às crianças e a ele. Fiquei seis anos nisso, fui jubilada na faculdade de jornalismo, fiz vestibular de novo e terminei com quase 30. Meu pai sempre falava: ‘Quem manda é quem assina o cheque’, e eu ficava pensando nisso. Queria muito ter minha liberdade financeira, me via sempre refém, queria dar o último ‘sim’. O último ‘sim’ não era meu se eu quisesse comprar um vestido, era do meu marido. Meus pais tiveram uma relação muito complicada. Vi minha mãe não conseguir sair desse relacionamento por causa da situação financeira, não conseguia bancar a mim e ao meu irmão. Quantas mulheres são obrigadas a se sujeitar ao que não querem? Comecei a me sentir muito incomodada porque saí do cheque do meu pai para o cheque do meu marido, vi tudo o que minha mãe passou até conseguir se libertar e falei: ‘Não quero isso na minha vida, quero assinar meu cheque’. E aí fui trabalhar como vendedora de shopping aos 30, assim que acabei a faculdade.” 

Vestido e capa Prada, meia-calça Calzedonia (Crédito: Maurício Nahas)

NUNCA É TARDE 

“Eu achava que nunca iria conseguir nada na vida, que era burra, sempre achei que a geração com 30 anos já tinha 15 anos de carreira, feito pós, mestrado, doutorado… Aí meu marido tinha investido em um restaurante e tinha dado errado. Então, fiz um espaço kids maravilhoso – a maternidade me ajudou muito, ela me move – e salvou o negócio dele. Pensei: ‘Sabe que eu não sou tão ruim assim?’ Ali foi meu start. Só que trabalhar com marido não dá certo, então ele sugeriu abrir uma loja para mim. Mas eu não quis, preferi aprender com o dinheiro dos outros. Fui ser vendedora na loja da Cris Barros. Como minhas amigas eram minhas clientes, decidi fazer uns vídeos no meu Instagram para elas verem, assim começou o Provador da Thai, que tinha vinhetas, sátiras, esquetes… Eu falava de maternidade, estava sempre vestida com os looks [que queria vender] e performou muito bem.”

“Tem muitas mulheres que ainda vivem num mundo tão machista que nem me seguiriam se eu começasse a falar sobre feminismo. Com humor você planta uma semente”

#SEMFILTRO 

“Eu não uso filtro [no Instagram], é um posicionamento, uma libertação. As mulheres falam que gostam de me ver assim. Por outro lado, tem quem diga: ‘Nossa, como você é feia, tem melasma’. Eu gosto dessa coisa de provocar, óbvio que me machuco no caminho porque vim dessa sociedade que preza pela menina de narizinho… Já tive distúrbios alimentares e aí falei: ‘Peraí, percentual de gordura não mede caráter’. Em que momento a gente se perdeu achando que a perfeição é isso? Sou vaidosa, adoro me cuidar, passo meus cremes, só que acho que todo excesso esconde uma falta. A gente vive na sociedade dos excessos e isso é muito preocupante. A vida não é um concurso de beleza. Fui Miss Roraima aos 18 anos, meu pai tinha essa coisa da filha mais bonita, essa egotrip, e me levou para isso. Quando me vi, estava ali querendo ser aceita, querendo ser a mais bonita… Fui eleita a mais simpática, óbvio. O título que mais amo é esse e, hoje em dia, morro de orgulho de falar isso.” 

AQUI AGORA 

“Tinha muito medo de avião, pânico, chorava, achava que ia morrer. Pegava dois voos por semana e falava: ‘Olha só, Deus, vai ser feio da sua parte, estou indo trabalhar’. O humor veio para me ajudar nessas horas. E comecei a amar pensar na morte, em pensar que a gente é finito. Isso mudou a minha vida. Quando comecei a lembrar que iria morrer, passei a viver melhor porque a gente vive achando que nunca vai morrer.”

Look total Salvatore Ferragamo, brincos Tiffany & Co. (Crédito: Maurício Nahas)

 #PUBLI 

“Quando comecei a usar o Instagram, passei a ver as frestas do que eu queria consumir e as brechas do que não estava sendo feito, por exemplo, a publicidade. É cheio de publi e a galera não sinaliza, o que me irrita demais e é errado. Se aquilo é verdadeiro, tem que ter orgulho, você está com uma marca que acredita, que está te pagando. Os influenciadores caíram numa vala de chacota da sociedade porque foi todo mundo colocado no mesmo buraco, com várias pessoas que não levam a profissão a sério. Todo mundo precisa vender, vamos fazer isso de uma forma legal e honesta. Desde pequena, sempre gostei de ver propagandas inteligentes.”

* Matéria originalmente publicada na Revista J.P, do grupo Glamurama

VOCÊ TAMBÉM PODE GOSTAR

Instagram

Twitter