Coluna Nova York – Por Nessia LEONZINI

UMA VIDA
O artista Dash Snow faleceu na semana passada, de overdose, aos 27 anos. Era carismático, tinha enorme talento e conquistava a todos que o conheceram. O mundo não tinha limites para Dash, o iconoclasta, que trabalhava com aquilo que tinha à mão, desde tubos de pintura até o próprio sêmen e vômito. Foi um dos artistas participantes da última Bienal do Whitney e sua obra figura em diversas coleções públicas. Fez parte do grupo Irak Crew e, sob o pseudônimo Sacer, deixou marcas em toda a cidade com grafitis assinados com as iniciais R.I.P. Há poucos dias, um mural colorido, enorme, surgiu na esquina da Houston com a Bowery, no mesmo local em que Keith Haring havia executado o painel dele, em 1982. O mural é dedicado a Dash Snow/Sacer/R.I.P., uma linda e comovente homenagem assinada pelos brasileiros Gustavo e Otavio Pandolfo, da dupla osGêmeos, que representam, no seu vocabulário característico, cenas do dia a dia misturadas com fantasias e momentos mágicos “de um mundo que vive dentro de nós, um sonho real”, segundo os artistas. Muito apropriado.

REVOLUÇÃO
Entre 1967 e 1980, o ativista negro Emory Douglas fez parte do grupo político Black Panther como ministro cultural e artista revolucionário. Com cinco mil membros, o partido visava efetuar transformações sociais através do engajamento político na comunidade afro-americana. Douglas desenhou os pôsteres e as publicações do Black Panther, sendo que o jornal do grupo atingiu uma circulação de 400 mil: o design vivo, incendiário, representava mulheres e homens de cabeça erguida, em atitudes de desafio aos abusos do poder e ao racismo predominante. A arte de Douglas, esteticamente poderosa e facilmente identificável, é sinônimo mesmo da Guerra dos Direitos Civis na América. Faz parte da história e está no New Museum para ser compreendida.

HISTÓRIA
David Goldblatt é um dos maiores fotógrafos da nossa época. Um nome desconhecido do grande público e muitas vezes de seus colegas de profissão. Atuando com uma testemunha da história, desde os anos 1960, Goldblatt – o observador – metódica e criticamente, registrou em imagem após imagem os efeitos do apartheid na África do Sul, país com cultura e paisagem atormentada pelo racismo. São fotografias que não dizem muito, mas dizem tudo: não é o “momento decisivo” que atrai o olhar, mas a rotina e os momentos particulares. Goldblatt é seduzido seja pela composição e formalidade estética (as linhas de uma ponte), seja pelo emocional (simples retratos), ou racional (um lavatório da comunidade negra). Aqui não há nada de espectacular, mas tudo conta. A obra, que cobre os 50 anos de carreira do fotógrafo, é uma revelação.

The Photography of David Goldblatt
New Museum

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