Antônio Bivar propõe um tour por Londres em tempos de Olimpíadas

Por Antônio Bivar na revista Joyce Pascowitch de julho

Londres é uma cidade perfeita para quem gosta de flanar. Tanta coisa acontece que a rainha nem dá conta. Sessenta anos de trono é pouco e Elizabeth, aos 86 anos, sabe disso e quer mais. Como exímio flaneur nesta fabulosa cidade, dou aqui dicas para quem vem passar só alguns dias. Julho é o auge do verão, e verão em Londres pede jardim. Chelsea é o melhor bairro e o Chelsea Physic Garden é o mais antigo jardim botânico da cidade, fundado em 1673 pela Sociedade dos Boticários. Comprado em 1722 pelo doutor Hans Sloane – que também dá nome ao Sloane Square (o centro do bairro e onde fica a estação de metrô) assim como a Sloane Street (a rua das grifes famosas e caras). Pouca gente conhece esse jardim, de modo que você se sentirá um privilegiado se for lá. Será uma experiência memorável. Os poucos que entram nessa maravilha têm a sensação de penetrar num jardim secreto. O ingresso custa 10 libras. Através dos séculos o Chelsea Physic Garden conseguiu preservar o espírito inicial do projeto em seu cultivo amoroso de espécies raras em canteiros classificados e catalogados – flores belíssimas e uma infinidade de plantas, muitas cultivadas em estufas por conta de suas condições climáticas. O Chelsea Physic Garden, que dispõe de um simpático restaurante, fica junto ao Tâmisa, de onde se avista, do outro lado do rio, o Battersea Park.

UM BAIRRO MÁGICO
Tire um dia para caminhar pelo Chelsea. Pode-se passear pela Tite Street perto do Physic Garden e avistar a placa azul da casa onde morou Oscar Wilde antes da queda. E ir ziguezagueando até a rua principal, a lendária King’s Road, onde lojas e restaurantes são parte do eterno encantamento do bairro. O rei Henrique 8º teve em Chelsea sua Manor House. Séculos depois, Karl Marx morou com a família meio ano em uma casa no bairro até ser despejado por falta de pagamento do aluguel. Chelsea, onde vários pintores pré-rafaelitas tiveram seus estúdios, onde Thomas More, na Old Church Street, escreveu sua Utopia. Em 1970, morei nessa rua onde, em outras épocas, outros séculos, Jonathan Swift, o autor de As Viagens de Gulliver, também morou, assim como Katherine Mansfield (durante a guerra de 1914/18). Nessa Old Church Street vivi um dos anos mais felizes da minha vida. Da minha janela, que dava para a King’s Road, eu avistava as celebridades da hora: Joan Collins (repetindo o mesmo vestido em dias diferentes na mesma semana), Diana Dors, Mick Jagger… Por isso amarei Chelsea até o fim dos meus dias. Em frente ao meu quarto havia o cinema Essoldo, que anos depois virou o teatro onde estreou o lendário musical Rocky Horror Show. Dali para o mundo. Na mesma época em que eu ali morava, a uns 50 metros, Manolo Blahnik abria sua primeira loja de sapatos. A loja existe ainda hoje. Do outro lado da rua, num beco, o pequeno estúdio onde Pink Floyd gravou o primeiro LP.
Chelsea, onde Bram Stoker, no número 27 da Cheyne Walk, escreveu Drácula. Chelsea, onde, na década de 1960 teve início a swingin’ London, onde Mary Quant inventou a minissaia, onde Judy Garland morreu, onde Marilyn Monroe – quando filmava na cidade “O Príncipe Encantado”, com Laurence Olivier – ia ao pequeno teatro Royal Court em Sloane Square dar força ao marido, Arthur Miller, que estreava sua peça “The Crucible”.
Quase duas décadas depois, ali na King’s Road começava o glamour rock com Roxy Music e, em 1975, o punk rock (com os Sex Pistols) na loja SEX, de Malcolm McLaren e Vivienne Westwood. A lojinha está lá até hoje (toda reformada nesta minha temporada em 2012). Antes, em 1969/70, na Redesdale Street, Caetano Veloso e Gilberto Gil mais suas mulheres e clã dividiam um sobrado antes de cada um mudar para sua casa em Notting Hill. Guilherme Araújo, o inesquecível e saudoso empresário dos baianos que teve a ideia de levar seus contratados para o exílio inglês, em Chelsea.

LOJAS CHIQUES E BRECHÓS DE LUXO
Na hoje poderosa Sloane Street, há dois séculos no número 64, na residência do irmão, Jane Austen corrigiu as provas de seu primeiro romance, Sense and Sensibility. Na mesma rua, no número 146, Edgar Allan Poe passou sete anos de sua vida. E outros escritores, como o filósofo Bertrand Russell, os romancistas Henry James, Somerset Maugham, Vladimir Nobokov (Lolita), o explorador da Antártida Robert Falcon Scott, o ocultista Aleister Crowley, para citar alguns, todos tiveram seus pied-à-terre em Chelsea. Do showbiz, Michael Caine, Christopher “Drácula” Lee, Johnny Rotten, Sid Vicious etc, também tiveram suas moradias em Chelsea – umas mais duradouras, outras apenas temporárias. A dama de ferro Margaret Thatcher deixou sua residência no bairro e foi morar na Downing Street número 10 assim que tornada primeira-ministra.
Ao longo do bairro você pode cruzar com brechós incríveis como a loja Oxfam – na qual, por ninharia, pode eventualmente encontrar sapatos Ferragamo, Louboutin, Blahnik, vestidos Gucci, Stella McCartney. Um endereço de brechó certo é o da loja da Cruz Vermelha (British Red Cross), na Old Church Street, 69. E para comprar material de arte não existe em toda Londres loja mais encantadora do que a Green & Stone, na King’s Road número 259. E livros, uma livraria tão exclusiva que chega quase a ser secreta, a John Sandoe Books numa ruela, a Blacklands Terrace número 10, perto de Sloane Square. Tão secreta que nem os paparazzi sabem que nela podem cruzar com uma Gwyneth Paltrow. E para almoçar, jantar ou simplesmente lanchar, Chelsea é um paraíso gastronômico. Desde o charmoso tailandês Busaba ao top floor da loja de departamentos Peter Jones/John Lewis de onde, através de um farto envidraçamento, avistam-se os telhados do bairro e de Londres até perder de vista. E da Chelsea Bridge, no dia mais importante do Jubileu de Diamante, com a rainha e membros da família real no barco mais luxuoso e florido, o desfile dos mil barcos para cerca de um milhão de almas felizes no maior pageant da história do Reino Unido.

Confira abaixo os lugares indicados pelo colunista da Revista Joyce Pascowitch:

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