Não é que Xuxa voltou a ganhar os holofotes com as causas urgentes que defende, como abuso infantil, veganismo e homofobia, quando pensava em desacelerar? Antes de realizar o desejo de morar no meio mato, ela lançou autobiografia e terá sua trajetória retratada em documentário e série
por Luciana Franca fotos Fabio Bartelt styling Marcelo Cavalcante beleza Edduh Moraes
Xuxa já vislumbra seu futuro próximo em um sítio ou em uma fazendinha ao lado do seu “véio”, como ela se refere ao namorado, o músico Junno Andrade, esperando a filha Sasha levar seus netos. A vida pacata é uma escolha da apresentadora que faz sucesso por quase quatro décadas. “Tudo tem começo, meio e fim. É totalmente natural meu trabalho estar diminuindo e eu querendo me afastar disso tudo. É uma escolha muito adequada para a minha idade e por tudo o que vivi. Ninguém pode querer estar no topo a vida toda, é insano, não existe, a pessoa que procura isso acaba se matando”, diz ela.
Mas no ano mais difícil dos últimos tempos, quando a pandemia colocou luz sobre quem está fazendo a diferença, Xuxa reaparece com mais força pelas causas que abraça. Na esteira dessa exposição, começaram a surgir convites de novos projetos para a apresentadora que levanta bandeira contra o abuso sexual e físico sofrido por crianças, contra a homofobia e a favor do veganismo. Aos 57 anos, ela também luta contra o ageismo, o preconceito da idade que sente na pele diariamente, basta publicar uma foto em suas redes sociais sem filtro e sem maquiagem. “As pessoas estão me buscando para fazer documentário e série (biográfica) porque têm interesse no que tenho para falar agora, porque abracei essas causas que eu acredito”, conta ela, contratada da Record até o fim de 2020.
A vida de Xuxa é um livro aberto. Agora, literalmente – lançou recentemente uma autobiografia, Memórias (Globo Livros), em que relata suas dores e seus amores. E reconhece que foi ficando cada vez mais autêntica e dona de si com o passar dos anos. Em 2012, tomou coragem de contar, pela primeira vez, em rede nacional, os abusos na infância e na adolescência. Mas a transformação pessoal começou antes, em 1998, quando tornou- -se mãe. “Eu tinha que ser um ser humano melhor, que errasse menos, que minha filha se orgulhasse de mim. Comecei a me ver e a me sentir diferente. Queria falar do abuso para proteger minha filha. Profissionalmente, comecei a dar um chega pra lá em pessoas que me tratavam como uma marionete porque não queria isso para a Sasha”, revela. “Não foi da noite para o dia, fui me transformando, como uma lagarta que vira borboleta.”
O veganismo, que entrou de vez em sua vida há três anos, faz parte dessa busca em ser uma pessoa melhor. Ela tem na ponta da língua dicas dos melhores documentários para quem pensa em aderir a esse estilo de vida e um discurso afiado sobre todos os males que o consumo de carne acarreta para a saúde e para o meio ambiente. A alimentação à base de vegetais também trouxe à tona outro prazer: cozinhar. “Eu só sabia fazer omelete e sanduíche. Hoje, faço arroz integral, macarrão, saladas, um sopão maravilhoso e estou aprendendo muita coisa. Fui tentar me lembrar por que eu não cozinhava antes e é porque eu não gostava de mexer com bicho morto, e nem de ficar na cozinha por causa do cheiro.”
Outros prazeres triviais não são sempre possíveis para a mulher mais famosa do Brasil, reconhecida por fãs de todas as gerações e de vários países. Ela conta que se tivesse o poder de ser anônima por um dia, deixaria Junno escolher onde levá-la, já que há tantos lugares em que ele gostaria de ir com a namorada, mas evita porque sabe que causa tumulto. Antes da pandemia, vez ou outra o casal se arriscava a sair para jantar ou ir ao cinema – sempre uma missão difícil. A dupla gosta mesmo é de se divertir em casa, obedecendo o fuso horário de Xuxa, que acorda depois do meio-dia e vai dormir por volta das 4h30, 5h, com o dia já amanhecendo. Sasha, quando não está em São Paulo com o namorado, o cantor João Figueiredo, também troca a noite pelo dia para maratonar séries, documentários e filmes menos óbvios com a mãe. Quando a aposentadoria acontecer, a apresentadora talvez precise rever seu relógio biológico, pois a vida no campo começa bem cedo. Mas, até lá, tem muito trabalho pela frente e tempo para se ajustar.
RAIO X
ALÔ, PAIXÃO
Me apaixonei pelo Junno quando liguei pela primeira vez e ele disse que não podia falar porque estava com a filha. Pensei: “Caraca, esse cara é legal, botou a filha em primeiro lugar, vai me entender quando eu fizer o mesmo com a Sasha” .
VIDA LOUCA
Antes de namorar o Junno (em 2012), foi a primeira época da minha vida em que eu estava “pegando”. Nunca fui de ficar com alguém, mas me dei o direito de “pegar”, eu “pegava” um cara e soltava, “pegava” outro… Devo ter pego uns três caras diferentes em um ano, o que era “uau” para mim.
MANIA
Antes de comer, tenho que cheirar a comida, é mais forte do que eu, parece coisa de bicho. Tenho uma relação forte com cheiro. Lembro do cheiro do trem que eu pegava; o cheiro de manga me remete ao Ano-Novo, que era quando minha mãe podia comprar pra gente outras frutas além de laranja, banana e maçã.
DNA ARTÍSTICO
Minha mãe era professora de artes manuais, eu sei desenhar e pintar um pouco. Mas minha filha pegou todo esse talento e ainda toca piano. Estou convencendo Sasha a ilustrar um dos livros infantis que vou lançar, Vovó Passarinho, sobre o amor dela pela minha mãe.
FÃ NO SEX SHOP
Estava em uma loja em Nova York que vende coisas de cabelo e lá dentro tem um sex shop. Entrei e peguei um “pau” na mão quando um cara me pediu um autógrafo. Ele me deu um papel e dei o autógrafo em cima do “pau” (risos). Depois perguntou se podia tirar uma foto. Não deixei.
XUXA NA FICÇÃO
Ainda estão buscando uma atriz, mas tem que ser alguém que tenha a minha energia, a energia do Xou da Xuxa, porque a cor do cabelo, a cor do olho e o dente podem mudar. E como eu não morri, estou por aí, as pessoas vão comparar.