Wes Anderson está em voga novamente! Mas, diferentemente das várias outras vezes em que foi a pauta da hora mesmo atrás dos holofotes, o diretor americano de 54 anos – criador de um inimitável toque cinematográfico que fez seu nome virar sinônimo de estilo – agora desfila como a estrela máxima da temporada em uma outra indústria que, além de também contar histórias visualmente excêntricas, esboça tramas onde os figurinos roubam a cena: a multibilionária e sempre à procura de novos talentos indústria da alta moda europeia, um universo que precisa alçar voos cada vez mais altos quando o objetivo é comercializar sonhos.
As maisons francesas, sobretudo, sempre flertaram com Anderson, enamoradas pela produção estilisticamente meticulosa que é uma das marcas dele, e que vai muito bem com os novos consumidores. Mas até hoje, a única grife hypada do velho continente que conseguiu conquistá-lo foi a Prada. Em 2013, a prestigiada casa de moda italiana, sob o comando de Miuccia Prada, o convidou para dirigir um curta, chamado “Castello Cavalcanti”, destacado por um cenário que incluía itens de couro espalhados no próprio lar da estilista. Foi um hit e, tanto foi que, cerca de dois anos depois, Anderson foi chamado pela Prada para dirigir as filmagens de um comercial de lançamento de seu novo perfume, o L’Eau Prada, em 2017. Por fim, ele ainda assinou a decoração do Bar Luce, da Fundação Prada, em Milão, tornando o local que projetou para lembrar sua versão do paraíso caso vivesse em um filme eterno que se passa na cidade décadas atrás.
Apesar do fervoroso interesse das grandes marcas em contratá-lo, Anderson sempre se manteve distante de acordos que vinculassem sua inconfundível assinatura cinematográfica à imagem de um porta-voz comercial. Contudo, os corredores da alta moda estão sussurrando que uma multinacional francesa pode ter, finalmente, desenhado a proposta perfeita: um contrato lucrativo de vários anos, recheado de liberdade criativa e, por todos os indícios, irrecusável. No fim de setembro, o diretor era aguardado com expectativa na inauguração da nova e sofisticada sede corporativa da L’Oréal em Paris, estrategicamente posicionada no cruzamento da Rue Royale com a Rue Saint-Honoré, no coração do 8º arrondissement.
Para surpresa de muitos, cancelou sua aparição de última hora. Porém sua ausência não diminuiu o burburinho em torno de seu nome, sendo mencionado diversas vezes, inclusive por Françoise Bettencourt-Meyers. Como herdeira e principal acionista da L’Oréal, empresa fundada pelo seu visionário avô Eugène Schueller, e atual detentora do título de mulher mais rica do mundo com uma fortuna estimada em US$ 84,3 bilhões (R$ 425,7 bilhões), Bettencourt-Meyers é uma reconhecida admiradora do trabalho de Anderson. E, curiosamente, sua expressão naquela noite não denotava decepção pela ausência do cineasta, mas sim uma confiante expectativa pelo que está por vir.
Há meses, corre nos bastidores que Anderson e executivos da L’Oréal têm mantido reuniões, não exatamente com a matriz, mas diretamente com a Lancôme. Com o olhar sempre voltado para renovar e fortalecer seu vínculo com uma audiência mais jovem, a subsidiária, também voltada para o universo da beleza, almeja confiar a Anderson a direção de uma de suas principais campanhas publicitárias do próximo ano e, além disso, pretende apresentá-lo como seu embaixador global. Anderson, por sua vez, apesar de manter uma presença sutil nas redes sociais, é o estopim por trás de uma legião de devotos no TikTok e Instagram. Diariamente, esses fãs criam e compartilham inúmeros vídeos inspirados em sua inconfundível estética. A intensificação desses diálogos nas últimas semanas talvez esclareça o porquê de o diretor ter sido visto, mais de uma vez, passeando pelas ruas parisienses recentemente. Nenhuma das partes comenta o assunto.
Fundada em 1935 e incorporada ao portfólio da L’Oréal em 1964, a Lancôme carrega um legado de colaborações com grandes nomes do cinema e da moda. Essas estrelas, como Brigitte Lacombe, Aya Nakamura, e renomados fotógrafos como Peter Lindberg e Mario Testino, conquistaram prestígio dentro de seus habitats, sem necessariamente terem uma fama retumbante que ultrapassa esses limites. Suas parcerias com a marca, quase sempre, se tornaram cases de sucesso. Um dos mais emblemáticos data de 2011, quando a Lancôme, a joia mais exclusiva do leque de grifes de beleza da L’Oréal, cativou o exato público que queria com um curta-metragem comercial, rodado em Paris e estrelado por Emma Watson. No enredo, a atriz esquece seu chapéu em uma charmosa livraria parisiense. No desenrolar da trama, Cyril Descours, que a atendeu no local, a encontra lá pelas tantas às margens do Sena para devolver o acessório. Já em 2012, a Lancôme conseguiu fez outro gol de marketing com um comercial de TV no qual uma Betty Boop dos anos 1930 interage virtualmente com a supermodelo Daria Werbowy. Esse case virou tema de estudos em universidades mundo afora.
Quanto a Anderson, seu mais recente case na telona, “Asteroid City“, acumula US$ 53,2 milhões (R$ 268,7 milhões) em ingressos vendidos desde seu lançamento mundial em junho, uma performance notável que superou com folga o seu orçamento de US$ 25 milhões (R$ 126,2 milhões). Tamanha aclamação não se restringiu às bilheterias: o longa que mistura drama, comédia e ficção científica, e de um jeito que só o maestro dessa trama poderia conceber — o mesmo que deu vida ao eternamente icônico “Os Excêntricos Tenenbaums“, que hoje se aproxima do status de cult —, posiciona Anderson como uma figura-chave na corrida pelo Oscar do próximo ano. Em ritmo silencioso, mas firme, grandes grifes como Gucci e Louis Vuitton cobiçam a marca registrada de Anderson. O recado silencioso, porém poderoso, é claro: no palco da moda, o excêntrico sussurrado se tornou a assinatura da relevância.