Vladimir Brichta: “Não suportaria o anonimato”, “não investigaria traição” e mais!

Vladimir Brichta || Créditos: Juliana Rezende

Vladimir Brichta está a mil. No cinema, ele é Bingo, inspirado na trajetória de Bozo, palhaço ícone dos anos 80, e seu intérprete atormentado pelo fato de ser anônimo, apesar da fama do personagem. Uma história dramática envolvendo excessos com censura 16 anos. Na TV, ele se prepara para estrear como Zózimo, um detetive particular que investiga casos de adultério em “Cidade Proibida”, nova série da Globo ambientada nos anos 50. Todas as duas temáticas dão muito pano pra manga… E Glamurama foi conversar com o ator. À entrevista! (por Michelle Licory)

Glamurama: Detetive particular é uma profissão um pouco controversa… Como é a questão ética do Zózimo?  

Vladimir Brichta: “Ele é um cara meio amoral. Tem seus princípios, mas eventualmente se permite subverter isso. É um homem solitário, sem grandes objetivos ou ambições. Não pensa em ficar muito rico, nem em casamento. Vive muito cada instante, o aqui e agora. É um ex-policial que acha que a vida pode acabar a qualquer momento, então vive o presente de forma intensa, se encanta pelas mulheres que aparecem lhe pendido ajuda, se derrete… É um noir solar, brasileiro, carioca. Os detetives noir são mais frios e reservados. Ele até tenta ser, mas se apaixona por todas as clientes, acha que elas não mereciam estar sendo traídas. É um jeito tupiniquim de ser detetive particular, e uma série sarcástica, debochada, irônica e quente, mas com suspense. E várias participações incríveis [entre elas as de Mariana Ximenes, Bruno Gagliasso, Andrea Beltrão, Claudia Abreu, Miguel Falabella, Giovanna Antonelli e Caio Blat]”.

Glamurama: Você contrataria um detetive particular?

Vladimir Brichta: “Ia dizer não, mas é mentira, eu contrataria. Se fosse sobre minha vida íntima, conjugal, jamais apelaria pra isso. Não investigaria traição. Deus me livre e guarde. Se desconfiou a esse ponto é porque já acabou a relação, danou-se.  Mas hoje em dia os detetives particulares trabalham muito para investigar desfalques de empresa… Se eu tivesse um problema trabalhista, contrataria. Para seguir minha mulher e meus filhos, não. Já tem redes sociais que fazem isso, mas eu não sei onde a Adriana [Esteves] vai e não quero saber, a não ser que ela me diga. Se estivesse interessado, tem os paparazzi. Hoje em dia todo mundo é um pouco detetive. Nem me assusto mais quando tiram foto minha na rua. Às vezes saio vestido de um jeito que meus amigos olham e dão risada, mas não ligo de ser fotografado assim. Só parei de tirar meleca em público. É uma onda avassaladora esse interesse pela vida dos outros, mas acredito que como toda onda depois as coisas tomam seu lugar naturalmente, e esse interesse todo passa”.

Glamurama: Você não é nada curioso?

Vladimir Brichta: “Sempre fui uma pessoa observadora, mas curioso não. Agucei um pouco minha atenção com esse personagem. Estou mais atento, essa coisa de ouvir bastante, falar pouco. Mas não é difícil me enganar, não. Se tiver verdade nos olhos, a gente acredita”.

Glamurama: As séries da Globo têm feito bastante sucesso. Acha que podem substituir as novelas no futuro?

Vladimir Brichta: “Ser maior que novela, tomar o lugar da novela, isso não vai acontecer. A gente se inspira nos seriados americanos, por isso estamos conseguindo ter qualidade, mas se alguém quiser fazer uma novela boa vai ter que copiar da gente. É diferente. Mesmo assim, o público tem se interessado cada vez mais pelas séries, sim, então o formato tem ganhado espaço. ‘Cidade Proibida’ é bacana porque volta no tempo, para a década de 50, e mostra costumes que ainda existem, mas que já compreendemos como errado e repelimos, como machismo e racismo. Mostrando como era, alimentamos uma discussão saudável nos dias de hoje. Fora que é uma das séries mais caras da Globo, e o gasto não foi com cachê de ator, e sim com o capricho na direção de arte”.

Glamurama: Mudando para Bozo/ Bingo [foi usado outro nome para evitar processos]: o que o atormentava tanto e alimentava vícios? 

Vladimir Brichta: “Não é um filme pra criança. É a história de um ator que em determinado momento vira palhaço animador de programa infantil, almeja sucesso, reconhecimento e fama, mas não consegue conjugar essas coisas. Consegue o sucesso, mas é do personagem. Fama nenhuma, só a do personagem. E o reconhecimento do patrão não é suficiente. Um drama que poderia ser de qualquer ator. Isso também causa empatia. Palhaço muito alegre e também muito triste e depressivo tem bastante, como Robin Williams, Jim Carey. Altos e baixos, isso é da alma humana, mas o palhaço exagera na alegria, e às vezes também na tristeza. Todo muito quer um reconhecimento. A criança se foi bem na prova, fez um gol, um desenho bonito, vai mostrar para o pai, para ganhar o parabéns. A gente precisa disso, ainda mais hoje em dia, que as pessoas ficam torcendo pelo like na foto. Mas para o ator isso é mais intenso. Músico tem instrumento, pintor tem pincel, mas para o ator a ferramenta é o próprio rosto, o corpo. Então vivemos uma simbiose muito grande com trabalho, arte e artista. Reconhecer a arte sem reconhecer o artista gera uma dor tremenda”.

Glamurama: Isso seria um drama assim tão profundo se acontecesse com você, Vladimir? O fato de as pessoas não saberem quem você é te faria sofrer? 

Vladimir Brichta: “Sim, seria um drama para qualquer ator. Por contrato, ninguém podia saber quem era o intérprete do Bingo [Bozo]. O cara faz um trabalho legal, mas é anônimo. Todo ator, eu, meus colegas, a gente preserva muito a privacidade. Ter a privacidade violada é péssimo, horrível, invasivo, mas por mais que o ator diga que quer privacidade, não quer nunca o anonimato. São coisas distintas. Desafio qualquer ator a dizer que toparia ser o Bingo… ‘Ah, vou ver só esse palhaço pra sempre e ninguém vai saber quem eu sou’. Duvido. Ninguém suportaria. A gente precisa desse reconhecimento, em certa medida. Nao precisa ter a casa invadida, mas quando alguém te para na rua  e diz que adora seu trabalho, quando você vê um semblante de raiva ou chateado em alguém por aí e de repente percebe o semblante da pessoa mudando porque te reconheceu, e ela te diz que se diverte com você, isso tem um poder e gera uma satisfação enorme, algo que dinheiro não paga nunca. A gente não quer anonimato. Eu não suportaria”.

Glamurama: Com o sucesso do “PopStar”, reality em que atores e apresentadores da Globo competem cantando ao vivo, você, que já mostrou que sabe soltar a voz, toparia o desafio? 

Vladimir: “Honestamente não se te responder. Acho o maior barato. Se eu não tivesse comprometido com mais nada, talvez topasse a brincadeira. Hoje, com tudo isso que estou fazendo, diria não, pelo amor de Deus, faz um show e dou uma canja”.

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