A romancista Francine Prose vasculhou a história da vida da excêntrica patrona das artes Peggy Guggenheim para escrever sua biografia. O resultado, lançado há poucos meses, se resume no livro “Peggy Guggenheim: The Shock of the Modern.” Paralelamente (e curiosamente) ao livro, estreou no circuito independente o documentário “Peggy Guggenheim: Art Addict” dirigido por Lisa Immordino Vreeland (confira o trailer abaixo do texto). As razões para tamanho interesse em sua vida são muitas. Abaixo, dez curiosidades que fazem da colecionadora de arte um ícone por completo.
1. Origem
Peggy Guggenheim nasceu em Nova York em 1898 e seguiu os passos de seu tio, o colecionador de arte Solomon R. Guggenheim – fundador do Museu Guggenheim em Nova York. De família judaica, neta de banqueiro e industrial, deu as costas bem jovem para a alta sociedade americana e foi desbravar a Europa, onde viveu a efervescência do cenário artístico na década de 20.
2. Excentricidades
Art addict, infant terrible, ninfomaníaca, estranha, outsider, liberal, tímida, encantadora e um lobo solitário são algumas das características atribuídas a ela. Vivia cercada de uma frota de cães da raça Lhasa Apsos. Dizia que as roupas de Paul Poiret – pioneiro da alta-costura – não eram para ela, pois deixavam seus seios grandes demais. Peggy usava dois brincos diferentes ao mesmo tempo e certa vez quebrou o nariz, sem nunca se preocupar em corrigir.
3. Estilo ornamentado
Enquanto a maioria das mulheres de sua época seguia o estilo pin-up de Marilyn Monrooe, Peggy Guggenheim estava muito mais interessada em outro tipo de aparência, bem menos feminina. Suas marcas registradas eram as joias esculturais criadas pelos artistas Calder e Yves Tanguy, e os óculos de sol criados por Edward Melcarth, na maioria das vezes combinados a vestidos plissados da marca italiana Fortuny – criada em 1919 por Mariano Fortuny -, além de batom vermelho e olhos maquiados no estilo gatinho.
4. Fada madrinha
Sua contribuição para o mundo das artes foi imensa. Foi ela quem financiou o trabalho de Jackson Pollock quando ele ainda não era conhecido – depois de ouvir os conselhos de Mondrian -, assim como o de Alexander Calder, Djuna Barnes e outros. Apesar de ser a mais rica de sua turma e de bancar o trabalho de muitos artistas, tinha consciência de que dinheiro não era ilimitado e ganhou fama de pão dura.
5. Palazzo Venier dei Leoni
Elegeu Veneza como a cidade de sua vida. Dizia que lá se sentia à vontade para usar o que bem entendesse sem parecer ridícula. Foi lá que abriu o museu Palazzo Venier dei Leoni, uma espécie de museu-casa, pois era também onde costumava viver. O espaço foi comprado em 1949 e aberto ao público em 1951. Hoje, recebe milhares de visitantes por ano vindos do mundo todo. www.guggenheim.org
6. Avant-garde
À frente de seu tempo, desempenhou um papel fundamental como intermediária para o sucesso da arte criada em Nova York no âmbito mundial com o expressionismo abstrato, que teve como um de seus mentores os artistas Jackson Pollock, Willem de Kooning e Franz Kline.
7. Vida Amorosa
Enquanto a vida social ia de vento em popa – tinha uma turma ótima de amigos que ia de Elsa Schiaparelli a Marcel Duchamp -, sua vida amorosa era promíscua e conturbada. Casou-se duas vezes, com os artistas Dadaist Laurence Vail, em 1922, e com Max Ernst, em 1941, mas o grande amor de sua vida foi o intelectual inglês John Holms. Dormiu com uma lista extensa de homens, instigantes ou não para ela. Escreveu em 1946 um livro de memórias relatando suas aventuras sexuais.
8. Coleção poderosa
Foi entre 1939 e 1940, em meio à Segunda Guerra Mundial, que Peggy adquiriu a maior parte de sua coleção, mantendo uma promessa de “comprar uma obra por dia”. Entre elas, trabalhos de Francis Picabia, Georges Braque, Salvador Dalí e Piet Mondrian. Sua última aquisição no período foi “Bird in Space”, de Brancusi. Logo em seguida, a França foi ocupada pelos nazistas e ela teve que voltar às pressas para Nova York, contrabandeando sua própria coleção.
9. Curiosidade
Seu pai, Benjamin Guggenheim, morreu durante o trágico acidente do Titanic, em 1912, e é tido como herói por ter prestado ajuda a muitos passageiros a bordo do navio.
10. Ultimas memórias
“Eu olho para trás em minha vida com muito orgulho. Acho que foi uma vida muito bem sucedida. Eu sempre fiz o que quis e nunca tive medo do que alguém pudesse pensar sobre mim. Eu era uma mulher liberal, antes mesmo de haver um nome para isso.” Peggy Guggenheim
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Peggy moreu no dia 23 de dezembro de 1979, aos 81 anos. Suas cinzas foram colocadas em um canto do jardim do museu que fundou em Veneza, no mesmo local onde estão enterrados seus amados cães da raça Lhasa Apso.
Aperte o play e assista ao trailler de “Peggy Guggenheim: Art Addict”.