Sem dúvida uma das maiores notícias da semana, a revelação de que astrônomos encontraram fosfina na atmosfera de Vênus impressionou tanto quanto dividiu opiniões nas redes sociais. Para muitos usuários do Twitter e afins nesses tempos de alta polarização, voltar os olhos para fora da Terra quando nosso planeta vive um momento tão delicado é pura perda de tempo e desperdício de recursos. Mas um dos maiores especialistas do mundo quando o assunto é vida extraterrestre discorda dessa turma.
Em entrevista por e-mail ao Glamurama, o astrônomo americano Seth Shostak classificou a descoberta como “o mesmo que encontrar fezes no deserto”, e portanto um indicativo de que “algo ou alguém esteve lá”. Shostak acredita que isso é razão suficiente para ir atrás de mais informações que nos ajudem a entender como um gás fedorento que por essas bandas terrenas geralmente hospeda vida microbiana foi parar justo no quentíssimo céu venusiano, onde as temperatuas beiram os 500°C.
“Roentgen, Fleming e até mesmo Einstein também tentaram resolver questões para as quais no passado ninguém dava importância e todo mundo torcia o nariz, mas que se tornaram importantíssimas”, Shostak lembrou. “Basta citar os primórdios da mecânica quântica, algo que era visto como completamente supérfluo nos anos 1920. E hoje em dia os nossos smartphones dependem da mecânica quântica para funcionarem”, completou o expert de 77 anos e autor de vários best-sellers.
Shostak é o astrônomo sênior do Instituto SETI (sigla em inglês para Search for Extraterrestrial Intelligence, que significa Busca por Inteligência Extraterrestre), que ajudou a criar em 1984 com o objetivo de bancar pesquisas sobre vida fora da Terra com dinheiro privado, a fim de evitar críticas. “Mas sempre há descontentes, e eles sempre existiram, desde quando Galileo afirmou que a Terra não era o centro do universo”, Shostak disse.
Ciente de que existem muitos problemas urgentes que ainda não têm solução, Shostak argumentou que isso não torna outros temas menos relevantes. “O mais importante pra mim é me manter alimentado e saudável. Mas isso não me impede de ouvir boa música, ou de ler um bom livro. O interesse por essas coisas é o que nos difere dos animais, que não entendem a Teoria da Evolução de Darwin mesmo sendo um produto dela”, ele explicou.
“Saber que a biologia não é um milagre, aprender que o cosmos pode estar cheio de formas de vida… Não são coisas que irão nos ajudar diretamente com nossos problemas, mas como a música poderão nos influenciar a ver tudo de forma diferente e talvez até mais clara”, finalizou Shostak, que em 2012 declarou em uma conferência que aliens muito mais inteligentes do que nós seriam encontrados (ou nos encontrariam) dali a 24 anos, uma aposta que ainda mantém. (Por Anderson Antunes)