Em noite de vernissage da exposição “Made in Brasil”, nessa sexta-feira na Casa Daros, no Rio, Glamurama conversou com três dos artistas com obras por lá: Ernesto Neto, Antônio Dias e Waltercio Caldas. A mostra reúne trabalhos desses e de outros brasileiros pertencentes à Coleção Daros Latinamerica [sediada em Zurique]. Vik Muniz, Cildo Meireles, Milton Machado e José Damasceno também tem peças em exibição, mas não puderam ir. Miguel Rio Branco foi, mas não quis saber de assédios, fotografias, badalações.
Por Michelle Licory
Ernesto Neto
“Humanoides” eu fiz em Colônia [Alemanha], quando ganhei como prêmio uma residência artística lá, em 2001.
Fui com a minha mulher, Lili, e meu filho, Lito, que tinha apenas seis meses quando chegamos. Então a gente estava muito nessa onda de bebê. A escultura estava ficando com esse formato ovaloide, pra ser vestida como um macacão, e eu, vendo o tecido no chão, fiquei pensando de que eu precisava… Achei que essa obra deveria ser como um negativo do corpo. Acabou ficando com cara de feto. E tem feto feminino e masculino. Se você coloca a mão e sai com cheiro de orégano, é menino. Se sai com cheiro de alfazema, é menina”, nos explicou o artista. De acordo com a descrição oficial da mostra, a obra “promove um reencontro com a vivência de gestação, amor, e percepção da organicidade do aconchego, que é deixado de lado em nosso cotidiano acelerado.” Foi o que mais fez sucesso com os espectadores, junto com a instalação “Missões – Como Construir Catedrais” [1987], de Cildo Meireles, inspirada nas sete missões fundadas pelos jesuítas no Paraguai, Argentina e no Sul do Brasil entre 1610 e 1767 – mas, para as crianças que a visitam, parece mais a caixa forte do Tio Patinhas, com 600 mil moedas espalhadas, que podem ser “pisadas” e tocadas.
Waltercio Caldas
“A Coleção Daros adquiriu um exemplar de cada um dos meus livros, que ficam em Zurique. É uma oportunidade até mesmo pra mim vê-los juntos, 22 deles, relacionados como exposição. O primeiro é de 1967 e o último que está aqui é de 2004. Os mais recentes que eles compraram não vieram. Tem três meses que em terminei um. É uma série que não vai acabar nunca.”
Antônio Dias
O artista tem cinco espaços dedicados à obra dele na mostra. São 13 trabalhos, entre instalações, objetos e pinturas dos anos 60, 70, 80 e 90. “São fases diferentes de várias décadas aqui, não tenho como dar uma explicação geral, uma pincelada”, disse Antonio, que não é de muita conversa. O que mais chamou a atenção do público? A escultura “Todas as Cores dos Homens”, de 1995. São vários pênis transparentes e ocos pendurados e divididos em quatro grupos. Cada um desses grupos são preenchidos com um material diferente. “Na época da Anistia, assisti a um criolo, um branco, um meio asiático e um meio índio conversando, e era sobre política. Achei isso ótimo. Passei alguns anos pensando e fiz isso. Que coisa horrível…”
* Em tempo: “Made in Brasil” vai de 21 de março a 9 de agosto, com curadoria de Hans-Michael Herzog e Katrin Steffen. Vem ver aqui embaixo nossa galeria de fotos completa do vernissage.
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