“O erotismo desapareceu”, diz Gaspar Noé, diretor de “Love”, que tem pré-estreia hoje

Gaspar Noé e cena do filme “Love”||Créditos: Divulgação

Visceral deveria ser o nome do meio de Gaspar Noé. O diretor franco-argentino não poupa esforços para fazer os espectadores de seus filmes saírem do cinema com um aperto no peito. Foi assim com “Irreversível”, que fez algumas pessoas deixarem as salas no meio da exibição, “Enter the Void”, “Sozinho Contra Todos” e agora com o pornô cult “Love”. Em 3D, a nova produção foi apresentada em Cannes em maio deste ano cercada de polêmicas. Com direito a sexo explícito e ejaculação “na cara” do público, o filme, segundo o cineasta, tem como objetivo contar a história de amor de Murphy (Karl Glusman) e Electra (Aomi Muyock) , sob uma ótica sexual, bien sûr.

“Love”, assim como os demais títulos de Noé, dividiu opiniões. Houve quem o chamasse de machista e gratuito, e quem disse que o longa é uma egotrip do diretor, já que seu nome é citado duas vezes na trama. O debate ficou ainda mais quente quando o filme recebeu a indicação para 18 anos na França, a pedido do partido da extrema direita. Por aqui, a classificação será a mesma. O filme tem tempero brasileiro: foi produzido pela RT Features, de Rodrigo Teixeira. E ganha pré-estreia à meia-noite deste sábado, na virada de 06/09, mais conhecido como o Dia do Sexo. Data mais que conveniente não há.

Gaspar Noé bateu um papo exclusivo com Glamurama – pelo telefone, de Paris – sobre, claro, amor, sexo, tempo e mais. Confira a entrevista e assista ao trailer abaixo. (Por Mirella Penteado/Verrô Campos)

Glamurama: Por que você decidiu ir tão profundo em assuntos tão viscerais?
Gaspar Noé: “Eu diria que não há nada assim nas motivações do filme. É tudo natural, coisas que acontecem quando dois jovens se apaixonam. É uma descrição mais frontal, eu diria, do amor. O erotismo desapareceu nos últimos anos, está nos museus e galerias de arte. A maioria dos diretores têm se reprimido em mostrar algo que provoque, esse foi o meu desejo, mostrar uma história de paixão e amor. O casal na minha história faz sexo e amor e isso tudo aparece de uma forma real, eles estão atuando, mas eu queria mostrar também a dor de perder alguém que você ama, quando você está viciado já nessa pessoa. Um amigo me contou que teve uma desilusão amorosa e perdeu 5 quilos, é sobre isso o filme.”

Glamurama: O que vem primeiro? Sexo ou amor?
Gaspar Noé:
 “Eu não sei. Antes de fazer sexo com alguém você pode já imaginar que se apaixonaria por esta pessoa. Algumas pessoas ficam viciadas no estado de paixão e não em uma pessoa específica. O cérebro começa a liberar mais serotonina, endorfina, o coração bate mais rápido…”

Glamurama: O sexo muda tudo?
Gaspar Noé: “É, você pode fazer bebês [risos]. Pode se apaixonar sem sexo, o amor platônico pode ser dolorido. Você pode esquecer de você mesmo, se apaixonar faz com que você dê 90% de sua energia para isso. Alguns artistas acham que, se se apaixonarem, eles vão produzir mais, mas aí eles não conseguem pensar em outra coisa, ficam imobilizados.”

Glamurama: Por que a realidade e a nudez são tão chocantes para o público?
Gaspar Noé:
 “Eu não acho que esse filme choque tanto. Nos anos 70 apareceram os filmes eróticos e pornográficos. Os filmes eróticos desapareceram do cinema, se você quer ver nudez vá aos museus e galerias de arte. Acho estranho não colocarem nudez nos filmes hoje, quase todos os jovens de vinte anos têm essa experiência na vida atualmente.”

Glamurama: Você acha que o seu filme pode mudar essa forma de ver das pessoas, essa moralidade?
Gaspar Noé:
 “A gente não muda as pessoas, este filme [“Love”] desencadeou todos os tipos de reação, quando foi mostrado em Cannes houve quem gostou e quem não gostou. Seria muito pretensioso da minha parte achar que o filme poderia mudar a visão das pessoas. O que eu percebi, foi que as mulheres ficaram mais tocadas com o filme, embora o personagem principal fosse um homem. Talvez elas reconheçam no personagem um ex-namorado na vida real, não sei.”

Glamurama: Você ainda acha que o tempo destrói tudo?
Gaspar Noé:
 “O tempo reconstrói tudo. Sem a percepção do tempo, tudo seria pedra.”

Glamurama: O que preenche a sua vida?
Gaspar Noé:
 “Fazer filmes, promovê-los, ir atrás de financiamento para fazer mais filmes, tentar não deixar que a ansiedade me corroa, beber com os amigos para apaziguar a ansiedade, ficar acabado, fazer filmes, promovê-los…”

Aperte o play e assista ao trailer (apenas para maiores de 18 anos).

 

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