Um farol muito providencial

Fiquei quase quatro meses sem minhas aulas de filosofia, desde antes do final do ano passado, quando o professor disse que queria um tempo. Fiquei quase ofendida. Me senti largada. Ele disse que queria repensar o curso, o grupo, sua vida. Além da rejeição propriamente dita, pensei em tudo o que eu poderia fazer para reverter o caso. Comecei a telefonar para ele, devagar, com jeito, até descobrir o que estava havendo, onde estava o desgaste, o problema. Fomos nos acertando e ficou decidido que a gente, eu e o grupo, poderíamos tê-lo de volta em fevereiro. Mas ele queria um novo modelo, com alunos que estivessem de fato interessados no que ele tinha a dizer. Redesenhamos o projeto, fevereiro chegou, mais um adiamento e, ufa, início de março, volta às aulas. Minhas segundas-feiras ficaram muito melhores. Voltei a achar graça nesse dia e, principalmente, na noite, 20h30, quando o professor e os alunos chegam aqui em casa. Tenho trabalhado muito. Posso dizer que ando feliz, contente de verdade: meu projeto de trabalho foi bem além do que imaginei. Tudo vai bem, obrigada. Meus dias são movimentados, falo com muita gente ao telefone, por e-mail, ao vivo. Tenho de tomar muitas decisões que considero importantes, às vezes, difíceis. Chegar em casa num início de semana e saber que junto com um pequeno grupo de privilegiados podemos ter acesso a outro mundo, ao mundo do conhecimento, dos pensadores, das pessoas especiais, isso é muito bom. É importante perceber que tudo o que está aqui, agora, não teria a menor importância se eles, os filósofos, não tivessem questionado e colocado uma luz nas questões de segunda à noite. Sorte mesmo a minha.

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