Não se assuste com a duração de quatro horas da peça “Tragédia Latino-Americana”, de Felipe Hirsch, que estreou nessa quarta-feira no Sesc Consolação, em São Paulo. O espetáculo em dois atos, que é um mergulho na produção literária latino-americana e, consequentemente, na nossa origem e cultura, passa voando. Dedo na ferida, que revela nossa má sorte desde a colonização, como também nossos complexos de inferioridade, a peça não deixa de tratar de assuntos difíceis e trágicos com humor e clima de fanfarra.
“Tive que definir alguns parâmetros: tentei não me focar em ícones como Borges [o argentino Jorge Luis Borges] e Marquez [o colombiano Gabriel García Marquez]. Aí, tem também uma segunda leva de escritores que tentei não focar tanto, que estão sendo encenados, como Macedônio Fernández [Argentina]. Assim, acabei caindo naturalmente nos mais malditos, como Salvador Benestra [também argentino]. Fui beirando este universo de autores que eu amava, que eram clássicos já em seus países, no entanto não eram tão conhecidos. A partir dos ensaios, a gente foi percebendo coisas em comum na escrita da América Latina e foi mexendo em temas como educação, justiça e violência. Agrupando eles e contrastando também”, contou Felipe sobre a seleção para o Glamurama.
Entre os brasileiros, a peça vai de Lima Barreto ao contemporâneo Reinaldo Moraes, este com a impagável “Carta Número 2” de Pero Vaz de Caminha, encenada por Caco Ciocler, que integra o elenco ao lado de Julia Lemmertz, Camila Márdila – a premiada Jéssica de “Que Horas Ela Volta?” – e mais um grupo de atores de peso, incluindo o argentino Javier Drolas – de “Medianeras” – e a chilena Nataly Rocha.
Quem assina a direção de arte e cenário é Daniela Thomas e Felipe Tassara. O figurino – dá vontade de sair com vários dos modelitos usados na peça – é de Veronica Julian e a trilha, original e tocada ao vivo, é de Arthur de Faria. Um dos segredos de Hirsch: estar sempre muito bem acompanhado.
E prepare-se: esta é só a primeira parte, Felipe ainda vai encenar “A Comédia Latino-Americana”. Não vemos a hora.
(Por Verrô Campos)