Tony Ramos está em “Tempo de Amar”, próxima trama das seis da Globo. A história, de época, é bem romântica, como o título já avisa, mas o próprio autor, Alcides Nogueira, disse que terá bastante ação no texto “porque não dá mais pra fazer novela contemplativa”. Fomos perguntar para Tony, um veterano, como ele vê a evolução das novelas através das décadas e quais são os desafios para salvar a audiência em declínio. A resposta? Uma aula.
“Ninguém precisa me contar tudo isso porque eu vivi”
“Honestamente, já passei dos 53 anos em televisão initerruptamente. Fiz TV ao vivo, teleteatro com Cacilda Becker, Fernanda Montenegro, Laura Cardoso… E novela faço desde 1965. Já era o amor impossível, da empregada pelo patrão, do motorista pela milionária, clássicos romances de folhetim, heranças do rádio e da fotonovela das revistas. Veio a ditadura, a censura prévia. Continuaram as histórias de amor. Ninguém precisa me contar tudo isso porque eu vivi. Desde os anos 70 se dizia: novela está com os dias contados. Tenho isso em arquivo, encadernado pela minha mulher. Falavam que era muito água com açúcar. Ao fim da ditadura, com os autores mais livres, tratando de temas mais duros, as pessoas passaram a comentar: essas novelas estão muito fortes, prefiro as de antigamente. Isso é da natureza humana, essa discussão. Vamos ter isso a vida inteira”.
“Não existe fórmula, bateu o martelo e pronto”
E ele continua: “O contemplativo ainda existe, o que mudou foi o tempo da contemplação. Com as multiplataformas, o espectador quer tudo muito mastigado. Fiz uma novela do Gilberto Braga, ‘Paraíso Tropical’, em que eu dizia um monólogo para o meu saudoso Hugo Carvana, falava duas páginas, mas a história vinha se encaminhando com tanta força que aquelas duas páginas voaram. Com o Silvio de Abreu em ‘Rainha da Sucata’, fiz com a Regina Duarte uma cena que começava em um bloco e terminava em outro, depois do comercial. Não existe fórmula, bateu o martelo e pronto. Mudou-se o tempo, o jeito de ver TV, isso é óbvio. Todos nós sabemos. No entanto, ‘A Força do Querer’ já está num patamar com picos de 40 de Ibope, com todas as ofertas que existem de produtos alternativos e TV a cabo. O que isso quer dizer? Uma história bem contada, com começo meio e fim, e com o triângulo amor, paixão e suspense… Se esse triângulo for respeitado, com um bom texto, é impossível alguém não querer acompanhar”.
“Nunca tive um olhar blasé”
“Cito ‘Breaking Bad’, uma trama novelística. Você queria saber se aquele professor ia se dar bem, juntar dinheiro, salvar o filho e morrer em paz… Novela! Só que de outra forma. É teledramaturgia. Novela é homeopática. Eles, os autores, que se virem. Para todo comercial, tem que haver um interesse para o telespectador. Sim, não dá mais pra dizer um poema imenso em uma novela, mas dá pra dizer meia estrofe… A gente tem que entender como é que a gente se mexe, e eu falo com paixão porque adoro fazer novela. Nunca tive um olhar blasé pra ela, que é a maior identidade cultural popular brasileira. Não abro mão disso. Tudo vai mudando, mas uma história bem contada não muda: só a forma que você assiste”. (por Michelle Licory)