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Por Paulo Sampaio 

O show de Gretchen só não fez mais sucesso no The L Club, frequentado por lésbicas, do que o de Valesca Popozuda. (Lembrando que o bumbum da primeira é naturalista, o da outra, vitaminado.) Sócia na casa, que abre todas as sextas-feiras e fica na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, Thammy Miranda, filha de Gretchen, conta: “Minha mãe já se apresentou lá duas vezes. O pessoal adora, chama de sogra, é muito divertido”. O nome do clube é inspirado no seriado americano The L Word, que foi ao ar de 2004 a 2009 e retratava a vida de um grupo de mulheres homossexuais. Ao sair publicamente do armário, em 2006, Thammy deixou de uma hora para outra a imagem de peladona da revista masculina Sexy, na qual havia posado três vezes, em 2001, 2003 e 2005, para vestir-se de homenzinho e fazer declarações impactantes na TV. Era vista em programas como o de Luciana Gimenez, dando depoimento sobre sua experiência supostamente bizarra.

Isso levou muita gente a achar que ela queria apenas se promover; que tentava a todo custo prolongar sua carreira de filha de celebridade. Thammy ri. Diz que, ao contrário, pela primeira vez se mostrava como era “de verdade”. “Interpretei vários personagens e fui infeliz em todos. Dancei nos shows da minha mãe, gravei CD, dei autógrafo na minha foto nua. Achava tudo horrível.” Agora que deixou de representar na vida real, começa na ficção.  Jô, a escrivã com pinta de rapaz que ela interpreta na novela global “Salve Jorge” de Glória Perez, está prestes a virar um mulherão. Vai mudar de identidade para se infiltrar no grupo de moças traficadas para o exterior e escravizadas como garotas de programa, e, assim, desmascarar os cafetões. O capítulo deve ir ao ar depois do dia 20 – Thammy já começou os testes de caracterização.  Jô faz parte do melhor e mais comentado núcleo de “Salve Jorge. “Nunca imaginei que um dia atuaria em uma novela. Quando me chamaram para fazer o teste, achei que não daria em nada. Aí, a Glória me ligou…”

Pessoalmente, Thammy Miranda é muito parecida com a mãe – e isso faz ressaltar ainda mais o contraste entre as duas. É curioso ver a evolução da famosa retaguarda de Gretchen no corpo de uma lésbica estilo mauricinho. Thammy recebe a reportagem dentro de um jeans Diesel com o “cavalo” baixo e cueca à mostra; camisa Sergio K. xadrez azul e preto e chinelão. Usa cabelos curtos umedecidos, penteados para o lado, e costeletas recortadas no capricho. Relojão analógico dourado. “Alguém já postou uma foto da nossa conversa no Instagram”, diz ela, enquanto manuseia o iPhone. A entrevistada só deixa de olhar para o celular quando o amistoso Brasil e Inglaterra começa na TV. Gosta de futebol? Sim. Antes de tentar “ser o que não era”, jogou bola durante três anos no time feminino do São Paulo. “Parei porque ferrei meu joelho”, mostra.

Aos 30 anos, sem profissão definida, ela vai agarrando as oportunidades que o destino coloca no seu caminho.  Apesar de dizer que estava “interpretando um papel” quando dançou com a mãe ou posou nua, ela reconhece que sua crise de identidade não era tão grande que a impedisse de calcular quanto em dinheiro, ou negócios indiretos, aquilo renderia. Uma das edições da revista “Sexy “ que a trazia na capa foi recorde de vendas na época. Logo depois de se assumir publicamente, ela participou de um filme de sexo explícito. Seu personagem era o da “diretora”. “É a única coisa que me arrependo.” No momento, aproveita a exposição na novela para lançar uma linha de cuecas com seu nome. “É underwear masculino para homens e mulheres.”

 Sai, satanás!

 Pela parte da mãe, Thammy é a mais velha de seis filhos; pela do pai, o policial civil Silva Neto, é só ela. Nascida em São Paulo, conta que viveu em várias cidades do Brasil e nunca foi boa aluna na escola. Se valeu de uma lei que contempla filhos de artistas itinerantes (6.533/78); diz que, graças a isso, pode ir “empurrando os estudos com a barriga”. “Eles (escolas públicas) são obrigados a reservar vagas para essas crianças e a relevar suas faltas”, diz.  Thammy solta uma risada meio cafajeste, meio infantil, ao contar que aproveitou a deixa da lei para matar muita aula. “Dei vários perdidos em casa. Terminei o colegial a pulso.” Quando estava com 16 anos, sua mãe soube que ela gostava de meninas. Descobriu numa mensagem de texto que Thammy trocou com a primeira namorada. Famosa pela imagem de rainha do bumbum, um clássico bagaceiro, Gretchen perdeu o rebolado. “Minha mãe teve um chilique, me bateu e me levou a um pastor para ele me exorcizar. O pastor me sacudiu de um lado para o outro e, no fim, perguntou meu nome. Eu disse: ‘Thammy’”, conta ela, que tem fé em Deus, mas não é evangélica, como a mãe. Na ocasião, Gretchen ligou para o pai da menina, exigindo que tomasse uma atitude. A reação do policial Silva Neto: “Minha filha gosta de mulher? Ótimo. Sinal que sabe o que é bom na vida. “Eu também adoro”. Ele reitera o momento de sabedoria.

A julgar pelos shows que apresentou no club “temático” de Thammy, Gretchen superou o trauma. Mas, em 2010, não foi ao casamento da filha com a atriz Janaína Cinci. Segundo o “noivo”, ela não aprovava a “noiva” (o casal ficou três anos junto; após o casamento, apenas três meses). Mãe e filha, de qualquer jeito, não parecem melhores amigas. A reportagem tentou entrar em contato com Gretchen, mas Thammy não se mostrou muito animada para ajudar. Hoje, a rainha do bumbum mora em Portugal com os outros cinco filhos – a mais nova, de 2 anos, é adotiva. Por sua vez, Thamy conta que sempre quis ter um filho aos 30. A idade chegou, em setembro, mas faltou a mãe. “Quero que minha namorada engravide, não eu”, diz ela, que no momento está solteira.

Quem conhece Thammy de perto, e observa que ela faz questão de envergar o tipo “machinho”, não resiste à tentação de entender como é que a filha de um símbolo sexual vira lésbica. Será que foi o jeito que ela encontrou de aparecer mais que a mãe, ou, pelo menos, de não sumir à sombra do rebolado dela? O anonimato pode ser visto como sinônimo de fracasso para alguém que convive indiretamente com a fama desde que nasceu. A filha transexual da cantora-montagem Cher, Chastity, ficou quase tão famosa quanto a mãe quando se tornou um rapagão com barba e bigode e passou a atender pelo nome de Chaz Bono. Não que tenha sido consciente, mas… Bem, o debate sobre o tema com Thammy termina antes de começar. Ela não é de psicologismos. “Eu nasci assim”, acredita. No máximo, reconhece que sua mãe gostaria, sim, de ter alguém que fosse “a continuação dela”.

 Mocinho da história

 O relacionamento mais longo de Thammy durou cinco anos. Ela diz que prefere mulheres femininas e, pelos exemplos que mostra no celular, do tipo gostosona. Orgulhosa, exibe uma foto de sua ex. Loira, bronzeada, vestido branco superdecotado, a moça é meio… Gretchen! Embora deixe claro que é “o mocinho da história”, Thammy garante que prefere ser abordada pela pretendente. Se não for assim, “não acontece nada”.  No decorrer da entrevista, porém, se revela bem saidinha. Quando alguém comenta que tem amigas “reclamando da falta de mulher no mercado”, ela pergunta: “São bonitas? Passa o meu telefone”.

 O apartamento em que Thammy mora, um quarto e sala na Aclimação, na região central de São Paulo, pertence ao pai – mas a decoração é dela. Algo na linha “vintage sem querer”. Na parede da sala de tábuas corridas, acima do sofazinho preto, há três pôsteres verticais com fotos em preto e branco da Torre Eiffel, do Big Ben e da Broadway. Cada pôster tem apenas um detalhe em cor. No da Torre Eiffel, por exemplo, é um Citroën 2 Chevaux vermelho. Na parede em frente, abaixo da TV, está um móvel claro formado por cubos vazados e salteados. Ali, o objeto mais emblemático é um vaso de metal que abriga um ramo de orquídeas de plástico. Tem também uma pequena esfera vermelha; um gatinho chinês e uma estátua de São Jorge. Ao lado do móvel, destaca-se uma estrutura comprida de vidro com ramos altos de erva-cidreira. “Isso aí é decoração. Minha ex que fez”, diz, meio rústica.

Apesar do histórico movimentado, Thammy Miranda não parece disposta a romanceá-lo. Ao contar as passagens mais incríveis de sua vida, em vez de valorizá-las pelo ineditismo, ela se mostra surpresa com “a cabeça do ser humano”. Certa vez, no programa de Luciana Gimenez, ela teve contato com “um rapaz que era moça”. Tinha feito a cirurgia de mudança de sexo. Apesar do complicado procedimento, “ele acabou decidindo que queria mesmo era transar com homens”. “Existe tanta gente doida, né?”, conclui ela. Ô!

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