Taís Araújo, capa e recheio da J.P de fevereiro, dispara: “Galanteio é galanteio, assédio é assédio”

Taís Araújo posa para as lentes de Daniel Klajmic com beleza de Alê De Souza || Créditos: Daniel Klajmic / Revista JP

Realizada como mulher, mãe e esposa, Taís Araújo rejeita o rótulo de estrela. Conta que trabalha de segunda a segunda e que está precisando tirar o pé do acelerador. “Tô querendo férias na Tailândia, sabe?”

Por Thayana Nunes para a revista J.P de fevereiro

Há quase três anos, quando chegava para a estreia de “O Topo da Montanha”, peça que mudaria de vez sua carreira, Taís Araújo ouviu um “divaaaaa!” vindo de um fã. O ano era 2015 e o teatro, o Faap, em São Paulo. Naquele momento, a atriz, que continua zero deslumbrada, logo disse: “Diva? Eu?!!!. Você não sabe como foi minha vida hoje: levantei às seis horas da manhã, gravei durante o dia todo, cheguei correndo para não perder o horá¬rio…”. Isso pode parecer mentira na boca de outras atrizes – mas não na de Taís Araújo. Aliás, não dá para duvidar de nada do que vem dela: ela fala com tanta convicção e há tanta paixão em seu discurso que fica impossível pensar que está fazendo cena. Interpretar só no trabalho. Na vida real, Taís é de carne e osso – como você, eu e seu vizinho. Esta é sua quarta capa na J.P e, não à toa, foi nossa primeira.

Para este ensaio, que foi fotografado em um domingo de manhã, ela veio direto do Rio, onde está gravando Mister Brau e ensaiando O Topo, que entrou novamente em cartaz. No estúdio, se sentiu em casa: Daniel Klajmic, o fotógrafo, é amigo de longa data, e ela adorou a ideia de posar para nosso baile de Carnaval chic. A gente quer mostrar Taís como ela é: nossa garota dourada, a número 1. Ela ri, se diverte usando uma capa de seda desenhada por Clodovil – o próprio. E brilha! Mas eis que digo a palavra “estrela” no início do nosso papo e ela logo me puxa de volta para a realidade. “Eu acho engraçadíssimo você me chamar assim. Para mim, ser estrela é ter 50 pessoas servindo você! E não é nada disso, já que sou só uma das peças desse jogo: a que está na frente das câmeras. Não me encaixo nesse rótulo”, diz, e solta um sorrisão largo, que vai se repetir durante todo o nosso encontro.

Taís Araújo || Créditos: Daniel Klajmic / Revista JP

Ok, Taís, se você está dizendo… Mas, não tem jeito, porque é exatamente assim, diante de uma estrela, que a gente se sente quando está cara a cara com ela. Afinal, são mais de duas décadas de uma carreira sólida e cheia de conquistas. E, fora televisão, cinema e teatro, Taís está sempre liderando pesquisas e todos os tipos de ranking que a mídia adora inventar: a primeira atriz negra a ser protagonista de uma novela; a mulher mais admirada pelos jovens do Brasil; uma das 100 afrodescendentes mais influentes do mundo. Isso só para falar dos mais recentes, já que em 2009, quando fez sua segunda capa por aqui, ela ia de musa das classes C e D à primeira opção dos publicitários quando o assunto era mercado de luxo.

Nos últimos anos, a dedicação está em Mister Brau, que chega à quarta temporada como um dos programas de mais sucesso da televisão brasileira, além da peça O Topo da Montanha, que já levou mais de 120 mil pessoas ao teatro. Ambos ao lado de seu marido, Lázaro Ramos. É tanto assunto… Mas, antes de continuar, o assessor pede para maneirar nas perguntas relacionadas a ativismo, já que, ano passado, esse tema parece ter colado nela. Ainda mais depois do TEDx, divulgado em novembro. “No Brasil, a cor do meu filho é a cor que faz com que as pessoas mudem de calçada, escondam suas bolsas e blindem seus carros”, dizia ela, em um dos trechos de sua apresentação que repercutiu no país inteiro.

Tento então perguntar sobre cuidados com a beleza – “nunca fiz nada no rosto, só no corpo” –, compras? – “não sou consumista, sabe por quê? Tenho acesso a tanta coisa no meu trabalho que não preciso ter em casa”. Então, contorno o pedido do assessor e peço a opinião dela sobre temas atuais, como o assédio sexual que vem bombardeando Hollywood, o papel da arte na vida das pessoas… Sorry, Taís, mas o que você fala importa muito e você entrou, sim, para o rol de divas e de estrelas do Brasil e do mundo. Ela discorda de novo: “Eu não sei dar opinião. Acho que, com o Saia Justa [ela deixou a atração no GNT no fim do ano passado], descobri que quero saber mais do que falar. Não sei nada de uma porrada de coisas e estar em um lugar onde você tem que dizer obrigatoriamente o que acha é superdifícil”. Então, tá. Mas que ela é cheia de opinião, isso ela é. E a gente adora.

Uma coisa é uma coisa
“Galanteio é galanteio, assédio é assédio. Acho que não tem nem que polemizar. Eu nunca sofri assédio, comigo acontece abuso o tempo inteiro. Este ano, por exemplo, deixei o Lázaro numa rua no Leblon, estacionei o carro e fui andando para encontrá-lo. Passei em frente a um restaurante e um cara colocou a mão na minha frente e disse: ‘Taís, senta aqui!’, falando alto e mandando em mim. Se ele fez comigo, imagina o que não faz com quem não é conhecido? Não acho que o cara tem que chamar a mulher de gostosa na rua. Acho isso superagressivo.”

Taís Araújo || Créditos: Daniel Klajmic / Revista JP

Espelho, espelho meu  
“Este ano faço 40 anos. Vou escrever um livro. Não tenho medo da velhice, e nunca quis fazer nada no rosto. Sei que tenho cara de bem mais nova, mas quero personagens mais maduros para colocar minha vivência neles. Não dá para ficar fazendo a novinha o tempo inteiro. Acho que a parada é essa: todo mundo tem que ter oportunidade, sabe? Não dá para ficar focada numa única pessoa. Erika Januza, por exemplo, está acontecendo.”

A voz do povo
“O sucesso do Mister Brau tem a ver com muitas coisas: ser uma comédia e discutir temas pesados de maneira leve e um elenco de peso. E tem também a questão estética, as pessoas se identificam com o visual dos personagens. Ali, a arte imita a vida. Tive certeza disso quando pedimos aos figurantes para irem gravar vestindo as próprias roupas: eles chegavam maravilhosos! De onde? De Madureira! A arte tem que passar uma mensagem, nem que seja uma mensagem puramente estética. Por muito tempo quem falava o que era bom ou não era a elite. Hoje, isso mudou, se ampliou. Quando alguém fala: ‘Essa música é ruim’. Eu digo, é ruim para você, porque esse cara arrasta 80 mil pessoas para um show. Estamos numa fase de nos ressocializar. De aprender a viver em sociedade.”

Do lado de cá
“Na quarta temporada, Michele, que ficava nos bastidores e era dançarina, vem brilhando e vira uma estrela mundialmente conhecida, enquanto Brau entra em uma crise artística. Com o Lázaro e a Taís isso não rola. Nossas carreiras foram muito prós¬peras e separadas. Claro que nos últimos três anos a gente teve um salto grande, deu uma virada. Só que calhou da gente virar junto.”

 

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