Uma das grandes tendências modernas é aliar sempre que possível o esporte ao prazer. O contato com a natureza, muitas vezes deixado de lado nas grandes cidades, volta com tudo nas na corrida de aventura e de montanha. A modalidade ganha cada vez mais adeptos, como explica o maratonista Marcelo Sinoca, 26. O paulista ficou em primeiro lugar na Jungle Marathon, corrida de 256 km na Amazônia com duração de seis dias, a uma temperatura acima dos 40 graus, entre rios, mosquitos, chuva, sem cama, sem banho e se alimentando somente com o que tiver na mochila. Confira a entrevista!
Como você começou na corrida de aventura?
Cresci no mato. Nasci em Cotia e dos 13 ao 18 sempre pesquei, cacei,tive muito contato com a natureza. Aos 18 entrei para o exército, onde despertou a minha vontade de competir. Em 2011 a North Face me convidou pra fazer parte do time deles e desde então me dedico a isso. Não tem terapia melhor que essa, você sai da prova com outra cabeça.
Quais foram as maiores dificuldades na Jungle Marathon?
O mais difícil na maratona é manter um ritmo bom, porque na Amazônia tem subidas extremamente íngremes. Outra dificuldade é a temperatura, a região é muito úmida e chegava a fazer 42 graus durante o dia todo. Depois de três minutos de corrida já estava completamente molhado. Fora que a gente tinha que atravessar rios, com cordas ou a nado. Na região dos Tapajós tem muitos rios.
O que você leva na mochila?
Minha mochila foi muito bem montada, acho que isso me ajudou a vencer. Levei só coisas leves, de alta tecnologia. Levei uma rede que comprei na Suíça que pesa 650g, ao invés da brasileira, que pesa 1,5K. Levei uma meia de um tecido que fica sempre seco e muita vaselina sólida nos pés, para não criar bolhas. Como a gente só pode comer o que levar na mochila, procurei levar alimentos ricos em nutrientes. Comia alimentos desidratados, você coloca na água quente e está pronto pra consumo.
Onde você dormia?
Dormi todos os dias em rede. Nunca tinha dormido antes, mas deu pra descansar bem. Eu chegava tão cansado que dormia direto. E na Amazônia, rede é como cama, todo mundo dorme nela.
E para tomar banho?
Não vai me achar porco, mas eu usei a mesma roupa todos os dias. Só trocava a meia. Três dias dormimos em um lugar ao lado de um rio, então deu para tomar banho. Mas tinha que ser rapidinho, porque tinha muita raia nos rios.
Como são as pessoas da Amazônia? O que achou de lá?
Achei muito acolhedores e hospitaleiros. Se fosse permitido, eles fariam massagem, ofereciam comida, mas como é proibido pelo regulamento, eles davam só uma ajuda moral. A Amazônia é muito Brasil, é impressionante. Vi árvores enormes que nunca tinha visto na vida. Todo brasileiro deveria conhecer.
Quais são os primeiros passos para quem quer se aventurar em trilhas?
O primeiro passo é começar com distâncias curtas. Comece caminhando, depois passe para o trote e depois sim é que você pode começar a correr. O calçado também é muito importante, o tênis de trilha é muito diferente e do tênis de asfalto. Outra dica é procurar ir com alguém que entende para dar uma motivada e para ajudar a você não ter lesões, já que o risco de lesões na trilha é muito maior que no asfalto.
Onde praticar a corrida de aventura?
Em São Paulo tem o parque do Ibirapuera (Ibirapuera), o parque Alfredo Volpi (Cidade Jardim), o Pico do Jaraguá (zona oeste), o parque Anhanguera (rodovia Anhanguera), o Núcleo da Pedra Grande (Água Branca) e o parque Cemucan (Raposo Tavares). No Rio já é muito mais fácil, tem vários, mas o melhor é correr na Floresta da Tijuca (zona oeste). Em Belo Horizonte tem um dos melhores lugares que já corri, que é a Lapinha da Serra, na serra do Cipó.
Para chegar a Jungle Marathon, assim como você, o que é preciso?
Pro atleta ir para a Jungle tem que ter uma certa bagagem em outras provas, pois é uma prova muito específica e com muitos desafios. O legal é primeiro começar por provas de longa distancia de um dia e ir aumentando aos poucos, até chegar ao ponto de competir em provas de estágios.
Por que as pessoas estão deixando o asfalto de lado?
Todo sábado eu levava meu grupo de alunos (da assessoria esportiva da North Face Running Club) para correr na USP, mas fui percebendo que era muito melhor leva-los para trilha; está fazendo muita diferença. A grande tendência da corrida é a migração da corrida de rua para a corrida de trilha. Corrida de asfalto tem toda a semana, mas é sempre o mesmo percurso. Correr em trilha é muito mais atrativo. Na trilha você descansa, caminha, passa por cachoeiras, praias. É também um momento de reflexão e as paisagens ajudam você a ir sempre mais longe.
Serviço:
North Face Running Club – Grupos de corrida
e-mail: contato@thenorthfacerunningclub.com.br
Tel: (11) – 3031-5059