Sucesso em “Verão 90”, Dandara Mariana engata novos trabalhos e afirma: “Ser artista, na atual conjuntura, é resistir”

Dandara Mariana || Foto: Nana Moraes

Dandara Mariana || Foto: Nana Moraes

Ela veio para ficar! Aos 31 anos, a carioca da gema Dandara Mariana canta, dança, atua e tem ganhado cada vez mais espaço na dramaturgia brasileira. A atriz, que está no ar em ‘Verão 90’, colhe os frutos da personagem baiana – que leva seu nome da vida real. É só tocar o refrão “Preta, fala pra mim”, lambada de Beto Barbosa, que o público já sabe que é hora de sua personagem arrasar nas telinhas. Dandara conversou com Glamurama e contou sobre os movimentos de sua personagem na reta final da novela, empoderamento feminino negro e a influência artística que vem de berço: seu pai é Romeu Evaristo, que interpretou o Saci do “Sítio do Picapau Amarelo” nas décadas de 1970 e 1980. Vem conferir! (por Luzara Pinho)

Glamurama: A Dandara é uma personagem que chama atenção pela determinação, empoderamento, faz o que quer e explora vários aspectos artísticos. Como esse papel influencia as pessoas, especialmente as mulheres negras?

Dandara Mariana: Fico emocionada por estar ajudando as pessoas de alguma forma com o meu trabalho. Uma garota negra, que raramente se vê como padrão “oficial” de beleza, vai poder olhar para minha foto, ver uma cena na qual eu estou e se identificar. Minha maior alegria é saber que nós, mulheres negras, estamos conquistando o nosso lugar, com muito amor. Mas também, se tiver que partir pra briga, a gente parte, né?

Glamurama: Fora da novela, você está engajada em alguma causa de empoderamento feminino negro?

Dandara Mariana: Como artista é sempre importante levantar debates e questionamentos sobre o mundo. Foram anos de massacre, injustiças e uma série de coisas em relação aos negros, além, é claro, da questão do feminismo. A gente precisa lutar para que a população negra tenha educação e escolaridade. Nós somos a base da pirâmide e estamos nos trabalhos subalternos. Já sofri preconceito. Qual negro nunca passou por isso? Dentro de shopping, já vi segurança seguindo eu e meu irmão quando éramos menores, por exemplo. Essas coisas a gente carrega para vida e mexe com a autoestima. Nossa luta deve ser diária, não devemos nos calar contra as injustiças e preconceitos raciais e sexistas. O mundo está mudando, e isso não tem volta!

Glamurama: Na novela, você une dois trabalhos de que gosta muito: atuar e dançar. Como tem sido essa experiência?

Dandara Mariana: A repercussão tem sido muito boa, a personagem é carismática e o público se identificou. O nome dela é o mesmo que o meu e isso não é à toa, pois me sinto uma mulher corajosa e Dandara é uma garota potente que traz em sua fala e atitudes os anseios numa época em que as mulheres eram só as “gostosas” ou os “objetos sexuais”. Dandara Brasil, apesar de estar fadada a isso, tem posicionamento, é uma militante de sua época. Quanto a experiência da dança, não conhecia a lambada. Fiz aulas e frequentei bailes para me familiarizar com o ritmo. Por ser muito acelerado, é difícil de acompanhar, mas rapidamente me tornei uma lambadeira (risos).

Glamurama: Você mostrou que canta bem em ‘Verão 90’. Sempre curtiu cantar? Já cantou em algum outro trabalho?

Dandara Mariana: Sempre gostei! Na adolescência montei com as amigas um grupo cover das “Spice Girls”, era muito fã da Melanie Brown. Meu pai me incentivava tanto… era quem acompanhava o grupo como iluminador das nossas apresentações. Já cantei antes da novela, fiz vários outros papéis que me exigiram o canto, como os musicais “Orfeu da Conceição”, “O Bem do Mar – Dorival Caymmi” e “Garrincha”. Mais recentemente, no final de 2018, interpretei a sambista carioca Dona Ivone Lara na fase jovem no musical “Dona Ivone Lara – Um Sorriso Negro (O Musical)”, que volta agora em cartaz em São Paulo com o fim das gravações da novela.

Glamurama: Sabe definir qual arte – canto, dança ou interpretação – te encanta mais?

Dandara Mariana: Não, eu me completo fazendo tudo. Amo atuar, estar em cima do palco, emprestando minha voz para as músicas e meu corpo para a dança. Me sinto mais viva, mais feliz fazendo todas as possibilidades de arte que puder.

Glamurama: Você cresceu no cenário artístico tendo como referência seu pai, Romeu Evaristo, que viveu o icônico Saci Pererê em “O Sítio do Picapau Amarelo”. Tem alguma lembrança dessa época?

Dandara Mariana: É um barato o que essa novela propõe, recordar uma fase tão linda das nossas vidas. Eu era pequena e acho lindo falar do meu pai, que fez parte de uma geração, que está na memória das pessoas com um personagem, um ícone. Só tenho orgulho.

Glamurama: Como foi a decisão de seguir a carreira artística?

Dandara Mariana: Quando terminei a escola, fui fazer arquitetura. Mas logo percebi que tinha feito a escolha errada. Sou amiga de Lázaro Ramos e Taís Araújo, um certo dia Lazinho me chamou para uma participação no programa “As Aventuras de Parabólico”, no Canal Brasil, que era dirigido por ele. Ali tive a certeza do que queria: artes cênicas e tive total apoio da minha família. Há 12 anos, escolhi a arte como profissão e, desde então, tenho oportunidades maravilhosas e desafiadoras. Ser artista, na atual conjuntura, é resistir.

Glamurama: E os próximos projetos? Algo engatilhado para depois da novela?

Dandara Mariana: No segundo semestre, está prevista a estreia do longa “Cidade do Medo”, com direção de Caio Cobra. Vivo uma assistente social e o filme vai retratar o início da tentativa de pacificação das favelas cariocas com a entrada das UPPs. É maravilhoso poder, com a arte, contribuir para uma reflexão política. Espero que o filme gere bastante debate. É de extrema importância reavaliarmos as políticas públicas e a ação policial nas comunidades.

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